quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MINHA PRÓPRIA TABACARIA

Sinto-me hoje vencedor e ao mesmo tempo vencido.
Lúcido, como se estivesse preparado para a morte,
Como se não tivesse mais irmandade com as coisas
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu
Com a sensação de que tudo é sonho, sem nenhuma realidade por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,

Não me serve para nada
Tudo que aprendi, aprendi vivendo, com alegria, tristeza, felicidade e dor
Até mesmo esse tal de amor
Fui a campo com grandes propósitos
E hoje percebo que a única e verdadeira coisa a ser conquistada
É o conhecimento de Quem Eu Sou
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Penso tanta coisa!
Vivi, estudei, amei e até cri,   
No final fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não fiz
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.

E escrevo esta história para provar que sou sublime.

Tão sublime quanto meu poeta Fernando Pessoa, 
porém desconhecido até de mim mesmo.

(Paulo Cesar de Oliveira)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O VICIADO


Escrever era o seu vício.
Ele tinha escapado de vícios que considerava piores.
Como por exemplo, o tabagismo, o alcoolismo, as drogas e a televisão.
Mas não pode escapar do vício de escrever.
Não era um vício tão antigo assim, talvez uns cinco ou seis anos.
Talvez ele tenha se cansado de ler e passou a escrever.
Mas ele estava cada vez mais absorvido e envolvido nesse vício.
O vício de escrever o estava dominando cada vez mais.
Acordava na madrugada, como uma idéia na cabeça.
Sentava em frente ao computador, abria o editor de texto e começava a escrever.
“Penso! Logo escrevo”. Dizia ele.
As idéias e os assuntos surgiam do nada, do além ou de qualquer outro lugar desconhecido.
Quase ninguém entendia ou compreendia o que ele escrevia.
Eram assuntos estranhos, pouco ortodoxos, e talvez até complexos. Segundo a grande maioria das pessoas.
Muitas vezes ele falava de um amor perdido, de uma desilusão amorosa.
E chamava aquelas mal arrumadas palavras de “poemas”.
E aproveitando-se dos tempos informatizados e cibernéticos enviava aquelas coisas escritas para o e-mail das pessoas.
Ou as postava num blog, numa rede social.
Normalmente as pessoas não falavam nada sobre isso.
Mas algumas entendiam ou compreendiam diferente do sentido que ele dizia.
Elas interpretavam e analisavam e por fim julgavam-no pelas conclusões que tiravam daquelas suas coisas escritas.
Na maioria das vezes ele pacientemente tentava explicar o que queria dizer. Porém algumas vezes se irritava com o que considerava ignorância e preguiça do leitor.
Me lembro que uma vez alguém leu o seu escrito e disse: “eu já estive nessa”, “sai dessa”.
Ele ficou furioso, irado.
Sem saber onde estava. Sair de quê?
Era o absurdo da incompreensão humana.
Então não existe mais a conotação e a denotação?
E a metáfora?
A metonímia?
E todas as figuras de linguagem.
E a licença poética?
A lírica?
A liberdade de expressão.
Foi quando percebeu que o leitor não sabia o que era isso.
Desde então ele ficou mais triste.
Pois percebeu que seu vício.
Era só seu.
E de mais ninguém.
Estava sozinho mais uma vez.
Escrever era a sua cocaína, a sua maconha, a sua cachaça, o seu cigarro e a sua novela.
Sim, ele não estava imune, não estava limpo como pensava.
Ele também tinha o seu vício.
Ele também era um viciado.
De tanto ler, tinha ficado “burro”.
De tanto escrever, tem ficado mudo.
A vida é um mistério.
Tudo é oculto.
Ele agora estava sozinho.
Condenado a  escrever.
Isolado na multidão.
Suas palavras escritas eram seu último refúgio.
Seu grito de alerta.
Seu último contato com o mundo exterior.
Mas ninguém entendia o que ele dizia.
Será que ele falou o que não podia?
Será que ele ouviu o que não devia?
Realmente a vida é um mistério e tudo é oculto.
Talvez seu fim seja permanecer confinado o resto do que resta da sua vida numa biblioteca pública.
Escrevendo livros que nunca serão lidos.
Coitado!
Ele era um viciado.
Estava condenado.
Ele só tinha uma chance de escapar desse vício.
Se tornar aquilo que ele escrevia.
Ser o próprio amor que buscava.
Fundir-se na mulher que tanto amava.
Ser Um.
E ao mesmo tempo nenhum.
Nenhum de nós.
  
(© 29.10.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"A ignorância é a noite do Espírito"

"Não se apegue nem se apoie no que é transitório"

"Cura a tua mente e toda doença desaparecerá"

sábado, 20 de outubro de 2012

EU DESCOBRI - Gilberto Gil

(...)
Pobre de mim
Pensei que ainda havia o que descobrir
Pensei que aquele dia fossem surgir
Anjos no céu, pobre de mim

Pobre de mim
Ali naquele instante igual aos demais
Eu percebi que o encoberto jamais
Nos mostrará seu corpo, a escuridão
Porque a escuridão é o que não se vê

A não ser
Que um novo Cristo volte mais uma vez
Agora, ontem, hoje, antes e após
Para mostrar a todos todos os sóis
E todos os buracos negros também

Quem me diz
Que a gente nunca poderá ser feliz
A menos que alcancemos o além da luz
Oh! Meu Jesus, meu bom Jesus.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012



A ARTE DE ESCREVER O QUE NÃO PODE SER EXPLICADO POR PALAVRAS


Ao começar esse texto eu só tinha o título, isso não é normal em mim, pois, normalmente eu escrevo e depois escolho um titulo.
 
“Eu penso, logo existo”. Não! O certo é, “eu penso, logo escrevo”. Mas como escrever algo tão volátil como os pensamentos? E ainda assim ser compreendido ou se fazer entendido? Sei lá! Melhor é colocar os pensamentos e idéias na tela do computador e ir arrumando, colocando as palavras em ordem, alguma ordem que seja. Isso é um quebra-cabeça de símbolos que se chamam palavras.

A maravilhosa Clarice Lispector disse assim um dia: “Escrever é uma maldição”. Não sei exatamente porque a poetisa disse isso, mas se é maldição, é uma maldição que salva.

Mas eu menti, acabei de mentir para vocês. Ou sei sim, por que Lispector disse isso. “É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui”.

Mas por que ele salva? Salva de quê? De outros vícios. Por exemplo, me salva da televisão.

É verdade, reconheço que tenho esse vício de escrever. E pior do que isso, tenho exposto vocês a esse meu vício. Hoje mesmo, quando todo mundo está vendo o final da novela da Globo, uma coisa tão saudável e útil, cá estou eu, escrevendo para vocês. Não! Outra mentira, escrevendo para mim mesmo e obrigando vocês a lerem o que escrevo.

Do que eu mais gosto de escrever é umas coisas que chamo de “poemas”. Nos últimos cinco anos escrevi mais de cem. Exatamente hoje tenho publicado 100 poemas no meu blog, mas tem alguns que não foram publicados em lugar nenhum.

Nesses nossos tempos modernos, cibernéticos, visuais, virtuais, etc, ninguém quer ler um texto grande, um livro, um poema grande. Vocês nem são da época das cartinhas de amor, ou se eram não se lembram mais, mas “todas as cartas de amor são ridículas” como disse o poeta Pessoa. O mundo tem pressa e as pessoas não podem mais perder tempo em leituras, melhor ver as figuras, os ícones.

Mas aí está o cerne do meu problema e do meu vício de escrever, tenho imensas dificuldades de me adaptar a velocidade e modo desse mundo moderno. Por isso, enquanto todo mundo, quer saber quem matou Max, eu apenas tento manter vivo o meu amor escrevendo esses meus sentimentalismos e pensamentos. E correndo todo o risco de não ser entendido porque minhas palavras nunca poderão definir e explicar meu coração.


Meu amor! Se eu fosse um pintor,
ou um escultor
Te mostrava toda nua
Que é como eu te gosto mais
E como te sinto melhor
Mas como sou apenas um poeta
Tento tirar você dos meus pensamentos
Colocando-a  em meus poemas
Que é como sei fazer
E é como sei de esquecer
 



(© 19.10.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Somos responsáveis pelos nossos atos
Mas não somos responsáveis pelo que sentimos
O máximo que podemos fazer é tentar compreender nossos sentimentos
Mesmo assim, isso é uma tarefa bem difícil
Eu nunca poderia te amar
Mas te amei assim mesmo
Sinto não poder te esquecer
Mas sinto menos do que antes

(Paulo Cesar de Oliveira)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A FARSA DO VOTO VÁLIDO E DO VOTO OBRIGATÓRIO



Observe e analise a notícia abaixo das eleições municipais de agora em 2012.

25% (um quarto) do eleitorado brasileiro votou nulo, em branco ou se abstiveram nessas eleições. 

Eu sou um deles. E não tenho nenhum dúvida em afirmar que nesses 25% dos eleitores estão as pessoas mais inteligentes e conscientes desse país. Aqueles que por serem os melhores nunca poderiam ser ovelhas ou gado, manipulados e manobrados PELA FARSA DO "VOTO VÁLIDO" E DO VOTO OBRIGATÓRIO, CUJO ÚNICO OBJETIVO É MANTER O PODER NA MÃO DOS MESMOS E DE SEUS FAMILIARES. 

POVO IGNORANTE É POVO POBRE!

12 de outubro de 2012 


DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
São impressionantes os números que traduzem a opção preferencial de boa parte do eleitorado pelo silêncio diante das urnas municipais: 25% dos brasileiros e 30% dos paulistanos anularam, deixaram o voto em branco ou simplesmente se abstiveram.
Somados, são 35 milhões de eleitores voluntariamente apartados do processo de escolha. Em São Paulo foram 2,4 milhões e ultrapassaram a votação dos dois primeiros colocados: José Serra (1,8 milhão) e Fernando Haddad (1,7 milhão).
Um contingente considerável. Digno de chamar atenção dos partidos que, no lufa-lufa dos preparativos para as disputas do segundo turno, não têm dado importância ao assunto.
Pelo menos não falam disso como seria de se esperar, tendo em conta a necessidade dos candidatos pela maior quantidade possível de votos válidos.
Talvez para 2012 seja tarde para reagir e dar uma resposta a essa legião que arranja seu próprio jeito de escapar da imposição (antiquada) do voto obrigatório.
Na prática, vota quem quer. A obrigatoriedade só serve para dar mais trabalho a quem não quer. Contudo, fosse o voto facultativo, a ausência não seria ainda maior?
Provavelmente. Mas pelo menos os partidos não teriam garantida uma reserva de mercado. Os políticos precisariam trabalhar mais, se comportar melhor e dar ouvidos à opinião pública na entressafra dos períodos eleitorais se quisessem assegurar presença razoável do público na hora de votar.
Claro que o distanciamento entre representantes e representados não decorre da obrigatoriedade do voto. A crescente indiferença é sintoma de algo muito maior. Problema de diagnóstico conhecido e solução sempre apontada na direção da reforma política.
Pregação que tem se mostrado inútil porque os partidos de verdade não querem mudar coisa alguma. Ficam discutindo em termos incompreensíveis aos ouvidos da maioria que obviamente não se entusiasma com o debate.
Isso quando não insistem em propostas desprovidas de respaldo social. É o caso do financiamento público de campanha.
Ora, se o público se afasta do processo eleitoral, é de se concluir que não esteja disposto a pagar mais por isso.
Aqui voltamos à questão do voto obrigatório: o que mais poderia aproximar a população da política se não a proposição de um tema que afeta diretamente seus direitos e deveres?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

UM, DOIS E TRÊS

A primeira vez que me apaixonei
Eu não sabia o que era a paixão ou o amor
E a paixão me levou
 
A segunda vez que me apaixonei
Eu já conhecia a paixão
Mas ela me levou assim mesmo

A terceira e última vez que me apaixonei
Eu já era um homem maduro,
ou deveria ser
Mesmo assim...

Nada restou de mim

(09.10.2012 - Paulo Cesar de Oliveira)


domingo, 7 de outubro de 2012

Hoje é dia de eleições em todo país, então aí vai minha mensagem para esse povão que me assusta com sua esperança:

"O meu partido é o coração partido,
Meus inimigos estão no  poder,
Ideologia, eu quero uma para viver"

(Cazuza)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Companheiro Lewandowski você é escrotovowski, e mais nada tenho a dizer. Data Venia.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

VIVER DÓI



Há uma citação, uma frase do falecido Cazuza que termina simplesmente assim: “...morrer não dói”.

Fiquei pensando nisso, e vocês sabem que pensar enlouquece, a não ser que você já seja um louco, que é o meu caso.

Mas, se não enlouqueço ao pensar, por outro lado tenho a necessidade de escrever meus pensamentos. Talvez, ao escrever meus pensamentos eu evite que essa loucura do pensar me leve além da loucura. Quando leio Fernando Pessoa penso que ele também fazia poemas com seus pensamentos.

Já ouvi algumas pessoas dizerem que não gostam do Cazuza, talvez seja pelo fato dele não ter sido aquilo que podemos chamar de um exemplo de comportamento socialmente correto. Mas eu entendo o Cazuza e gosto de algumas músicas dele, principalmente, “Ideologia”. “Ideologia eu quero uma para viver”, “E as ilusões estão todos perdidas”.

Mas, se “morrer não dói”, e concordo com ele, apesar de não ter morrido ainda, dói morrer todos os dias, desde o nosso primeiro dia de nascimento. Ou seja, dói viver. Mas a dor do viver é uma dor diferente, parece que a medida que você mais vive menos dói, principalmente, ou fundamentalmente, se você vai perdendo o medo. O medo e a culpa é que fazem o viver dolorido. Observe, uma criança não sente dor quando vive, porque não tem medo. Na medida em que ela vai deixando de ser criança, ela vai adquirindo o medo dos outros e a vida começa a doer para ela.

Os músicos, os compositores, os pintores, os poetas, os artistas de uma maneira geral, eles conseguem perceber a vida de uma maneira diferente. Normalmente, eles não vivem muito tempo, eles costumam morrer mais cedo do que as outras pessoas. Estou falando dos grandes artistas, os grandes músicos, compositores, poetas, etc. Aqueles que se sobressaíram em suas artes. Isso acontece porque a “dor de viver” deles é maior do que a dos outros. Porque eles absorvem não só a dor que é deles, mas as “dores do mundo”.

É por isso que a maioria das pessoas não entende um artista e a sua obra. É por isso que muita gente não entende uma poesia e tenta interpretá-la como se fosse a vida ordinária. É por isso que muita gente não compreende um quadro de um pintor. É por isso que muita gente não entendeu o Cazuza. Porque ainda não compreenderam a dor da vida. “A dor e a delícia de ser o que é...”

“Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor”


(© 04.10.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)
E foi naquela Época...
A poesia chegou me procurando.
Eu não sei, não sei de onde ela veio,
se de um inverno ou de um rio.
Eu não sei como nem quando.
Não, não eram vozes,
não eram palavras, nem silêncio;
mas de uma rua eu fui chamado abruptamente
dos ramos da noite, dos outros,
no meio de um tiroteio violento,
e num retorno solitário lá estava eu
sem um rosto... e ela me tocou.


Pablo Neruda, o poeta das coisas
"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma  pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se  abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e  breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi."

 [ Cazuza ]

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A DISTORÇÃO DO ENTENDIMENTO

Que difícil é propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro, ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo, ou irritamo-la, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer, e então o outro julga segundo o que é, ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas pelo menos nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a atribuir-lhe, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto, ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista: tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural, ou antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

PARA VOS POUPAR AO MEU AMOR

Sentada à mesa do jantar, troco com a família considerações de recém-licenciada. Constato, pela primeira vez e com alguma violência, que o mundo contemporâneo não foi feito para mim. Ou que eu não fui feita para o mundo contemporâneo. 

Sinto - fulminantemente e obscuramente e dolorosamente - que a matéria de que sou feita não poderá resistir a um só dos maravilhosos planos que a civilização humana tem preparados para mim desde há séculos: ser mulher, mãe, trabalhadora, cidadã. Crente, protestante. 

Ser amiga, ser amante. Sou uma peça do puzzle que não encaixa, um produto industrial com defeito de fabrico. Tenho por dentro um intruso, um inimigo invencível. Estou à mercê de um predador implacável. 

Compreendam: eu não posso esperar pelo Natal para que possa dizer que vos estimo. Eu não posso esperar pelo fim das coisas para que possa dizer que vos desejo bem. Do que eu preciso é de um mundo onde possa citar Rilke sem correr o risco de ser internada. 

Onde possa viver livremente o meu romantismo sôfrego e vagamente idiota. Um mundo onde possa aparecer - sem livro para devolver, sem DVD para pedir emprestado - e dizer «Tudo, exceto tu, é rotina peganhenta»!
 
Ouvir dizer «amo-te» era fácil, hoje já é mais complicado. Requer muito treino, não estamos preparados. Fomos educados para sermos acima de tudo eficazes. Nada nos foi dito na aula de descer abismos. Nada vem escrito nos livros que lemos. Tudo nos abala, nos confunde. Nos funde por vezes com o que, depois vemos, não é digno do nosso amor.

Ah, o amor. O amor faz-se se houver tempo. O amor faz-se aos bocadinhos e só se convier. O amor faz-se na pausa para o café. O amor é uma aberração. O amor mete medo. Chega-te para lá com esse «adoro-te»! Não me venhas com esse «gosto de ti»! Cai-nos a PIDE do amor em cima, és apanhado e vais dentro. O amor quer-se preso pela trela. O amor quer-se de castigo no canto da sala. Pouca conversa, pouco barulho. O amor custa. Perde-se tempo e dinheiro. 

O amor está fora de moda. Não condiz com as batas brancas da biologia nem com os botões coloridos da tecnologia nem com a cor do papel dos contratos pré-nupciais. O amor é para meninos, ser-se crescido é outra coisa. O amor foi-nos confiscado.
 
Não contem comigo. Eu não tenho jeito nenhum para ser a pessoa que todos esperam. Não tenho competência para ficar a ver o amor passar sem correr atrás. Compreendam: o amor é a minha campainha de Pavlov.
 
Estímulo-resposta, como me foi explicado na escola de fazer profissionais.
 
Eu não tenho jeito para telefonemas nem para passeios em centros comerciais.
 
Não contem comigo para ser cão que ladra mas não morde. Não contem comigo para não dizer o que não é suposto. Para cancelar beijos, inventar pretextos, sufocar euforias, adiar alegrias. Para vos escutar em silêncio.
 
Para vos poupar ao meu amor, não contem comigo. Compreendam: eu não me posso comprometer.

(Susana Cristina Marques Santos, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa')

NOSTRADAMUS

Ninguém resiste ao tsunami da Internet. Quando se junta a Nostradamus, sai de baixo. A Internet descobriu que, já no século 16, “Nostradamus previu o governo Lula”. Está no livro Visão das trevas, grandes catástrofes da humanidade, de Nostradamus (Editora Record. Rio);

1. “E, próximo do 3º ano do 3º milênio, uma besta barbuda (sic) descerá triunfante sobre um condado do hemisfério sul (sic), espalhando desgraça e miséria”. 2. “Será reconhecido por não possuir seus membros superiores totalmente completos” (sic). 3. “Trará com ele uma corja (sic) que dominará e exterminará as aves bicudas (sic) e implantará a barbárie por muitas datas sobre o povo tolo e leviano”.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O CAMINHO SOMOS NÓS

O desejo de liberdade, de liberação, da iluminação, da auto-realização, de desenvolvimento, ou qualquer outro nome que lhe possamos dar, nasce com o homem nesse mundo, mesmo adormecido em seu Ser e provavelmente por várias vidas esperando ser despertado do seu sono profundo.

Mas não entendo esse desejo como uma resposta a um chamado externo. Não é o que ouvimos falar da iluminação e que, por isso, desejemos nos tornar iluminados. Não é embarcar numa viagem só porque algumas pessoas que conhecemos estão nela. Não é um mero capricho.

A busca é um assunto muito pessoal, um interesse intimamente ligado a nós, sobre a nossa vida. É uma resposta a um chamamento interior, a princípio vago, uma chama quase imperceptível e misteriosa. Aparece como um questionamento sobre a desarmonia em que vivemos. É a nossa desarmonia, como a experenciamos. É o nosso próprio questionamento. E é o nosso próprio anseio pessoal.

Se desejamos receber a iluminação ou nos realizarmos como alguém, de quem ouvimos falar que atingiu essa realização, então, esta ainda não é a nossa busca. É a de outra pessoa, de um Buda, de Jesus, ou de um Maomé.

O impulso deve vir de dentro de nós, das nossas entranhas. Esse questionamento deve ser sobre a nossa vida presente, a nossa mente e não sobre qualquer sistema já estabelecido. Podemos usar qualquer dos sistemas para nos ajudar, mas devemos estar voltados para a nossa vida, a nossa mente e a nossa busca. Por isso, a idolatria a qualquer ídolo não é recomendável e necessária.

Para mim a iluminação não segue nenhum sistema. Deve resolver e esclarecer a nossa própria vida. A realização deve satisfazer e preencher o nosso coração e não os padrões de qualquer sistema existente. A libertação deve ser nossa, pessoal.

O caminho somos nós, a nossa mente, e o nosso coração. O chamado é o nosso chamado, importante para a nossa vida e nos fala intimamente.

O chamado, o caminho e a realização são todos assuntos extremamente pessoais. Tudo o mais não é nosso e não podemos usar nada mais para nós mesmos, nem sequer para os outros. A solução completa para a nossa vida é estritamente pessoal.

A busca não nos traz aprimoramentos, perfeição ou a felicidade. Traz-nos maturidade, paz, humanidade e sabedoria. 

Por mais longe que eu ainda possa estar, essa é a minha busca.

(Paulo Cesar de Oliveira)