Pedro do Coutto
James Henry, economista chefe da Consultoria Internacional McKinsey,
divulgou levantamento sobre os depósitos, senão totalmente ilegais, pelo
menos irregulares, de empresas brasileiras e de brasileiros no
exterior, que atingem nada menos de 520 bilhões de dólares. A
reportagem, da Sucursal de Brasília, não assinada pessoalmente, saiu na
edição da Folha de São Paulo de segunda-feira 23. Incrível o montante,
quase inacreditável o volume de dinheiro.
Tais depósitos, é evidente, são fruto de sonegação fiscal e evasão de divisas remetidas por doleiros através do tempo para paraísos fiscais. Impressiona. Porque o Banco Central possui o monopólio do câmbio, me informa o economista Gilberto Paim. Os operadores em moedas estrangeiras têm que se encontrar registradas no BC e por ele habilitados.

Calcula a McKinsey que a torrente de recursos corresponda a vinte por
cento do Produto Interno Bruto do Brasil previsto para este ano. Talvez
não chegue a vinte por cento, mas seguramente oscila em torno de algo
fantástico. Podemos, inclusive, para fornecer uma nítida ideia de valor,
que 1 trilhão de reais representam quase a metade do orçamento do país
em 2-12. Dimensiona melhor a questão.
E vale acentuar que o programa de investimentos do governo federal
até o final deste exercício foi projetado na escala de apenas 107
bilhões de reais, incluindo a atuação das empresas estatais. Fora do
nosso território existe portanto, em nível financeiro, a metade da lei
de meios nacional.
Tais depósitos, é evidente, são fruto de sonegação fiscal e evasão de divisas remetidas por doleiros através do tempo para paraísos fiscais. Impressiona. Porque o Banco Central possui o monopólio do câmbio, me informa o economista Gilberto Paim. Os operadores em moedas estrangeiras têm que se encontrar registradas no BC e por ele habilitados.
A impressão é que existe uma acomodação para supor o mínimo. O
sistema bancário possui fortíssima blindagem. Vá alguém deixar de pagar
uma dívida. Não tem cabimento que o rigor natural para com os devedores
não seja estendido aos aproveitadores de situações. Não há desculpa. O
quadro técnico do Banco Central é altamente competente.
Mas esta é outra questão. O mais revoltante é que a exportação ilegal
de dinheiro significa o sangramento das contas nacionais, a exploração
do trabalho humano, aqui dentro, a manutenção de milhões de pessoas na
pobreza. Dinheiro não falta para projetos de desenvolvimento econômico e
social. Falta é a sua correta localização. Dentro de nossas fronteiras.
A evasão de divisas representa também o financiamento para o surgimento
de empregos fora do país. No exterior. E uma coisa é evidente: a
maioria das remessas é ilegal. Pois se legal fosse, não haveria motivo
para que esse enriquecimento deixasse de ser brasileiro. São remessas de
comissões em cima de comissões, de superfaturamentos, de escape da
incidência do Imposto de Renda.
Imposto de Renda, eis aí. Todos os anos, o Banco Central publica uma
circular no Diário Oficial da União dando prazo para que os brasileiros
que possuem contas e bens no exterior forneçam os respectivos saldos e
levantamentos. E determina também que, de doze em doze meses, os totais
sejam atualizados. Tudo fica no papel. Ninguém dá bola.
Porque se os titulares dos depósitos e bens levassem a sério a
determinação, teriam que aparecer os 520 bilhões de dólares a que se
referiu a Consultoria McKinsey. James Henry, inclusive, disse ter
chegado a essa conta após cruzamento de informações do FMI, do Banco
Mundial e de governos de países onde se encontra a fabulosa fortuna,
algo das mil noites. Inebria e entontece, como no verso da valsa famosa.
O dramático é que, enquanto 520 bilhões de dólares brasileiros
escapam da economia nacional, bilionários cruzam os céus do mundo em
aviões particulares. Falta saúde, saneamento básico, educação e
segurança. Sobram recursos que voaram (e continuam voando) lá para fora.