quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014



VOCÊ E EU

Você tem uma boca gostosa, suculenta
arde sem arder, não é igual a  pimenta
Você tem um corpo quente, cheiroso
queima sem queimar, me aquece até eu ferver
Você tem uns olhos brilhantes,úmidos, carentes
que me deixam doido de tantos desejos
Você tem os seios rígidos, do tamanho exato
da minha boca, nada falta, nada sobra
Você tem umas coxas que minhas mãos
suplicam para tocar

Bem...
É melhor eu parar por aqui
Se não vira um poema erótico
E sou um poeta decente e não indecente
Mas, você já imaginou onde eu ia chegar
Se você me deixar
eu não sei onde parar

pco/.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014




Os meus escritos, os meus “poemas” e  as minhas próprias idéias e não as idéias dos outros são meu prazer na vida. Sem meus escritos, teria me desesperado há muito tempo. Foi quando eu me senti mais só que comecei a escrever. Acredito que isso seja um presente que o Espírito Santo me deu. Nada poderá tirar isso de mim, nem o meu próprio silêncio. Eu tenho duas vidas, uma é a comum, que alguns de vocês conhecem, a outra é secreta, que tento conhecer, é essa vida secreta quem escreve. Depois de ouvir alguns mestres outros nem tanto, resolvi trilhar meu próprio caminho. Peguei algumas coisa emprestadas deles, sim.

pco/.


Martinho de Anta, 23 de Dezembro de 1982 – Cá estou mais uma vez cingido à minha natureza profunda. Vestido como qualquer camponês e a sentir-me bem dentro desta pele terrosa, cavo o quintal, arranco silvas, podo roseiras, racho lenha. E converso com gente do meu agro que me vem visitar ou consultar, gente que nunca me leu, nem faz ideia do que é ser poeta, que fala de trivialidades e quer ouvir respostas triviais. Alimento como todo o meu ser essas conversas intermináveis, feitas de tudo e de nada, e quando elas acabam retomo a enxada de boa consciência, na paz de quem compreendeu e foi compreendido. Sabe bem compartilhar da condição comum. Lá em baixo sou uma ficção entre ficções; aqui sou uma criatura entre criaturas.



Deixe-me sair desta gaiola


então eu posso abrir minhas asas

e abraçar Você




Ouçam, a verdadeira poesia não diz nada, apenas destaca as possibilidades. Abre todas as portas. As pessoas podem atravessar aquela que se lhes ajusta… E é por isso que sinto pela poesia este apelo tão forte – porque é eterna. Enquanto houver pessoas, elas podem lembrar-se de palavras ou combinações de palavras. Mas nada pode sobreviver ao holocausto a não ser a poesia e as canções. Ninguém consegue lembrar-se de um romance inteiro. Ninguém consegue descrever um filme, uma escultura, uma pintura, mas enquanto houver seres humanos, as canções e a poesia sobreviverão.

 Se a minha poesia pretende atingir alguma coisa, é libertar as pessoas dos limites em que se encontram e que sentem. 

 Jim Morrison

Debaixo do arco-íris colorido

Eu tenho apenas um desejo

"Leve-me à verdade"

pco/.






... "Não, meu irmão, não procurei a solidão para orar e me castigar, mas para fugir dos homens, de suas leis, de suas tradições e de seu barulho. Procurei a solidão porque me cansei dos que confundem amabilidade com fraqueza, e tolerância com covardia, e altivez com orgulho. Procurei a solidão porque me cansei de lidar com os endinheirados que pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos. Cansei-me dos políticos que enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas. Cansei-me dos sacerdotes que aconselham os outros, mas não se aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos. Procurei as montanhas desabitadas porque nelas há o despertar da primavera, e os desejos do verão, e as canções do outono, e a força do inverno. Vim para este eremitério a fim de descobrir os segredos da terra e me aproximar do trono de Deus."  Disse o eremita Yussef El- Fakhry.

...Depois argumentei: "Acertaste em tudo. Mas não vês que, ao diagnosticar as doenças da sociedade como um médico competente, demonstraste que não te deves afastar dela antes de curá-la, como um médico não pode afastar-se do doente, mas tratá-lo até que sare ou morra? O mundo precisa de ti. Não é justo que te afastes dos homens quando podes beneficiá-los."

... "Não, meu amigo, nenhum homem mudará os homens. O agricultor mais hábil não obterá colheita no inverno."

..."Mas o inverno da Humanidade passará. Depois, virá a primavera, com suas flores e canções."

... "Será que Deus dividiu a eternidade em estações similares às estações do ano? Virá, mesmo daqui a um milhar de milhares de anos, uma geração de homens que viverá pelo espírito e a verdade, e achará sua felicidade na luz do dia e na quietude da noite? Virá tudo isto um dia?... Esses são sonhos longínquos. E este eremitério não é uma morada de sonhos..."

..."Respeito tuas convicções e tua solidão. Mas também sei que esta nação infeliz perdeu, com teu afastamento, um homem dotado, capaz de despertá-la e guiá-la."
... "Então, a civilização é vã?"

... "Sim, vãs são as ações do homem e vãos seus anseios e esperanças. Vão é tudo o que está na terra. Entre os  palácios da vida, uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só..."

"É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma. É aquela mão misteriosa que retirou os véus dos meus olhos quando estava no meio dos meus...
E, depois de um silêncio, finalizou: 
"Eis o que me aconteceu há quatro anos. Abandonei o mundo e me refugiei nesta solidão para viver num estado de despertar, e descobrir e sentir a paz."


Aproximou-se da porta, olhou dentro da noite e gritou como se falasse à tempestade:
"É um despertar no fundo da alma. Quem o sente, não o pode expressar em palavras. E quem não o sente,não poderá nunca conhecê-lo através de palavras."


armas não ferem o Eu,

fogo não o queima,

águas não o molham,

ventos não o ressecam

nem palavras nem o silêncio

ferem o Eu

(...)
Para além dos sentidos,

para além da mente,

para além dos efeitos da dualidade

habita o Eu.

(...)



TEM DIAS QUE OS POEMAS SOBEM NA MINHA ESCRIVANINHA

Um dia eu vou deixar de falar
Mas, enquanto esse dia não chega
Eu lhe entregarei sempre que puder umas palavras
Não sei qual a utilidade que você as dará
Se as jogará no lixo ou se as guardará
Mas eu preciso lhe entregar essas palavras
Foi promessa que fiz

O meu silêncio eu já não posso te ofertar
O meu silêncio é muito particular
Já não serve para nos comunicar
Eu preciso fazer as coisas no seu tempo certo
Pois assim como há o tempo de plantar e de colher
Também há o tempo de falar e de calar
O falar precede o calar

Você já conhece os quatro verbos do mago:
Querer – saber – ousar e calar
No momento eu apenas quis, ainda busco o saber
Mas já começo a ousar
Ainda estou muito longe do calar

As vezes um poema me incomoda, como agora
E me pode para conhecer vocês
E eu digo para ele: “agora não, não vê que estou ocupado”
Mas o poema não me dá ouvidos e ironiza:

“Muito mal PC,
não fique preguiçoso.
Você prometeu para Deus que ajudaria
Espalhando poesia
E Ele acabou de aparecer com essa nova melodia.”

Uma vez eu disse para um poema: “Estou cansado,ninguém  quer saber da gente, poemas não vendem”
E o poema subiu na minha escrivaninha
E começou a escrever umas linhas

E eu acabei abandonando sozinho 
o meu silêncio 
que até então me fazia companhia


Paulo Cesar de Oliveira

UM ARTIGO SOBRE O EGO


Uma das questões mais difíceis é compreender o paradoxo sobre a existência do ego. Como compreender que o ego existe e não existe ao mesmo tempo? Vamos a alguns exemplos: uma miragem no deserto existe? Ela não existe de fato, mas existe aos olhos de quem vê e – por isso- pode causar problemas se a pessoa não perceber a diferença. Ou seja, a miragem existe- mas não o que ela representa. 

Outro exemplo: um sonho existe? Se dissermos que não existe então ninguém sonha? Portanto os sonhos existem-mas como sonhos, dentro de uma realidade subjetiva – existente apenas na mente de quem dorme- não no nível concreto. Mais um exemplo, já usado pelos budistas e imitados pelos advaitas : um homem acorda e pisa numa corda achando que é uma cobra- a cobra existe? Não. Mas a visão da cobra existe? Sim. Então ambos são reais. Tanto a corda, como a visão da cobra. Negar a existência da visão da cobra é negar o fato da alucinação.  Ora, os psicóticos veem o que não existe- mas não se pode negar a existência de suas alucinações - do contrário quem procuraria tratar-se? As visões existem no plano subjetivo da mente doentia- mas não no plano da realidade concreta.

 Não seria exagero dizer que a  mente humana comum - quando  comparada a de um Buda- sofre de uma espécie de doença mental, uma psicose chamada egolatria, ignorância, ilusão. Assim, afirmar que o ego não existe é negar um problema fundamental no caminho da espiritualidade: que o ego, apesar de não ter existência substancial, ele existe enquanto persistir a doença da ignorância. Ora, se a pessoa  se considera liberta da “ilusão” do ego-sem realmente estar- isso apenas perpetua  e fortalece a atuação dele. Com isso, a pessoa não toma consciência de sua prisão e, consequentemente, não trabalha interiormente para libertar-se.

Outro engano é achar que apenas a desindentificação com os pensamentos é o bastante para promover a libertação do ego. Isso é o começo de um processo de desconstrução. O ego é uma estrutura milenar e intrínseca ao ser humano. A desindentificação com os pensamentos é um passo importante- mas não é tudo. Representa apenas o começo de uma jornada. O problema é que ao chegar nesse nível muita gente pensa: " pronto, estou livre, agora posso gozar e ser feliz!". É comum ver esse tipo de testemunho em sites, posts e comentários de pessoas supostamente "libertas" que vendem essa imagem para o mundo, geralmente para promover satsangs. 

A libertação do ego talvez nunca venha nesta vida- e reconhecer isso  é de grande importância. Os pensamentos são apenas das partes, dentre as várias que compõe a  complexa estrutura do eu. Além dos pensamentos existem os desejos, os sentimentos, as emoções, as tendências pessoais, os conteúdos inconscientes individuais e coletivos etc etc. Se realmente não existisse ego por que uma pessoa gritaria para o mundo que é um “Desperto” – se autopromovendo? E  para que seus discípulos ficariam dando testemunhos- como se quisessem convencer a si mesmos e aos outros de que estão livres e felizes? A ausência do ego não seria- por definição- o fim de toda atitude ego-centrada? Não se parece isso uma grande contradição? 

Krishna: o ego pode ser amigo ou inimigo

Ora, até os seres iluminados mais famosos da história deram sinais de que ainda possuíam  ego- todavia de uma maneira controlada. A mente não existe como algo separado. Ela faz parte de um fluxo universal que Jung chamou de Inconsciente Coletivo. E todo mundo que tem uma mente está ligado a este fluxo que, dentre outras coisas, é composto de elementos simbólicos, culturais, e históricos resultados de experiências e vivencias tanto individuais quanto coletivas. Jesus chorou, se enraiveceu, lutou contra os escribas e fariseus- inclusive humilhando-os em praça pública.  Krishnamurti se irritava publicamente e teve um caso com a mulher do seu secretário particular. E mesmo Ramana- que tentou representar a anulação absoluta do ego e suas partes constitutivas- ainda estava preso ao ego por sua atitude extremada de negação e passividade diante da vida. O próprio Krishna diz no Bhagavad-Gita : “O ego é o pior inimigo do Eu, mas o Eu é o melhor amigo do ego... O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor." Claro está que o Ego continua existindo- mas controlado, não mais como senhor- mas como servo.

Alguns seguidores da visão “neo-advaita” acham que apenas a supressão dos pensamentos  “eu” e “meu” basta para libertar a Consciência do ego. Esquecem que esta é apenas uma pequena parte da porção intelectual do EGO. Além desta, o ego também tem sua parte emocional , instintiva e inconsciente. Essas continuam atuando mesmo na ausência dos pensamentos. Na verdade, ao se negar o pensamento o que acontece? São reprimidos e jogados para o inconsciente- mas isso não extingue-os de verdade. O ego continua agindo na surdina , por debaixo dos panos. Sua atuação passa a ser mais sutil e – por isso mesmo- mais perigosa uma vez que dificilmente será detectada.

 Por isso, você que é um buscador sincero da verdade, não se deixe enganar pelas palavras floridas e frases de efeitos dos gurus. Não acredite em nada em que se diz por aí- nem aqui- principalmente se pedirem  “entrega”, ou “rendição”- pois é aí onde mora o perigo. Quando a “guarda” baixa, seu ego é enfraquecido- mas não por que você se liberta dele- mas por que o seu “ego” passa a ser escravo do guru e da organização, grupo ou movimento que ele representa. Eles dizem :" não acredite em nada que você lê, não acredite na sua mente, nem nos seus pensamentos. Entregue-se. Renda-se!". E então cai-se vítima de uma prisão maior ainda. Pois se antes havia a consciência de se estar preso à ignorância do ego e precisava dele libertar-se, ao render-se ao guru a pessoa continua presa- pensando estar livre- tornando a libertação algo cada vez mais distante e irrealizável. 

A maior artimanha do ego é fazer a pessoa crer que ele não existe, que nunca existiu, ou que existia e depois deixou de existir. Seja livre e veja a verdade por si mesmo. Esse artigo é apenas um “cutucão”  para que você acorde de seu sono, de suas verdades, de suas ilusões e prisões- mesmo aquelas pregadas pelos gurus e que você aceita como verdadeira por que elas lhes dão uma gostosa sensação de conforto e felicidade .  A verdade pode não ter nada a ver com isso. Como poderás saber se não a encontrares por si mesmo, sem gurus , sem organizações ou grupos?

Pense nisso e depois não diga que ninguém o avisou!

Namastê!

Alsibar

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

POEMAS MÍSTICOS DE FARID-Ud-Din Attar



O sol só pode ser visto pela própria luz do sol.
Quanto mais uma pessoa sabe, maior a perplexidade,
quanto mais perto o sol, maior o deslumbramento.
Até que um ponto é atingido onde a pessoa já não é.

Um místico sabe sem conhecimento, sem intuição
ou informação, sem contemplação, descrição ou revelação.
Os Místicos não são eles mesmos. Eles não existem em si mesmos.
Eles se movem conforme são movidos,
falam conforme as palavras surgem,
vêem com as cenas que entram em seus olhos.

Certa vez conheci uma mulher e perguntei-lhe
onde o amor a tinha levado. Ela respondeu:

"Tolo, não há destino para se chegar.
O amado, o amante e amor são infinitos.” 
_____________________________
  
O peregrino não vê nenhuma forma além da Dele
e sabe que Ele subsiste sob todos os shows passageiros -
O peregrino vem Daquele através do qual ele pode ver,
vive Nele, com Ele e além de todos os três. 

Perca-se no espaço inclusivo da Unidade.
Ou você é humano, mas ainda não um homem.
Quem quer que viva, os maus e os bem-aventurados,
contém um sol escondido dentro do peito.

Sua luz deve alvorecer;
As nuvens que nublam-na devem ser mandadas embora -
Aquele que alcança seu sol escondido
ultrapassa o bem e o mal e conhece o Uno. 

O bem e o mal estão aqui enquanto você está aqui;
Supere a si mesmo e eles desaparecerão. 
 ____________________________

Vou agarrar a saia da alma com minhas mãos
e carimbar a cabeça do mundo com o meu pé.

Vou pisotear a matéria e o espaço com o meu cavalo,
e para além de todo o Ser darei um grande grito,
e nesse momento quando estiver sozinho com Ele,
 vou sussurrar segredos para toda a humanidade.

Uma vez que não tenho nem sinal nem nome,
 vou falar apenas de coisas sem nome e sem sinal.

Não se iluda que de um coração queimado
 discursarei com palato e língua.
O corpo é impuro, vou lançá-lo longe
e pronunciar estas palavras puras apenas com a alma. 
_________________________ 

Olhe - eu não faço nada, Ele executa todas as ações.
E Ele suporta a dor quando meu coração sangra.

Quando Ele se aproximar e lhe conceder uma audiência
 deveria você hesitar numa embaraçada timidez?

Quando é que o seu coração cauteloso irá
 além dos limites ordinários que você conhece?

Ó escravo, se Ele mostrar o Seu amor a você,
amor esse que Seus atos renovam perpetuamente,
 você não será nada, você vai desaparecer-

Deixe tudo para Aquele que age e não tenha medo.
Se houver algum "você", se qualquer sombra de si persistir,
você desviou-se da nossa fé. 
________________________
  
Não você mas Eu tenho visto, tenho sido e tenho feito.
Quem em sua fração de Mim vê a Mim
dentro do espelho que seguro para ver a Mim mesmo?
Cada parte de Mim que vê a si mesma,
mesmo que afogada, verá para sempre.

Venham, átomos perdidos, atraírem-se para o seu centro,
e sejam o Espelho Eterno em que vocês viram.
Esse é o grande retorno dos raios
que vagaram para a escuridão
indo de volta para o sol.

O ESTUDO DE SI MESMO



P. D. Ouspensky - O Estudo de Si Mesmo

 


Neste sistema, que estuda o homem como ser incompleto, dá-se ênfase especial ao estudo de si mesmo e, desse modo, a ideia do estudo de si mesmo está necessariamente ligada à ideia de aperfeiçoamento. Como somos, podemos utilizar muito pouco de nossos poderes, mas o estudo os desenvolve. O estudo se si mesmo começa com o estudo dos estados de consciência. O homem tem direito a ser consciente de si mesmo, tal como ele é, sem qualquer mudança. A consciência objetiva requer muitas mudanças nele, mas a consciência de si mesmo ele pode ter agora. Contudo, não a tem, embora creia que a tenha. Como começou essa ilusão? Por que o homem se atribui a lembrança de si mesmo? Ele o faz, porque ela é seu estado legítimo. Se não é consciente de si mesmo, o homem vive abaixo do seu nível legítimo, usa apenas um décimo dos seus poderes. Mas, enquanto atribuir a si mesmo o que é somente uma possibilidade, não trabalhará para alcançar esse estado.


 Vem em seguida, a pergunta: por que o homem não tem consciência de si mesmo, se dispõe de todos os órgãos necessários para isso? A razão está no seu sono. Não é fácil despertar porque o sono tem muitas causas. Muitas vezes as pessoas perguntam: todos os homens tem possibilidade de despertar? Não, absolutamente.
São muito poucos os que podem dar-se conta de que estão dormindo e fazer os esforços necessários para despertar. Antes de tudo, o homem deve estar preparado, deve compreender a sua situação; depois, deve ter bastante energia e um desejo suficientemente forte para poder sair dela.
 Em toda essa estranha combinação que é o homem, a única coisa que pode mudar é a consciência. Mas, inicialmente o homem deve dar-se conta de que é uma máquina a fim de poder apertar alguns parafusos, afrouxar outros, etc. Ele deve estudar; é aí que a possibilidade de mudança começa.  Quando compreender que é uma máquina e conhecer alguma coisa a respeito da sua máquina, verá que ela pode funcionar em diferentes condições de consciência e dessa forma tratará de dar-lhe melhores condições. 
 Nesse sistema dizem-nos que o homem tem a possibilidade de viver em quatro estados de consciência, mas que tal como é vive apenas em dois. Sabemos também que as nossas funções se dividem em quatro categorias. Assim, estudamos quatro categorias em dois estados de consciência.  Ao mesmo tempo, tomamos conhecimento de que ocorrem lampejos de consciência de si mesmo e de que aquilo que nos impede de ter mais lampejos é o fato de não nos lembrarmos de nós mesmos, de estarmos dormindo.
A primeira condição necessária a um estudo sério de si mesmo é a compreensão de que a consciência tem graus. Devemos nos lembrar de que não passamos de um estado de consciência a outro, de que esses estados se adicionam um ao outro. Isso significa que se estivermos no estado de sono, quando despertamos, o estado de consciência relativa ou “sono desperto” será acrescentado ao estado de sono; se nos tonarmos conscientes de nós mesmos, esse estado será adicionado ao “sono desperto” e, se adquirirmos o estado de consciência objetiva, esse estado se adicionará ao de consciência de si mesmo. Não existem transições nítidas de um estado para outro. Por que não? Porque cada estado consiste em camadas distintas. Assim como, no sono, podemos estar mais ou menos adormecidos, da mesma forma, no estado em que estamos agora, podemos estar mais próximos ou mais distantes da consciência de nós mesmos.
A segunda condição necessária a um estudo de si mesmo é o estudo das funções pela observação delas, aprendendo a dividi-las de maneira correta, a reconhecer cada uma separadamente. Cada função tem sua própria manifestação, a sua própria especialidade. Devem ser estudadas separadamente e devemos compreender claramente as suas diferenças, lembrando-nos de que elas são controladas por centros ou mentes diferentes. É muito útil pensar sobre as nossas diferentes funções - ou centros – e compreender que são completamente independentes. Não nos damos conta de que há quatro seres independentes em nós, quatro mentes independentes. Tratamos sempre de reduzir tudo a uma só mente. O centro instintivo pode existir de maneira totalmente independente dos outros centros; os centros motor e emocional podem existir sem o intelectual. Podemos imaginar quatro seres vivos em nós. O que chamamos homem instintivo é o homem físico. O homem motor é também um homem físico, mas com inclinações diferentes. Há, em seguida, o homem sentimental ou emocional e o homem teórico ou intelectual. Se nos encararmos desse ponto de vista, será mais fácil ver onde cometemos o equivoco principal a nosso respeito, porque nos consideramos como se fossemos um, sempre o mesmo. 
Não podemos ver os centros, mas podemos observar as funções: quanto mais observarmos, maior será a quantidade de material que teremos.  Essa divisão das funções é muito importante. Só poderemos controlar cada função, se conhecermos as peculiaridades de velocidade de cada uma delas.
 A observação das funções deve estar ligada ao estudo dos estados e graus de consciência. É necessário compreender claramente que consciência e funções são completamente diferentes. Andar, pensar, sentir, ter sensações são funções que se manifestam de maneira completamente independente do fato de estarmos conscientes ou não. Noutras palavras, podem se manifestar mecanicamente. Estar consciente é algo muito diferente. Mas, se estivermos mais conscientes, isso imediatamente fará crescer a intensidade das nossas funções. 
 As funções podem se comparar a máquinas que trabalham em vários graus de iluminação. Essas máquinas são de tal ordem, que podem trabalhar melhor com luz do que com escuridão; quando há mais iluminação, as máquinas trabalham melhor. A consciência é a luz e as máquinas são as funções.
A observação das funções exige um trabalho prolongado. É necessário encontrar muitos exemplos de cada uma delas. Estudando-as, inevitavelmente veremos que nossa máquina não funciona de maneira adequada, algumas funções estão bem enquanto outras são indesejáveis, do ponto de vista de nossa meta. Porque é preciso ter uma meta, do contrário nenhum estudo dará resultado. Se nos dermos conta de que estamos dormindo, nossa meta deverá ser acordar.  Se percebermos que somos máquinas, a nossa meta deverá deixar de ser máquinas. Se quisermos ser mais conscientes, devemos estudar o que nos impede de nos lembrarmos de nós mesmos. Desse modo, temos que estabelecer uma determinada avaliação das funções, baseada na ideia de que são úteis ou prejudiciais à lembrança de si. Há assim duas linhas de estudo: o estudo das funções de nossos centros e o estudo das funções desnecessárias ou prejudiciais.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

"MAS ACONTECE QUE SOU TRISTE..."



Existe um poema de Vinícius:

“Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...”


Que retrata fielmente meus sentimentos. Eu gostaria de não ser triste, sinceramente. E nem vejo razões tão fortes para ser triste,tenho saúde, não sou rico, mas não me falta o essencial...”mas acontece que sou triste...”- “E tenho tudo para ser feliz”

Eu não sei explicar essa tristeza, acho que trouxe ela na alma. Essa tristeza me acompanhou até aqui.

Mas não sou sempre triste, na maioria das vezes nem deixo ninguém perceber essa minha tristeza, mas algumas pessoas ou muitas, acabam percebendo. Dizem que minha tristeza pode ser vista nos meus olhos. É o que elas dizem.

Não posso ser amigos de vocês (acho que vocês nem querem isso), por causa dessa minha tristeza. Houve um tempo que eu até pensei ou tentei. Mas, não posso, não consigo. Essa minha tristeza é incompatível com vosso amor, vossa alegria e felicidade. Com o otimismo e esperança que vocês demonstram.

As pessoas têm medo da minha tristeza. Será contagioso? Pode ser sim.

Essas coisas que escrevo e que algumas eu chamo de poemas, eu escrevo para pessoas tristes como eu, isso é lixo para alguns de vocês, é lixo tóxico. Vocês não devem ler.

Por favor, se vocês encontrarem com Osho, peça desculpas a ele por mim. Eu não consegui ver essa alegria na vida que ele diz que existe e viu. Eu não consegui ver “El amor La danza de mi vida”. Perdão.Peço que não me julguem e me condenem por isso.

Uma pessoa leu hoje um poema meu que dizia que eu não gosto de sol nem de chuva. Ela então me perguntou de que eu gosto (ela é advogada, só os advogados são capazes de fazer certas perguntas).

Então, eu disse para ela: “eu gosto de sexo, vinho, música, poesia, paz e silêncio”. Eu acho que isso é coisa “pra caramba”. Acho que sou ambicioso.

Eu já ouvi algumas pessoas dizerem que eu sou assim por que perdi um grande amor. Meu Deus! Eu nunca tive um grande amor que fosse realmente grande e muito menos meu. Eu sempre amei o impossível, o inatingível, o incomum. Eu nunca soube o que amei e nem por que amei.Se houve amor, ele simplesmente aconteceu,sem que eu pudesse fazer coisa alguma.

O meu amor é tão imenso e impossível que me deixou triste.  

Eu me lembro que já disse que sou um homem triste.