Conforme
já foi dito várias vezes, a natureza da realidade essencial não pode ser
transmitida por palavras. As palavras são símbolos um pouco mais sofisticadas apenas
do que a escrita do antigo Egito que era organizada em forma de hieróglifos.
Mas
existe algo que todo ser humano possui embora não tenha conhecimento ou não
utilize de forma plena, ela se chama ESSÊNCIA.
A
ESSÊNCIA não é um pensamento ou uma idéia que a pessoa tenha sobre si mesma. Não
é uma auto-imagem cheia de conceitos que se tem sobre si mesmo.
Podemos
definir a ESSÊNCIA como uma inteligência superior, que não é física, nem
emocional ou mental. É um poder pessoal. Alguns poetas em alguns poemas
conseguem se conectar com sua ESSÊNCIA quando escrevem. Assim como outros
artistas, pintores, compositores, músicos, etc...
O
poeta José Paulo Paes diz: "A poesia não é mais do que uma brincadeira com
as palavras. Nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma
coisa ao mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma
surpresa. Se não tiver, não é poesia: é papo furado."
Um
dos poemas mais lindo que conheço é esse aí embaixo de Carlos Drummond de
Andrade:
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Vou sugerir uma reflexão
sobre por que ler poesia vale a pena:
- a poesia desperta a sensibilidade para a manifestação do poético no mundo, nas artes e nas palavras;
- o convívio com a poesia favorece o prazer da leitura do texto poético e sensibiliza para a produção dos próprios poemas;
- o exercício poético ajuda no desenvolvimento de uma percepção mais rica da realidade, aumenta a familiaridade com a linguagem mais elaborada da literatura e enriquece a sensibilidade.
Rubem Alves foi muito feliz quando disse essas palavras:
"Não basta saber ler para ler poesia. Ler poesia é
uma arte. Exige que o leitor se coloque numa posição especial de alma. O
segredo da poesia está na música da leitura. Mais do que uma arte: é um ato de
bruxedo. O leitor invoca um mistério que se encontra nos interstícios das
palavras do poeta. Essas palavras estão dentro dele mesmo. O poema faz-me ouvir
um poema que está dentro de mim. Esse poema que está dentro de mim é um pedaço
de mim."
Rubem Alves
Rubem Alves
(Texto de Paulo Cesar de Oliveira)