Quando nos conhecemos, nós éramos pessoas simples, sem quase nenhuma informação ou suposto conhecimento das coisas. Simplesmente estudávamos e íamos adquirindo o conhecimento da educação básica, que mais tarde, percebi que grande parte era mentirosa, como a história do nosso país ou não me servia para nada, como toda aquelas fórmulas químicas e físicas. Mas éramos felizes e alegres e a vida era agradável e sem quase nenhum tédio. Talvez porque nosso pires do conhecimento ainda nem estava pela metade.
E o tempo foi passando e nos separamos, cada um seguindo caminhos diferentes. Casamos, constituímos família e terminamos um curso superior. E com isso aumentamos muito nosso nível de informação e suposto conhecimento. Nosso pires do conhecimento aumentou consideravelmente, mais ainda não estava cheio.
Mas o conhecimento formal, societário, não preenchia nossa ânsia de saber e começamos então um outro caminho, o conhecimento de si mesmo, das coisas ocultas, o mistério, aquilo que supostamente é revelado a poucos. Foi por isso que começamos então, no final da década de 90 do século passado a ler os livros de auto-ajuda, de auto conhecimento e assuntos correlatos que naquela época costumávamos chamar de esoterismo e coisas afins.
Você meu amigo, começou primeiro do que eu nesse novo caminho, e quando iniciei, me lembro, foi por um convite teu em 1997. Foi então que entrei numa escola do Quarto Caminho de Gurdjieff em Friburgo-RJ.
Coisas paralelas começaram a surgir para mim nessa época, já que tinha mais tempo disponível do que você e novos relacionamentos surgiram na minha vida, haja vista, que “semelhantes atraem semelhantes”. Com isso mergulhei intensamente nesse ambiente de pessoas que buscavam esse conhecimento de si mesmos e não apenas o mundano. Tive e ainda tenho a clara impressão que os livros e as pessoas iam chegando na minha vida como se alguém, algum ser invisível, estivesse ajudando e corroborando para isso.
Estava eu com cerca de 42 anos quando tudo isso se iniciou, ou seja, há 16 anos atrás. Talvez fosse tarde, pois algumas pessoas iniciaram em idade menor, mas, embora tardio, foi intenso e profundo esse meu mergulho ao mundo da Busca, ou da espiritualidade.
Foram várias passagens por vários lugares, porém, uma particularidade me chamou a atenção, qual seja, nunca fiquei muito tempo em lugar nenhum, fui ficando até o ponto de apanhar, reter, o que me servia e seguia para outro lugar. Como uma abelha que recolhe o néctar das flores sem fixar residência. Esse comportamento não intencional me ajudou a não ser um simples seguidor fanático a qualquer instituição, religião ou seita. Mas, aprendi a respeitá-las e a colher o que alimentava a minha alma carente de saber, agradecer e seguir em frente. Pois a vida e o conhecimento são dinâmicos.
E assim fui seguindo essa estrada até que em setembro de 2001 conheci uma pessoa que me apresentou o livro “Um Curso Em Milagres” e comecei o seu estudo. Isso foi um marco para mim, pois as informações desse livro foram importantíssimas na medida em que me explicou de forma aceitável, várias dúvidas cruciais que tinha, como por exemplo: Jesus, o Espírito Santo, cristianismo, religiões, o mundo, o ego, Deus, pecado, céu, etc...Foi a melhor explicação que obtive até hoje sobre esses temas. Ainda hoje, nada melhor eu encontrei. Se é verdade ou não, já não tenho mais preocupações com a verdade. A verdade é aquilo que queremos ou precisamos acreditar, nada mais do que isso.
Mas agora estamos em 2013, ou seja, 16 anos se passaram entre aquele convite aceito e os dias de hoje. O que mudou em mim? E em você? Difícil dizer com precisão, pois há mudanças que não são visíveis. Do ponto de vista material, mensurável, visível, etc, não percebo quase nenhuma mudança, foram poucas. A grande mudança que percebo em mim (e só posso falar de mim e não de você) foi interna. Se boa ou má, não sei, acredito que foram boas em certo sentido, porém, aparentemente ruins em outro, por exemplo, vejo hoje o mundo como uma grande ilusão, algo sem sentido e isso me tira a vontade de viver esse mundo. É como diz Pessoa, o poeta: “Só os inocentes e os ignorantes são felizes”. Já não me sinto tão ignorante e muito menos inocente para acreditar em felicidade aqui nesse mundo. E fora desse mundo tudo é desconhecido e oculto.
Meu amigo, para terminar essa carta, recebi a informação que você teria entrado para a Maçonaria. Não sei se é verdade isso, pois não ouvi de você. No entanto, torço para que não seja verdade, pois com todo respeito que lhe tenho, acho isso um tremendo de um retrocesso.
Me perdoe por esse julgamento, mas se o faço é por consideração por você. Não vou explicar porque acho isso um retrocesso, pois me parece tão óbvio que não tenho paciência para explicações e justificações. Mas lhe digo, se depois de mais de 16 anos no Caminho, de tantas escolas, livros, palestras, vivências e experiências, etc; se é para chegar a Maçonaria, Rosacruz, Templários e toda essas instituições com seus rituais, cerimônias, dogmas, ética, normas de condutas, etc..., eu preferiria que nunca tivéssemos caminhado tanto tempo e com tanta intensidade na busca de um conhecimento melhor de nós mesmos.
Espero que no final você não se torne mais um mendigo espiritual que vive batendo nas portas dos templos buscando migalhas de um conhecimento que está lá fora, quando na verdade, todo esse conhecimento está dentro de você e com o Divino Espírito Santo.
Nessa altura, os rituais copiados do Antigo Egito, tampouco aglomerados de egos pessoais não poderão te ajudar, se ainda não compreendeste onde reside a Fonte.
Chega um ponto na estrada que deves seguir sozinho e uma reunião de pessoas só lhe atrapalharão. É um tempo de simplicidade e de um só Senhor ou Ajudante.
Haverá um tempo também, nessa mesma estrada, que terás que abandonar não só as religiões, as escolas iniciáticas, os dogmas, os rituais, as cerimônias e as regras de conduta e normas morais, como também os livros, pois você se tornará O Livro, e o Livro estará em ti.
O sábio só lê um livro, o livro da vida.
Abraços do amigo,
Paulo Cesar de Oliveria
16.03.2013