quarta-feira, 29 de agosto de 2012

QUANDO OLHO PARA MIM...

Quando olho para mim não me percebo.  
Tenho tanto a mania de sentir 
Que me extravio às vezes ao sair 
Das próprias sensações que eu recebo.  
O ar que respiro, este licor que bebo, 
Pertencem ao meu modo de existir, 
E eu nunca sei como hei de concluir 
As sensações que a meu pesar concebo. 
Nem nunca, propriamente reparei, 
Se na verdade sinto o que sinto. 
Eu Serei tal qual pareço em mim? 
Serei Tal qual me julgo verdadeiramente? 
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu, 
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

 (Alvaro de Campos/Fernando Pessoa)