Por Caio Cezar Mayer
as grandes tragédias do mundo
já não me incomodam tanto
sei que isso é um tanto leviano
mas já não penso tanto nos miseráveis do mundo
talvez pensasse mais neles não fosse eu um deles
acho que ando até embrutecendo
já não sinto, já não sei
já não suo, já não sôo
já não sou
minha vida balança apertada
no coletivo e
tudo que eu penso é
“se rolar um lugar livre eu sento”
tento ler, mas minha cabeça se dispersa
em
contas, deveres e dores
acho que ando até emburrecendo
todas as filosofias ultimamente pouco me importam
e embora Marx ainda explique
um pouco do que estou vivendo
eu to pouco me fudendo!
sou um poeta desleixado que nem conhece
as correntes poéticas em voga
não sei qual é a boa
dos versos
não tenho idéia
do que é ta pegando na poesia
não digo que essa ignorância
seja correta ou bonita,
não leve por apologia
o que é apenas confissão
mas o fato é que ando
confuso e cansado
sentindo-me enjaulado
nesse espaço a mim destinado
e essa sensação de impotência
deixa qualquer um desanimado
acho que ando até esmorecendo
então tanto faz se morreu o Osama
o que vai ou não reeleger o Obama
pouco importa se é Skol ou Brahma,
tudo parece tão igual!
e sem sono eu penso
apesar do cansaço do meu cérebro
e fumo esse cigarro
apesar de todas as advertências
do Ministério da Saúde
e tusso
porque no fim das contas até que
o Ministério da Saúde tem razão
mas o que é que faz mal ou não?
não esquece do fio dental
gordura do bem, gordura do mal
não é bom por tanto sal
tudo parece tão sacal!
e quando se vê
aquela
imensa vontade de mudar as coisas
se tornou
aquela
imensa vontade de adquirir coisas
e
a felicidade já não é nada mais
que um tablete
fora do meu poder aquisitivo
e o consumo parece o único dispositivo
que me mantêm claro e vivo
(pegou a piada?)
e quando se vê a vida
parece resumida a um horário
de almoço
roendo rápido a carne até o osso
falando mal dos colegas ausentes
com os colegas presentes
enquanto a tv transmite
uma mesa redonda qualquer