domingo, 20 de maio de 2012

DA POESIA ALEGRE E TRISTE

Não gosto de poemas alegres, falando de amores, paixões, essas bobagens todas que as pessoas vivem repetindo sem a menor idéia do que estão falando, como bêbados. É uma chatice esses poemas melosos, da mesma forma que é um "porre" aturar bêbados.


Observe meu amigo, minha amiga, que os melhores poetas como Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Carlos Drummondde Andrade, Manuel Bandeira são tristes, seus poemas, via de regra são tristes. Não sei se ocorre com vocês, mas os poemas alegres me passam a sensação de que faltou espontaneidade ou mesmo coragem ao poeta. É que guardo a impressão de que os poetas são tristíssimos. E aproveitam das melancolias da alma para derramar nos papéis seus desamores e desventura.

Acho que os poetas entendem o que digo. Na verdade, os poemas alegres não combinam com o ofício de poeta.

Trago essas impressões banais porque deparei-me com a notícia de que uma editora lançará livro com seleção de poemas alegres e educativos às crianças.

Passei-me a questionar o porquê da pedagogia infantil estar sempre relacionada à alegria, se a poesia e os melhores questionamentos da vida nascem da tristeza. Em momento triste e reconfortante, Fernando Pessoa até escreveu: “Ah! A imensa felicidade de não precisar estar alegre”.

É que a tristeza, quando costumeira e amiga, torna-se aliada contra os combates diários da rotina. O mesmo acontece com a não felicidade. Não adianta combatê-la, não adianta buscá-la. Ela simplesmente é e existe. Os poetas são tristes, sim. Mas não nasceram tristes. Eles souberam render-se aos encantos, mesmo que tardiamente, talvez.

Na verdade, poeta é aquele que faz da tristeza, da infelicidade e da sua própria vida, uma linda poesia. Por isso um poeta também é um místico ou um bruxo para aqueles que não possuem preconceitos religiosos.


E da tristeza, não se faz apenas poetas. A tristeza é necessária como alicerce e ponte para a felicidade. Ou mesmo para compreender sentimentos alheios, situações as mais variadas. Se você quer saber alguma coisa da alma de uma pessoa você tem que aprender a ler a sua tristeza oculta e não sua alegria aparente e disfarçada. É sim, a tristeza também se disfarça de alegria. Você não sabia?


E como ensinar melancolia ou tristeza de forma pedagógica às crianças? Que tal procurar as formas lúdicas? Muitas delas estão presentes nas artes: a literatura, o cinema, o teatro; a poesia triste! Nelas, pode-se descobrir belezas que enchem os olhos d’água, de lágrimas verdadeiras, e tristes. Por que não?

Meu caro leitor, você que tem suportado com paciência e tristeza os meus escritos, eu vos digo: desconfiem de poetas e poesias felizes e alegres. Provavelmente não é um poema e se for um poema, com certeza não terá poesia.



Paulo Cesar de Oliveira