Gostaria
de dizer para vocês que ao contrário dos hipócritas e dos moralistas sou uma
pessoa muito julgadora, julgo a todo momento. Acredito que tenho julgado desde
as primeiras horas quando abri os olhos naquela maternidade no centro da cidade
do Rio de Janeiro em maio de 1954. Ali, naquele momento e naquele lugar iniciei
minha história de julgamentos que continua até hoje. São 58 anos de julgamentos,
só nessa vida.
E
não parei mais de julgar. Fui crescendo e julgando. A cada momento me vi numa
situação que precisava fazer escolhas e tomar decisões e para fazer isso eu
precisava do meu juízo. Nesse momento agora, por exemplo, em que escrevo essas
palavras e esse sincero depoimento, estou julgando vocês destinatários e
leitores dessa mensagem. Estou julgando que vocês são capazes de compreender o
que vos digo.Isso também é um julgamento.
Nos
meus julgamentos muitas vezes me engano, outras vezes acerto; algumas vezes sou
justo, outras sou injusto. Às vezes sou bom, outras sou mau. Às vezes revejo
meu julgamento, outras vezes insisto. Em resumo, não é fácil essa vida de
julgador.
Quando
leio essas frases prontas como bulas de remédio de gente falando sobre o não
julgamento ou, quando ouço ou leio os “ucemistas” falando sobre o fato deles
não julgarem ninguém, fico triste e alegre ao mesmo tempo; fico com inveja
deles, ao mesmo tempo em que sinto orgulho de mim. E fico imaginando: “que
planeta bom e bonito que essas pessoas vivem, onde não há necessidade de julgar
nada nem ninguém”.
Mas
eu tenho uma dúvida. Me ajudem nessa, por favor. Quando uma pessoa diz para a
outra que ela é julgadora, define o outro como fazendo um julgamento, essa
pessoa não estaria ela, naquele exato momento, fazendo também um julgamento?
Tenho pensado nisso.
A
minha mente julgadora, quiçá todas as mentes julgadoras iguais a minha,
funcionam assim: você observa, analisa, julga, decide e escolhe. Por isso,
minha amiga, meu amigo, eu não fico nem um pouco incomodado se você, julgadora
ou julgador como eu, me julga um julgador ou julga meus poemas como se realmente
fosse eu. Só eu sei como é difícil a vida de um julgador. Só eu sei como é
difícil e ao mesmo tempo maravilhoso ser o que sou. Estar cercado de gente por
todos os lados e estar sozinho num mundo estranho de onde você não sabe de onde
veio, para onde vai e o que está fazendo aqui.
Só
julgando mesmo.
Quando
eu te amei e me enganei, eu também estava julgando. Estava julgando a minha
capacidade de amar. Estava julgando que te amava. Estava julgando que você me
amava. Estava julgando o próprio amor...Que pretensão minha, não é mesmo.
E
mesmo hoje, quando alguns anos já se passaram e mesmo assim ainda acordo na
madrugada pensando em você, julgo que a paixão talvez não seja amor, mas também
pode ser. Mas pode ser apenas mais uma doença que mesmo curada, ainda não foi extinta.
E julgo então que um
JULGADOR pode ser ao mesmo tempo um POETA, um APAIXONADO, um DOENTE ou apenas mais um LOUCO.
Mas nunca poderá ser um hipócrita mentiroso. Porque o coração não mente.
(Esse
texto fiz pensando em você cujo nome não pode ser revelado. Penso em você o dia
inteiro, e se errei no meu julgamento, foi porque você me distraiu.)
(©
23.09.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)