A Cia. Vale do Rio Doce - CVRD, tinha um Usina Piloto para concentração de um minério de titânio, minério estratégico, no município de Tapira-MG, bem próximo de Araxá. E na parte mercadológica e comercial eu era o responsável, tendo viajado diversas vezes para a Usina em Tapira-MG. Nessas viagens passava na porta da CBMM - Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração, uma empresa supostamente nacional do Grupo Moreira Salles, única produtora nacional de nióbio.
Detalhe: A CBMM não permitia visitas a sua fábrica em Araxá. Tentei uma visita algumas vezes e não consegui.E a segurança na entrada das suas instalações é de fazer inveja a quase todos as áreas militares desse país.
Vide o artigo abaixo.
Paulo Cesar de Oliveira
Realidade e Ficção na Novela do Nióbio
O fato é que o Brasil negligencia o privilégio de ter quase
a totalidade das jazidas de um dos minerais mais cobiçados do planeta
por Hugo Souza
31 de agosto, 2012
Trata-se do nióbio, mineral que tem sido objeto de grande
controvérsia no Brasil, com alguns especialistas — e outros nem tão entendidos
assim — dizendo que o país o vende “a preço de banana” e que grande parte do
nióbio que sai do país é contrabandeado, tudo, segundo eles, sob as vistas
grossas de um Estado subserviente aos interesses dos grandes grupos econômicos
internacionais.
Muitas dessas considerações partem da afirmação, ainda que
feita sem muita fundamentação, de que os números que constam nos dados oficiais
sobre o nióbio que sai do Brasil são muito inferiores aos números do consumo
global do minério, o que seria estranho à luz do fato de que o Brasil produz
90% do nióbio usado no mundo.
Há alguns anos, por exemplo, o jornalista Cláudio Humberto
citou uma fonte identificada como “especialista na comercialização de metais
não-ferrosos”, segundo o qual “100% do nióbio consumido no mundo é brasileiro,
mas oficialmente exportamos só 40%”.
Do mensalão à Raposa Serra do Sol
Como alquimia, a suposta conta que não fecha transforma o
nióbio em matéria-prima não apenas para combustíveis revolucionários ou
supersupercondutores, mas também para informações desencontradas, suspeitas,
teorias da conspiração e até para a ficção mesmo, como a novela “Máscara”,
escrita por Lauro Cezar Muniz para a Rede Record, cuja trama gira em torno de
uma suposta “máfia no nióbio”.
Desta forma, a chamada “questão do nióbio” já foi
relacionada a temas tão diversos como o mensalão (Marcos Valério disse na CPI
dos Correios que “o dinheiro do mensalão não é nada, o grosso do dinheiro vem
do contrabando do nióbio”, e que José Dirceu estava negociando com bancos uma
mina de nióbio na Amazônia), a demarcação da reserva de Raposa Serra do Sol
(região que atrai forte atenção de ONGs ambientalistas ligadas a grupos
econômicos transnacionais e onde há grandes reservas de nióbio) e até a
presença dos irmãos Moreira Salles na última lista dos bilionários do mundo
publicada pela revista Forbes — fortunas que teriam sido conquistadas não
apenas no ramo bancário, mas sobretudo com a venda a chineses, japoneses e
coreanos (grandes consumidores de nióbio) de 15% da Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM), grupo que controla as operações na mina de
Araxá, em Minas Gerais, de onde sai cerca de 75% de todo o nióbio usado no
planeta.
O fato é que a condição de detentor de quase a totalidade
das jazidas globais de um dos minérios mais valiosos do planeta ainda não
resultou, inexplicavelmente, no condicionamento da exportação brasileira à
transferência de tecnologia por parte das nações ricas e importadoras, para que
o país consiga aumentar o valor agregado do metal, em vez de meramente fornecer
o material bruto.
A conta do prejuízo
Um estudo recente da agência norte-americana US Geological
Survey mostrou que a mineração brasileira, que explora 48 produtos minerais
entre os 71 analisados no mundo, é líder global apenas na extração do nióbio.
Tampouco isso impele o governo brasileiro a qualquer
movimento no sentido da ação mais elementar à vista da posição do país no
mercado mundial de nióbio: ser ele, o Brasil, a determinar o preço
internacional do produto, como por exemplo os países da Opep o fazem com o
preço do petróleo, de acordo com os seus interesses estratégicos.
Em recente artigo, Adriano Benayon, ex-diplomata, professor
aposentado do departamento de Economia da Universidade de Brasília e autor do
livro “Globalização versus Desenvolvimento”, apresentou a sua conta sobre o
prejuízo que o país tem ao não se investir em tecnologias que agreguem valor ao
mineral:
“Só com o nióbio o Brasil deixa de ganhar anualmente
centenas de bilhões de dólares. Diretamente perde cerca de US$ 40 bilhões, com
o descaminho e com a diferença entre o valor das ligas ferro-nióbio no exterior
e seu preço oficial de exportação, vezes
a quantidade. Por ter a economia brasileira sido desnacionalizada e
desindustrializada, a perda total é um múltiplo, maior que dez, dessa quantia.
De fato, os bens finais em cuja produção
o nióbio entra atingem preços até 50 vezes maiores que os valores reais no
exterior dos insumos à base de nióbio. Esses insumos — como os do tântalo, do
titânio, do quartzo etc – são ‘vendidos’
pelo Brasil por frações de seu valor no exterior. Já a China industrializa suas
matérias-primas. Com isso o produto nacional bruto multiplicou-se por 20 nos
últimos 30 anos, tornando-se a 2ª maior potência mundial”.