Não gosto de poemas alegres,
falando de amores, paixões, essas bobagens todas que as pessoas vivem
repetindo sem a menor idéia do que estão falando, como bêbados. É uma
chatice esses poemas melosos, da mesma forma que é um "porre" aturar
bêbados.
Observe meu amigo, minha
amiga, que os melhores poetas como Fernando Pessoa, Clarice Lispector,
Cecília Meireles, Carlos Drummondde Andrade, Manuel Bandeira são
tristes, seus poemas, via de regra são tristes. Não sei se ocorre com
vocês, mas os poemas alegres me passam a sensação de que faltou
espontaneidade ou mesmo coragem ao poeta. É que guardo a impressão de
que os poetas são tristíssimos. E aproveitam das melancolias da alma
para derramar nos papéis seus desamores e desventura.
Acho que os poetas entendem o que digo. Na verdade, os poemas alegres não combinam com o ofício de poeta.
Trago essas impressões banais porque deparei-me com a notícia de que uma editora lançará livro com
seleção de poemas alegres e educativos às crianças.
Passei-me a questionar o porquê da pedagogia infantil estar sempre
relacionada à alegria, se a poesia e os melhores questionamentos da vida
nascem da tristeza. Em momento triste e reconfortante, Fernando Pessoa
até escreveu: “Ah! A imensa felicidade de não precisar estar alegre”.
É que a tristeza, quando
costumeira e amiga, torna-se aliada contra
os combates diários da rotina. O mesmo acontece com a não felicidade.
Não adianta combatê-la, não adianta buscá-la. Ela simplesmente é
e existe. Os poetas são tristes, sim. Mas não nasceram tristes. Eles
souberam render-se aos encantos, mesmo que tardiamente, talvez.
Na verdade, poeta é aquele
que faz da tristeza, da infelicidade e da sua própria vida, uma linda
poesia. Por isso um poeta também é um místico ou um bruxo para aqueles
que não possuem preconceitos religiosos.
E da tristeza, não se faz
apenas poetas. A tristeza é necessária como alicerce e ponte para a
felicidade. Ou mesmo para compreender sentimentos alheios, situações as
mais variadas. Se você quer saber alguma coisa da alma de uma pessoa
você tem que aprender a ler a sua tristeza oculta e não sua alegria
aparente e disfarçada. É sim, a tristeza também se disfarça de alegria.
Você não sabia?
E como ensinar melancolia ou tristeza de forma pedagógica às crianças?
Que tal procurar as formas lúdicas? Muitas delas estão presentes nas
artes: a literatura, o
cinema, o teatro; a poesia triste! Nelas, pode-se descobrir belezas que
enchem os olhos d’água, de lágrimas verdadeiras, e tristes. Por que não?
Meu caro leitor, você que tem
suportado com paciência e tristeza os meus escritos, eu vos digo:
desconfiem de poetas e poesias felizes e alegres. Provavelmente não é um
poema e se for um poema, com certeza não terá poesia.
Paulo Cesar de Oliveira