domingo, 23 de setembro de 2012

O JULGADOR



Gostaria de dizer para vocês que ao contrário dos hipócritas e dos moralistas sou uma pessoa muito julgadora, julgo a todo momento. Acredito que tenho julgado desde as primeiras horas quando abri os olhos naquela maternidade no centro da cidade do Rio de Janeiro em maio de 1954. Ali, naquele momento e naquele lugar iniciei minha história de julgamentos que continua até hoje. São 58 anos de julgamentos, só nessa vida.

E não parei mais de julgar. Fui crescendo e julgando. A cada momento me vi numa situação que precisava fazer escolhas e tomar decisões e para fazer isso eu precisava do meu juízo. Nesse momento agora, por exemplo, em que escrevo essas palavras e esse sincero depoimento, estou julgando vocês destinatários e leitores dessa mensagem. Estou julgando que vocês são capazes de compreender o que vos digo.Isso também é um julgamento.

Nos meus julgamentos muitas vezes me engano, outras vezes acerto; algumas vezes sou justo, outras sou injusto. Às vezes sou bom, outras sou mau. Às vezes revejo meu julgamento, outras vezes insisto. Em resumo, não é fácil essa vida de julgador.

Quando leio essas frases prontas como bulas de remédio de gente falando sobre o não julgamento ou, quando ouço ou leio os “ucemistas” falando sobre o fato deles não julgarem ninguém, fico triste e alegre ao mesmo tempo; fico com inveja deles, ao mesmo tempo em que sinto orgulho de mim. E fico imaginando: “que planeta bom e bonito que essas pessoas vivem, onde não há necessidade de julgar nada nem ninguém”.

Mas eu tenho uma dúvida. Me ajudem nessa, por favor. Quando uma pessoa diz para a outra que ela é julgadora, define o outro como fazendo um julgamento, essa pessoa não estaria ela, naquele exato momento, fazendo também um julgamento? Tenho pensado nisso.

A minha mente julgadora, quiçá todas as mentes julgadoras iguais a minha, funcionam assim: você observa, analisa, julga, decide e escolhe. Por isso, minha amiga, meu amigo, eu não fico nem um pouco incomodado se você, julgadora ou julgador como eu, me julga um julgador ou julga meus poemas como se realmente fosse eu. Só eu sei como é difícil a vida de um julgador. Só eu sei como é difícil e ao mesmo tempo maravilhoso ser o que sou. Estar cercado de gente por todos os lados e estar sozinho num mundo estranho de onde você não sabe de onde veio, para onde vai e o que está fazendo aqui.

Só julgando mesmo.

Quando eu te amei e me enganei, eu também estava julgando. Estava julgando a minha capacidade de amar. Estava julgando que te amava. Estava julgando que você me amava. Estava julgando o próprio amor...Que pretensão minha, não é mesmo.

E mesmo hoje, quando alguns anos já se passaram e mesmo assim ainda acordo na madrugada pensando em você, julgo que a paixão talvez não seja amor, mas também pode ser. Mas pode ser apenas mais uma doença que mesmo curada, ainda  não foi extinta. 

E julgo então que um JULGADOR pode ser ao mesmo tempo um POETA, um APAIXONADO, um DOENTE ou apenas mais um LOUCO. Mas nunca poderá ser um hipócrita mentiroso. Porque o coração não mente.

(Esse texto fiz pensando em você cujo nome não pode ser revelado. Penso em você o dia inteiro, e se errei no meu julgamento, foi porque você me distraiu.)


(© 23.09.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)