quarta-feira, 3 de outubro de 2012

VIVER DÓI



Há uma citação, uma frase do falecido Cazuza que termina simplesmente assim: “...morrer não dói”.

Fiquei pensando nisso, e vocês sabem que pensar enlouquece, a não ser que você já seja um louco, que é o meu caso.

Mas, se não enlouqueço ao pensar, por outro lado tenho a necessidade de escrever meus pensamentos. Talvez, ao escrever meus pensamentos eu evite que essa loucura do pensar me leve além da loucura. Quando leio Fernando Pessoa penso que ele também fazia poemas com seus pensamentos.

Já ouvi algumas pessoas dizerem que não gostam do Cazuza, talvez seja pelo fato dele não ter sido aquilo que podemos chamar de um exemplo de comportamento socialmente correto. Mas eu entendo o Cazuza e gosto de algumas músicas dele, principalmente, “Ideologia”. “Ideologia eu quero uma para viver”, “E as ilusões estão todos perdidas”.

Mas, se “morrer não dói”, e concordo com ele, apesar de não ter morrido ainda, dói morrer todos os dias, desde o nosso primeiro dia de nascimento. Ou seja, dói viver. Mas a dor do viver é uma dor diferente, parece que a medida que você mais vive menos dói, principalmente, ou fundamentalmente, se você vai perdendo o medo. O medo e a culpa é que fazem o viver dolorido. Observe, uma criança não sente dor quando vive, porque não tem medo. Na medida em que ela vai deixando de ser criança, ela vai adquirindo o medo dos outros e a vida começa a doer para ela.

Os músicos, os compositores, os pintores, os poetas, os artistas de uma maneira geral, eles conseguem perceber a vida de uma maneira diferente. Normalmente, eles não vivem muito tempo, eles costumam morrer mais cedo do que as outras pessoas. Estou falando dos grandes artistas, os grandes músicos, compositores, poetas, etc. Aqueles que se sobressaíram em suas artes. Isso acontece porque a “dor de viver” deles é maior do que a dos outros. Porque eles absorvem não só a dor que é deles, mas as “dores do mundo”.

É por isso que a maioria das pessoas não entende um artista e a sua obra. É por isso que muita gente não entende uma poesia e tenta interpretá-la como se fosse a vida ordinária. É por isso que muita gente não compreende um quadro de um pintor. É por isso que muita gente não entendeu o Cazuza. Porque ainda não compreenderam a dor da vida. “A dor e a delícia de ser o que é...”

“Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor”


(© 04.10.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)