domingo, 30 de setembro de 2012

A ÚLTIMA LIÇÃO


Desculpe-me, mas calado eu não fico
Mesmo sabendo que a língua que falo é de outra raça
Por que quando todos se calam o silêncio torna-se cúmplice
E não posso me tornar cúmplice do teu medo e da tua omissão
e dos meus erros

Os erros por amor já nascem com perdão
Eu já lhe falei disso


Do amor nada mais resta do que esta primavera
Depois de um inverno de podas

Venho envelhecendo lentamente
Como aguardente em barris de carvalho
Inerte e incorpando aromas e sabores
Que fui colhendo nos jardins que visitei

Venho examinando minha consciência nesses últimos anos
Não há um resquício que seja de culpa ou arrependimentos
Tudo foi experiência absorvida e aprendida
Tudo valeu a pena

Eu realmente não sabia que ao te beijar e te desejar
E tê-la por alguns momentos
Eu me tornaria dependente do teu corpo e da tua presença
Do teu calor e do teu sexo

Guardo hoje uma certeza oculta
A de que nunca poderei me separar te ti
Mas ainda não descobri o mistério
Por quê meu coração entristece quando ouço teu nome?

Meu coração ainda não aprendeu a lição final
A que fala da gratidão e do perdão

Eu não falo a língua dos homens
Por isso você não compreende

Muito menos a língua dos anjos
Eu falo aqui a língua dos poetas
Das metáforas e mentonímias
Das hipérboles e dos paradoxos

Entendeu? Ou prefere que eu desenhe?

(Paulo Cesar de Oliveira)