sábado, 25 de agosto de 2012

Como um general romano pode ajudar você a não se atormentar com a opinião dos outros

Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Acordei meio filosófico. E quando isso acontece pareço um livro de citações ou um manual vulgar de autoajuda. Recomendo aos mentalmente sãos que parem a leitura por aqui. Aos demais, aos loucos o suficiente para ignorar a advertência, segue desde já um sincero pedido de desculpa.
Mário Gaio, o general romano
Meu ponto de partida é a atitude oposta de dois grandes filósofos gregos, Heráclito e Demócrito, diante da miséria humana. Heráclito chorava, Demócrito ria. No correr dos dias nós vemos uma série infinita de absurdos e de patifarias. Alguém a quem você fez bem retribui com ódio. A inveja parece onipresente. A mesquinharia, também. Você tropeça e percebe a alegria maldisfarçada dos inimigos e até de amigos. (Palavras do frasista francês Rochefoucauld: sempre encontramos uma razão de alegria na desgraça de nossos inimigos.)

As pessoas que têm poder são quase sempre sensíveis à adulação. A frivolidade triunfa. A hipocrisia é dominante. As decepções se acumulam. Até seu cachorro se mostrou bem menos confiável do que você imaginava. Se não bastasse tudo, sua sogra não sai de sua casa.

VOCÊ PODE RIR
 
Em suma, a vida como ela é. Você pode chorar. E dedicar o resto de seus dias a movimentos que alternam gemidos de autopiedade e consumo de antidepressivos de última geração. Ou então você pode rir.

A alternativa dois é a melhor.

A oposição entre Heráclito e Demócrito foi objeto de estudo de dois filósofos distantes séculos um do outro: Sêneca e Montaigne. Cada um a seu estilo, ambos optaram por Demócrito e sugeriram o mesmo a quem acaso os lesse. Uma só situação provoca riso ou choro de acordo com a disposição de espirito de quem a enfrenta. Mesmo Schopenhauer, o grande filósofo do pessimismo, o gênio soturno que disse que a pior coisa do mundo é nascer, reconhece sabedoria na jovialidade.

“Acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo, pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo” escreveu ele. “Quem é alegre tem sempre razão para ser alegre. E a razão é exatamente esta, a de ser alegre. Nada pode substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto essa qualidade, enquanto ela mesma não é substituível por nada.”

Bem que avisei que eu ia parecer uma fábrica de citações. Ainda é tempo de sair desse ônibus que estou conduzindo.

A OPINIÃO DOS OUTROS
 
Um passo essencial para a “jovialidade” é dar menos importância à opinião dos outros sobre nós. Somos escravos da opinião alheia. E isso nos faz inimigos de nós mesmos. Um dia seu chefe está feliz e o cumprimenta no elevador. Você ganha o dia. Mas se alguma coisa aborreceu seu chefe e ele parece não enxergá-lo quando vocês se cruzam, isso talvez seja o suficiente para estragar sua semana. Mais relevante do que os outros pensam sobre nós é o que nós pensamos sobre nós mesmos. Não adiante o mundo inteiro reverenciá-lo se ao olhar para o espelho você não respeita o que vê. Os sábios recomendam unanimemente a busca da indiferença perante a opinião dos outros.

Schopenhauer cita como exemplo o líder romano Mário Gaio. Um chefe bárbaro mandou desafiar Mário para um duelo. Sem ligar para o que os outros achariam de sua resposta, e muito menos para o que o próprio bárbaro pensaria, o general romano mandou o seguinte recado: “Se você está entediado com a vida, que se enforque”.