domingo, 19 de maio de 2013


CINQUENTA E NOVE ANOS

Nos últimos 3 anos sempre que completo mais um ciclo de vida de 12 meses, tenho feito uma reflexão sobre minha vida e compartilhado com alguns de vocês.  Talvez não devesse compartilhar, mas, talvez, eu não devesse fazer tanta coisa que fiz.

Considero essa data ideal para uma pessoa fazer esse tipo de reflexão. Chega um tempo que fazer aniversário não é só cantar parabéns e comer bolo.

Caçador de mim na Terra da Ilusão, completo mais um período de 12 meses. São agora 59 anos na estrada dessa vida, que se somam aos milhares ou milhões de anos de vidas anteriores os quais não me recordo. E mesmo, considerando que o tempo e o espaço também fazem parte dessa ilusão, me pergunto se esse tempo está passando rápido ou lento demais. Sinto ou percebo esse tempo passando muito devagar, principalmente se não se sabe mais aonde chegar. Sim, meus amigos, perdi o rumo ou talvez em tempos outrora não estivesse preocupado ou consciente de um rumo.

Não há lamentações, nem queixas ou reclamações, não há culpados, muito menos o mundo, tudo deve ter acontecido conforme escolhi, mesmo não tendo consciência da importância e das conseqüências dessas escolhas. Mas prefiro fazer essa afirmação honesta do que cair na “vala comum” da hipocrisia, da mentira e da falsa felicidade, de mostrar algo que não sou.

Acredito que já alguns anos atrás chegou pra mim o “Tempo de  Absoluta Depuração” que fala o poeta Drummond no seu poema “Os Ombros Suportam o Mundo”. Sim, há um tempo em que não se diz mais “meu Deus!” e que “o amor se resultou inútil”. Talvez esse tempo nunca chegue para você, mas se chegar, não se desespere, pois a Depuração é dolorida, mas não é o fim, e, antes disso, um despertar. Todo despertar é dolorido, pois é uma luta contra nosso principal inimigo, o ego, e é uma luta diária, sem tréguas. Não quero dizer com isso que o amor é inútil. O amor nunca é inútil, mas o amor também nunca salva, e parece que ninguém tem uma idéia melhor do que amar.

A minha tristeza e melancolia não é fruto de problemas ou frustrações pessoais por não ter possuído ou conquistado algo, um desejo, uma desilusão amorosa, não, antes fosse, pois seria uma cura mais fácil. Essa tristeza e melancolia é cósmica, é universal, é da alma, é uma tristeza por pertencer a algo que não tem objetivo, não tem sentido. Se você não sabe quem você é, de onde vem, o que está fazendo aqui e para onde vai, você fica perdido, sem rumo, sem metas, sem razão para viver. De nada me serve hoje os velhos e suados chavões religiosos. Se o cristianismo ou qualquer outra religião ou crença tivesse respostas o mundo não estaria dessa maneira tão desumano, tão violento. Religiões são coisas do homem para dominar os homens, não tem nada de divino nisso, é poder e dinheiro. Sempre foi assim, antes ou depois de Jesus Cristo, que não tem nada a ver com isso. Livros de auto-ajuda? A única ajuda que vejo nesses livros é enriquecer as editoras e seus autores. Não preciso de livros de auto-ajuda, mas é provável que esses livros precisem de mim.

Sou hoje um homem triste e orgulhoso, antes eu era apenas orgulhoso. Mas antes o circo e o pão me distraiam e jogavam uma cortina de fumaça onde eu não enxergava nem sombras dessa realidade em que vivemos, seres habitantes da superfície desse planeta chamado Terra, adormecidos desde Adão - que nunca despertou. Somos uma civilização de robôs, automatizados, consumistas e manipulados.

Mas aconteceu alguma coisa a mais nesses 59 anos que me fez perder a esperança nesse país. Carioca de nascença e  sempre tendo vivido no Rio de Janeiro na época da Jovem Guarda e da Bossa Nova, uma época romântica, criativa, musical e poética, tenho que conviver hoje com o funk, Mr. Catra, Lec Lec e todas essas coisas que não sei como definir ou explicar, isso tudo sem falar na degradação dos meus valores mais importantes. Eu não vivo do passado, mas o passado vive em mim. Nada explica ou consola.

“Falhei a tudo, mas sem galhardias,
Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi nas urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.” – F.Pessoa

Eu até que ousei e fiz poeta, mas devo ter feito e ousado errado. Mas não importa, talvez haja alguns anos ainda pela frente e esse mundo me parece cheio de possibilidades, quem sabe um dia desses a gente encontra de novo essa tal felicidade. Quem sabe eu volte a ser inocente ou ignorante o suficiente para ser feliz.

“Durmo. Regresso ou espero?
Não sei. Um outro flui
Entre o que sou e o que quero
Entre o que sou e o que fui”

Não quero falar em políticos, nesse país “vendido”, pois apesar de nascido e sempre vivido aqui, me sinto um cidadão sem pátria. Não sou um brasileiro, sou um ser humano. Ou penso que ainda sou. Antes de ter nascido nesse país eu nasci num planeta chamado Terra. Minha visão e missão é cósmica não é patriótica.

“Não, não o mundo não me agrada.
A maioria das pessoas estão mortas
e não sabem, ou estão vivas com
charlatanismo. E o amor, em vez de dar,
exige. E quem gosta de nós quer que sejamos
alguma coisa de que eles precisam.
Mentir dá remorso. E não mentir é um dom
Que o mundo  não merece” – Clarice Lispector

Ainda bem que descobri a poesia, ela tem me ajudado a suportar a vida. Tem me ajudado a tampar esse buraco no meu coração e cicatrizado minhas feridas.

Há pessoas que ter saúde e não passar fome já é o suficiente e já se dão por satisfeitas. Agradeço por ter saúde e por não ter passado fome, mas tenho um pouco mais de ambição, não tanto assim, mas o suficiente para uma vida de paz e tranqüilidade econômica e financeira.

Mas hoje é um dia de alegrias para mim, esqueçamos tudo isso e vamos voltar aqui, ao que realmente interessa.

Tenho quase todos os sonhos do mundo. E os sonhos que não tenho, nunca tive vontade de ter.

Obrigado pela amizade e carinho de vocês, isso é muito importante.

Obrigado aos meus dois filhos, Bruno e Natalia, minhas Duas Maiores Vitórias na vida.

Obrigado a minha mãe que ainda vive e a meu pai que nos deixou há cerca de três anos e meio. Muito obrigado pelo exemplo de honradez, honestidade e caráter.

Obrigado as pessoas que estão junto a mim e gostam ou me amam de alguma forma. Que convivem no meu dia a dia e suportam meus piores defeitos e/ou erros.

Obrigado a vocês todos amigos virtuais ou não que suportam silenciosamente e respeitosamente os meus e-mails, meus escritos e meus supostos poemas.

Obrigado ao meu único amor passional que sempre terá seu nome oculto. Obrigado pela oportunidade única de ter  me possibilitado conhecer aquele sentimento que chamam por aqui de amor. Algo parecido, talvez, com uma espécie ou idéia de "Alma Gêmea". 

Obrigado e desculpe-me aquelas mulheres que me amaram mas que não pude corresponder da mesma forma, maneira e intensidade.

Perdão a todos que se sentiram ofendidos e atacados por algum dos meus atos, atitudes ou pensamentos.

E por último, obrigado ao Espírito Santo por ser minha Força e    meu Entendimento. Por unir-se a mim e me dá certeza de onde vou.

Obrigado !

© Paulo Cesar de Oliveira
19-05-2013