segunda-feira, 13 de agosto de 2012

DE UMA SOLIDÃO INCOMPREENSÍVEL


Uma pessoa que escreve poesias ou coisas parecidas é por função uma pessoa com uma sensibilidade acima do normal. Não é uma pessoa de quem se possa dizer lógica ou realista. É um idealista, um sonhador.

É difícil fazer um poema nos dias atuais morando nesse país chamado Brasil, em tempos de julgamentos de “mensalão”, violências de todos os tipos, corrupção e impunidades. Um país de 150 advogados e suas mentiras. Ética? Que ética? A única ética que vejo é o dinheiro.

É difícil ser poeta num mundo tão competitivo.

Um poeta precisa de inspiração, de uma musa, mas minhas musas ficaram no meu passado. Como diz a música do Chico:

“Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador...”

É, eu também exijo respeito, mas acho que ainda sou um sonhador. Às vezes eu sonho e quando sonho, normalmente eu escrevo.

Mas o que salva um poeta e mantém viva sua poesia é a ilusão. Ninguém é mais iludido do que um poeta. Um poeta é tão iludido que não satisfeito em viver um mundo que é pura ilusão, ele cria um outro mundo dessa ilusão ou, ele recria a ilusão. Na falta de uma musa para inspirá-lo, ele cria uma, mesmo que seja virtual, em tempos modernos.

Então, ele cria a ilusão da ilusão e se fecha nesse seu mundinho, pensando que assim está livre da ilusão do mundo. Pura ilusão!

Defendo a tese que para se entender e compreender um poema é preciso ser um poeta, nem que seja um pouquinho só. Não precisa ser nenhum Fernando Pessoa, mas tem que ter na alma algo de poético.Tem que vê alguma poesia nesse mundo.

Não acredito que um simples professor de literatura ou pior, estudante de literatura possa viver um poema. Além de professor ou aluno é preciso ser poeta, pois a poesia não se enquadra em suas teorias, ela não pode ser “engessada”. A poesia sempre é livre. Ela não tem sentido, não tem lógica, não tem rima, não tem teoria.  Colocar um poema num modelo literário me parece como colocar um passarinho na gaiola.

"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..." (Mário Quintana)

Um poeta é uma pessoa solitária, além de um grande fingidor, como já se disse uma vez. De uma solidão incompreensível.


(© 13.08.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)