quinta-feira, 31 de maio de 2012

UMA DELICADA FORMA DE CALOR

Eu me lembro
de você ter falado
Alguma coisa sobre mim
E logo hoje, tudo isso vem à tona
E me parece cair como uma luva
Agora, num dia em que eu choro
Eu tô chovendo muito mais do que lá fora
Lá fora é só água caindo
Enquanto aqui dentro, cai a chuva

E quanto ao que você me disse
Eu me lembro sorrindo
Vendo você tão séria
Tentar me enquadrar, se sou isso
Ou se sou aquilo
E acabar indignada, me achando totalmente impossível
E talvez seja apenas isso:
Chovendo por dentro
Impossível por fora

Eu me lembro de você descontrolada
Tentando se explicar
Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
Tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente

E talvez, a chuva, o cinza,
O medo, a vida, sejam como eu
Ou talvez , porque você esteja de repente,
Assistindo muita televisão

E como um deus que não se vence nunca
O seu olhar não consegue perceber
Como uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza
E o frio, uma delicada forma
De calor


(Lobão)

terça-feira, 29 de maio de 2012

POEMA OU POESIA?


"A poesia foi, inicialmente, sentimento. O homem escutou a voz íntima que lhe falava em silêncio e cantou.” Humberto de Campos

Fui, por diversas vezes, na sala de aula, questionado por alunos, se os vocábulos poesia e poema eram a mesma coisa; se tinham o mesmo significado; se era certo, correto usar tanto poesia quanto poema, em referência a um conjunto de versos escritos por alguém?
Esse questionamento se justifica pelo comum uso que fazemos de poesia e poema como sinônimos. Porém, no estudo puro da composição poética, perceberemos que nem toda composição versificada contém poesia. Poderíamos até dizer, com toda confiança, que a poesia não precisa necessariamente do verso para se manifestar. Assim é que podemos encontrá-la na prosa, e até mesmo em outras manifestações artísticas, como a pintura, a música, etc. Perguntaria: como isso é possível? É possível porque a poesia é gerada, para o apreciador da obra, pelo conteúdo de uma forma de expressão.
No processo do conhecimento e do relacionamento do homem com o mundo, existe uma manifestação paralela à inteligência, à racionalidade, que é a emoção. Você pode olhar o pôr-do-sol com os olhos de um astrônomo, defini-lo e explicá-lo. Mas pode também, olhá-lo com os olhos de um artista e diante daquela síntese de imagem e cor sentir algo estranho, emocionar-se. Tomados então por este estado de admiração, passamos a desenvolver um sentimento de prazer diante do belo: o prazer estético.
Assim, a leitura de um poema ou a contemplação de um quadro, pode sensibilizar-nos, a ponto de despertar em nós um estado emotivo ou lírico. É a sublimidade da beleza poética, que reflete as mais profundas e elevadas sensações do espírito humano, e que constitui na essência, o lirismo.
Antônio Soares Amora dá-nos uma clara definição de poesia e poema:
Poesia é o estado emotivo ou lírico do poeta, no momento da criação do poema; o estado lírico reviverá na alma do leitor se este lograr transformar o poema em poesia.
Poema é a fixação material da poesia, é a decantação formal do estado lírico. São as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e que se escrevem, e assim fixam e transmitem o «estado lírico» do poeta.
Costumava, sempre, exemplificar estas definições, comparando-as com um caule e sua flor: o caule, as folhas, os espinhos e a flor formam o poema (é a parte material), mas o perfume que exala da flor é a poesia.
E para fecharmos, sinta a poesia deste texto em prosa:
“Era por uma dessas noites vagarosas de inverno, em que o brilho do céu sem lua é vivo e trêmulo; em que o gemer da mata é profundo e longo; em que a solidão dos riachos é absoluta...” (A. Herculano)
___________________________________________________
Ricardo Sérgio

SOU PASSAGEIRO A CAMINHO DE CASA

Não sou tristeza nem alegrias
Sou cansaço e ironias
Não sou samba nem canção
Sou desamor e ilusão
Não sou feliz nem infeliz
Sou aprendiz
O que sou se confunde com aquilo que não sou
Todos os dias me engano
E quando amanhece eu me renovo
Sou passageiro a caminho de casa
Dentro de um trem desgovernado
Que chamam mundo
Fico a olhar pela janela
E o que vejo dizem que se chama vida

(© 21012  5   -  Paulo Cesar de Oliveira)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O OFÍCIO DA LEITURA

Percebo claramente que a literatura já não me interessa verdadeiramente. Quero dizer que já não abro os livros com aquela viva e ansiosa esperança de coisas espirituais que, apesar de tudo, outrora sentia.

Ainda leio, mas já não recebo as várias experiências com entusiasmo, começo a ler qualquer livro, por mais interessante que seja, e nem consigo chegar a metade. Tudo me parece repetições e comércio.

Tomadas em justa conta as minhas várias equimoses, obsessões, fadigas e terrenos estéreis, resulta claro que já não sinto a vida como uma descoberta e, antes, como um frio material para especulações, análises e deveres. Aqui encalha, agora, a minha vida: tudo coisas que se aprendem nos livros, mas os livros não alimentam como o faz, pelo contrário, a esperança.

Ora, quando novo, procurava informações e me tornei um impassível explorador, vivia-a e desfrutava os livros. Vivia jogado em bibliotecas e sebos no Rio de Janeiro. Agora, desfiz-me de quase todos meus livros e deixei apenas uns 20 o que me pareceu mais uma escolha sentimental e emocional do que intelectual.

Os livros hoje, definitivamente, não me servem, sequer, para viver.
E o pior, sinto náuseas e indiferença quando vejo uma estante cheia de livros. Acho que até sinto dó dessa pessoa. Porque o excesso de leitura pode levá-la a um labirinto sem saída.

Mas não perdi meu tempo, afinal, até agora, ao ler os livros pude chegar a poesia dos grandes poetas, ou o estado atual de mais profunda contemplação e observação.

domingo, 27 de maio de 2012

O QUE VOCÊ SABE?


Você sabe da onde eu venho?
Você sabe da onde você veio?
Você sabe ou você supõe?
Você sabe ou você ouviu ou leu em algum lugar?

Mais hein?!?


 
Você sabe para onde eu vou?
Você sabe para onde você está indo?
Você sabe ou você supõe?
Você sabe ou você ouviu ou leu em algum lugar?

Você sabe quem eu eu sou?
Você sabe quem você é?
Você sabe ou você supõe?
Você sabe ou você pensa que sabe?

Afinal, vamos encurtar essa história

O que você sabe que eu não sei?
O que eu sei que você não sabe?


(Paulo Cesar de Oliveira)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro, Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim. Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei. Eu reinei no que nunca fui."

Fernando Pessoa

É O FIM QUE CONFERE O SIGNIFICADO ÀS PALAVRAS

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. 

Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. 

Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. 

Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ENFIM


Enfim parei de buscar Deus
Finalmente compreendi que era mais fácil
Deixar Deus me achar do que procurá-Lo
Ele sabe meu endereço, meu CEP
Ele sabe onde me encontrar

Enfim parei de buscar o amor
Só encontrei ilusão e dor

Enfim parei de buscar a felicidade
Ela se afastava cada vez mais de mim
Cada vez que eu a buscava

Enfim parei de buscar tua aceitação
E compreensão
Ainda busco compreender a mim mesmo

Não quero buscar mais nada
Mas vou ficar aqui te esperando
Você não é Deus
Mas também sabe onde me encontrar

Bata a minha porta e ela se abrirá
Feche o teu coração e eu trancarei a minha porta

Me julgue e eu te perdoarei

Me ignore e eu te escreverei
Os poemas que faço enquanto te espero


(© 23.05.2012  -  Paulo Cesar de Oliveira)

OS TESOUROS DE MINAS

As Minas Gerais
Trazem tesouros
Mas não são gerais
São para poucos
E para homens de verdade

Os tesouros das Minas Gerais
Não é o ouro de Ouro Preto
Não são os diamantes de Diamantina
Muito menos o minério de ferro de Itabira

Os tesouros das Minas Gerais
São suas mulheres  

Conheci alguns desses tesouros
Consegui guardar uns
 
Não coloquei no cofre
Nem no banco
Guardo aqui mesmo
Dentro do meu coração

(Paulo Cesar de Oliveira
Economista aposentado, descansado
e metido a poeta. Em 23.05.2012)

terça-feira, 22 de maio de 2012

DAS COISAS QUE GOSTO E NÃO GOSTO


Eu gosto de poesia, música, 
vinho tinto seco, namorar e passear

Algumas vezes eu minto mas não sou mentiroso
O que eu não gosto mesmo é de hipocrisias
Como você pode dizer que não mente,
se o mundo em que vive é uma mentira?
Então você não vive aqui

Como você pode me exigir a verdade se não a conhece?

Acho que a hipocrisia é o maior problema do Brasil
Por isso muitas vezes mando tudo para “puta que pariu”

Eu gosto dos animais mais do que das pessoas,
principalmente felinos, adoro uma gata
Porque os animais não tem ego
Mas gosto da minoria das pessoas também
Acho que tenho pelo menos meia dúzia de amigos

Às vezes sou lobo,
mas nunca sou cordeiro
Eu não gosto de barulho, de multidões
Não gosto de cigarros, bêbados e fumantes
Drogas nem pensar, nem a droga da televisão

Sou um péssimo marido, mas um bom amante
E se você não acredita, o problema é seu e não meu
É porque gosto de liberdade

Não gosto de religiosos, crentes e fanáticos de toda espécie
Eles são chatos e se consideram especiais, escolhidos
Só não sei quem os escolheu
Porque se Deus ou Jesus os tivesse escolhidos
Eles me diriam
E não me disseram nada a esse respeito

Embora sabedor que esse mundo é feito de medo
Não gosto de pessoas medrosas
Que escondem seus medos em máscaras,
e falsos comportamentos
Também não gosto de pessoas ambiciosas,
ao ponto de serem avarentas

Não acredito que o ser humano seja um pecador
Acho isso invenção do inquisidor, do opressor

Quero terminar dizendo que há muitas coisas que não gosto
Porém respeito a todos e compreendo que todos têm o direito de ser o que são
Afinal, isso tudo não passa de uma grande ilusão
E no meu perdão está a minha salvação

(©2012 5 -  Paulo Cesar de Oliveira)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

VOCÊ



Você é fruto da minha imaginação, você é uma ilusão

Você não existe a não ser dentro de mim

Eu criei você para não matar o amor e o sonho

Assim como eu lhe criei a semelhança dos meus desejos

Eu também poderia te destruir e você deixaria de existir

Mas não posso fazê-lo, pois a vida também é feita de sonhos e desejos

Como tenho a plena consciência dessa criação da minha mente

Eu não fico de amor e paixão doente

Nem por você

Nem por mim


Quando acordo e vejo que você não está do meu lado

Percebo que era um sonho

Me conformo com isso e agradeço

Por ter sonhos e desejos tão simples

Sem riquezas ou poder

Apenas o desejo de ter você


Por você me tornei poeta

Por você aprendi a ser alegre e feliz 

Na tristeza dessa doce ilusão


 (©21.05.2012  -  Paulo Cesar de Oliveira)

domingo, 20 de maio de 2012

DA POESIA ALEGRE E TRISTE

Não gosto de poemas alegres, falando de amores, paixões, essas bobagens todas que as pessoas vivem repetindo sem a menor idéia do que estão falando, como bêbados. É uma chatice esses poemas melosos, da mesma forma que é um "porre" aturar bêbados.


Observe meu amigo, minha amiga, que os melhores poetas como Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Carlos Drummondde Andrade, Manuel Bandeira são tristes, seus poemas, via de regra são tristes. Não sei se ocorre com vocês, mas os poemas alegres me passam a sensação de que faltou espontaneidade ou mesmo coragem ao poeta. É que guardo a impressão de que os poetas são tristíssimos. E aproveitam das melancolias da alma para derramar nos papéis seus desamores e desventura.

Acho que os poetas entendem o que digo. Na verdade, os poemas alegres não combinam com o ofício de poeta.

Trago essas impressões banais porque deparei-me com a notícia de que uma editora lançará livro com seleção de poemas alegres e educativos às crianças.

Passei-me a questionar o porquê da pedagogia infantil estar sempre relacionada à alegria, se a poesia e os melhores questionamentos da vida nascem da tristeza. Em momento triste e reconfortante, Fernando Pessoa até escreveu: “Ah! A imensa felicidade de não precisar estar alegre”.

É que a tristeza, quando costumeira e amiga, torna-se aliada contra os combates diários da rotina. O mesmo acontece com a não felicidade. Não adianta combatê-la, não adianta buscá-la. Ela simplesmente é e existe. Os poetas são tristes, sim. Mas não nasceram tristes. Eles souberam render-se aos encantos, mesmo que tardiamente, talvez.

Na verdade, poeta é aquele que faz da tristeza, da infelicidade e da sua própria vida, uma linda poesia. Por isso um poeta também é um místico ou um bruxo para aqueles que não possuem preconceitos religiosos.


E da tristeza, não se faz apenas poetas. A tristeza é necessária como alicerce e ponte para a felicidade. Ou mesmo para compreender sentimentos alheios, situações as mais variadas. Se você quer saber alguma coisa da alma de uma pessoa você tem que aprender a ler a sua tristeza oculta e não sua alegria aparente e disfarçada. É sim, a tristeza também se disfarça de alegria. Você não sabia?


E como ensinar melancolia ou tristeza de forma pedagógica às crianças? Que tal procurar as formas lúdicas? Muitas delas estão presentes nas artes: a literatura, o cinema, o teatro; a poesia triste! Nelas, pode-se descobrir belezas que enchem os olhos d’água, de lágrimas verdadeiras, e tristes. Por que não?

Meu caro leitor, você que tem suportado com paciência e tristeza os meus escritos, eu vos digo: desconfiem de poetas e poesias felizes e alegres. Provavelmente não é um poema e se for um poema, com certeza não terá poesia.



Paulo Cesar de Oliveira

PARA LER POESIAS

Há algo de oculto nas poesias
Há algo nas entrellinhas

Se você quer entender
Vou agora te dizer
O que você precisa fazer

Primeiro,
Sente-se confortavelmente
Coloque sua coluna numa posição erecta
Feche os olhos
E esvazie tua mente

Permaneça assim por algum tempo
Quando achar que está pronto
Abra os olhos e comece a leitura

Leia sem analisar, sem interpretar
Em cada frase há informações,
e algum conhecimento
Mas é preciso sentimento

Não leia as poesias como
se estivesse lendo uma bula de remédios

É preciso comprometimento 
Para ver em cada poema um pouco de você
Um pouco de mim
E um pouco de toda essa gente
Que passa pela vida num corpo
Mas que na verdade é mente

A poesia é magia, é paixão, é confusão
Não é a Constituição


(Paulo Cesar de Oliveira)





sexta-feira, 18 de maio de 2012

CINQUENTA E OITO ILUSÕES EM CADA ANO


Cinqüenta e oito anos de ilusão
Mas essa não é a questão
A questão é:
O que fiz com essa ilusão?

Transformei em sonhos

Cinqüenta e oito anos de sonhos, então
Mas essa ainda não é a questão
A questão é:
O que fiz com esses sonhos?

Transformei em cansaços

Mas apesar da ilusão, dos sonhos e do cansaço
Eu não sou mais quem começou essa caminhada
Todo ano quando faço anos, faço um balanço
E percebo que o tempo também é uma  ilusão

O que fica em cada ano de vida é apenas
A quantidade de Amor que conseguimos reter
De alguma forma, de qualquer jeito

Não, não falo desse amor dos amantes e dos apaixonados
Porque  desses amores tem sido feito meus sonhos,
 minha ilusão e meus cansaços
Falo do Amor do outro mundo, além do tempo e do espaço
Não falo da vida, nem mesmo quando perdi o norte
Pergunto se a vida,
 não é apenas a continuação da morte

Não busco mais Deus
Nem a felicidade
Fiquei ali parado, estagnado e perplexo
O dia que percebi que essas buscas eram apenas
Mais  desejos meus
E que me faziam  sofrer
Igual aquele tempo em que eu buscava você

Nunca pensei  chegar tão longe
Quando dei por mim
Já estava lá

Sei que você não entende essas coisas que digo
Nem mesmo esse meu cansaço
Mas preciso que você  me perdoe por isso
Porque ainda preciso dessas palavras
Para dizer aquilo que não precisava ser dito

Um dia eu vou ser poeta
Só para dizer que te amo
Sem que você perceba

(©19.05.1954  -  Paulo Cesar de Oliveira)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

SEM PALAVRAS

Pink Floyd
"Another Brick The Wall" (Live)

VIVENDO UM DIA DE CADA VEZ

Façamos o seguinte
Vamos viver um dia de cada vez
Porque não está sendo possível viver nem dois
Quanto mais uma semana, uma quinzena, um mês
Ou um ano

Sem futuro, sem passado
Vamos ficar aqui no presente, no aqui e agora
Esqueçam seus amores e paixões que não deram certo
Não deram certo para você, mas talvez...

Façamos o seguinte,
Vamos esquecer nossas mágoas, decepções
 e todos tipos de ilusões
Inclusive esperanças
Esqueça também as suas dívidas e contas à pagar
Isso é mais um problema do credor do que teu

Se você quer ser feliz,
Não viva de esperanças nem de saudades
Viva de poesia, música e vinho tinto seco
Não pense que existe alguma realidade

Vamos tentar chegar ao fim desse dia
Amanhã a gente volta a conversar
Um dia de cada vez
 
17.05.2012   -  Paulo Cesar de Oliveira)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

PARA SER FELIZ...

"Para se ser feliz é preciso ser-se um bocado parvo. Eu, por exemplo, sou. A felicidade é inversamente proporcional a uma série de coisas de boa fama, como a sabedoria, a verdade e o amor. Quando se sabe muito, não se pode ser muito feliz. A verdade é quase sempre triste."

Miguel Esteves Cardoso Portugal
(Escritor e jornalista português)


Nota: Significado de parvo
adj. Pequeno.
Tolo, idiota.
Fátuo.
S.m. Indivíduo atoleimado, idiota.

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

Paulo Mendes Campos
e Vinícius de Moraes

segunda-feira, 14 de maio de 2012

DE QUE VALE TUDO ISSO?


 QUAL É A UTILIDADE DE UM VOTO DE SILÊNCIO SE A PESSOA ESTÁ ABSORTA NA ATIVIDADE MENTAL?
SE AINDA NÃO SILENCIOU A PRÓPRIA A MENTE

QUAL A UTILIDADE DO PERDÃO E DO NÃO JULGAMENTO SE ELES NÃO ESTÃO ENRAIZADOS EM TUA MENTE?
ISSO NÃO É APENAS UMA QUESTÃO DE COMPORTAMENTO

QUAL A UTILIDADE DAS TUAS PALAVRAS SE TEUS ATOS CONTRADIZEM O QUE VOCÊ DIZ?

PARA QUE SERVE O TEU SUPOSTO CONHECIMENTO, ESSA TUA BIBLIOTECA CHEIA DE LIVROS, O TEU INTELECTO E A TUA LITERATURA?
SE NÃO HÁ ALEGRIA, BOM HUMOR E CELEBRAÇÃO NO TEU CORAÇÃO,
SE VOCÊ NÃO TEM CONTROLE SOBRE TUA EMOÇÃO
SE NÃO HÁ EM VOCÊ ALGUMA CANDURA

QUAL O VALOR DA TUA ALEGRIA,
SE VOCÊ PRECISA DO ÁLCOOL, DAS DROGAS,  DA MULTIDÃO E DE TODA ESSA HISTERIA?
VOCÊ AINDA NÃO CONHECE O VALOR DA SOLIDÃO
SEU MUNDO É UMA ILUSÃO

PARA QUE SERVE A TUA ESPIRITUALIDADE, A TUA RELIGIÃO E A TUA ORAÇÃO,
SE NÃO HÁ EM VOCÊ QUASE NENHUMA GRATIDÃO?
VOCÊ SÓ SABE PEDIR E IMPLORAR O TEU QUINHÃO

SÁBIAS SÃO AS PALAVRAS DO MESTRE DOS MESTRES
MAS COMO VOCÊ PODE COMPREENDÊ-LAS,
SE NÃO ESVAZIA-SE DE SI  MESMO?

COMO PODE O ESPÍRITO SANTO TE AJUDAR,
SE VOCÊ INSISTE EM TER DOIS OU MAIS SENHORES?

COMO PODE VOCÊ COMPREENDER A MINHA MAGIA,
SE AINDA TENTAS ENTENDER E INTERPRETAR
 A  MINHA POESIA?

DE QUE VALE TODO ESSE SENTIMENTO,
SE MINHAS PALAVRAS SÃO COMO FOLHAS SECAS,
LEVADAS PELO VENTO?

DE QUE ME VALE A TUA BOCA SE NÃO POSSO TE BEIJAR?
DE QUE ME VALE O TEU CORPO SE NÃO POSSO TE TOCAR?
DE QUE ME VALE O AMOR SEM PAZ?
E DE QUE ME VALE A PAZ SEM AMOR?
DE QUE ME VALE VOCÊ SEM O TEU CALOR?

PARA QUE ME SERVE TEU CORPO SEM A TUA ALMA?
PARA QUE ME SERVE TUA ALMA SEM TEU CORPO?

DE QUE ME VALE MORRER SEM ANTES VIVER?
DE QUE ME VALE TER VIVIDO SEM TER ESCRITO?
O QUE SEI TERIA SE PERDIDO.

PARA QUE QUERO A PAIXÃO SE AGORA SOU DESILUSÃO?
PARA QUE QUERO O SALVADOR SE SOU A MINHA PRÓPRIA SALVAÇÃO?


(©2012  5   -  Paulo Cesar de Oliveira)

CONFISSÕES

O gosto dos teus beijos é como esse vinho que bebo
Tinto e seco
Mas embriagador

O calor do teu corpo é como um sol de quarenta  graus
Mas que se torna suave com a brisa que sempre me refresca
Aquece mas não queima

Nesses dias de chuva eu penso mais em você
Esse  frio aumenta o meu desejo
Em meus pensamentos eu te vejo

Por mais que a vida me afaste
O sentimento ainda assim permanece
Parece que o tempo não passa

De tanto buscar o amor eu me perdi
Agora fico aqui estagnado, perplexo e triste

A poesia, a música e esse vinho me distraem
Mas não me completam e me deixam pela metade
Parece que está faltando um pedaço de mim

Ouvi alguém dizer que a poesia é biografia de um poeta
Mas como na vida, não encontro a rima correta

Preciso ser muito sincero com você
Não acredito no amor e na paixão
Mas não tenho nenhum controle sobre meu coração

Gostaria de um dia poder te dizer:
“Eu amo você”

Mas tenho medo de novamente me perder


13.05.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)

domingo, 13 de maio de 2012


Quando o poeta  Carlos Drummond de Andrade nasceu
Diz ele que um anjo torto apareceu e disse:
“Vai, Carlos! ser gauche na vida”

Mas quando eu nasci
Não apareceu nenhum anjo
Nem mesmo torto

Porque o anjo já estava ali comigo
Era a minha mãe.

(© 13.05.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

OS TRÊS CAMINHOS

"Há três caminhos. 

O primeiro é o caminho da ação - o mais duro, o mais difícil, o mais masculino. Moisés, Maomé, Rama, Patanjali, Gurdjieff- essas pessoas pertencem ao caminho da ação. Algo tem que ser feito para alcançar Deus; grande esforço é necessário, esforço absoluto é necessário, ele é árduo e penoso. Mas há pessoas que sempre gostam de ir pelo caminho mais difícil. Essa é a sua escolha - elas amam isso, elas amam o desafio disso.
 
O segundo caminho é o caminho do conhecimento. Está no meio - nem muito difícil, nem muito simples, nem muito fácil, nem muito complexo também. O primeiro é muito complexo, Gurdjieff é muito complexo; o segundo é o caminho do conhecimento, exatamente no meio. Buda - Buda chamou ou seu caminho de caminho do meio, majjhim nikai - Mahavira, Shankara, Ramana, Krishnamurti: essas são pessoas que percorrem o caminho do conhecimento. Ele não é tão árduo como o primeiro, e não é tão relaxado quando o terceiro; está exatamente no meio. As pessoas que não saõ muito masculinas e não são muito femininas seguem este caminho.
 
O terceiro é o caminho do amor - o caminho da devoção, bhakti. Narada, Chaitanya, Meera, Sahajo, Ramakrishna - estas são pessoas que trilharam esse caminho. É o mais simples, mais direto, mais íntimo. Você não pode achar nada mais fácil. Esse é o atalho; ele não é penoso. Você não precisa fazer nada - nesse caminho, o fazer será sua destruição. Você só precisa relaxar e confiar."

 (Osho)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorando a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima

Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta


(Vander Lee)

O MELHOR

O melhor erudito é aquele que realizou o significado da ausência de qualquer existência verdadeira.

O melhor monge é aquele que domou a sua própria mente.

A melhor qualidade é um grande desejo de beneficiar os outros. 

A melhor instrução é sempre observar a mente.

O melhor remédio é conhecer que nada tem realidade inerente. 

O melhor modo de vida é aquele que não se encaixa nos modos mundanos. 

A melhor realização é uma diminuição constante das emoções negativas. 

O melhor sinal da prática é uma diminuição constante dos desejos. 

A melhor generosidade é o não-apego. 

A melhor ética é pacificar a mente. 

A melhor paciência é manter uma posição humilde. 

O melhor esforço é abandonar as atividades. 

A melhor concentração é não alterar a mente. 

A melhor sabedoria é não tomar coisa alguma como sendo verdadeiramente existente.

  • (Atisha, 980-1055. In: Patrul Rinpoche, The words of my perfect teacher.
    Traduzido pelo Padmaka Translation Group. Massachusetts: Shambhala, 1998. Pág. 254.

CARTA AOS MORTOS

Amigos, nada mudou
em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
 
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
 
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
 
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

(Affonso Romano de Sant`Anna)

O QUE É POESIA?

1) "Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia." (Garcia Lorca);

2) "Ao contato do amor, todos se tornam poetas." (Platão);

3) "Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas." (Maiakovski);

4) "Não sou alegre nem sou triste: sou poeta." (Cecília Meireles) ;

5) "O que você acredita que é um artista? Um imbecil que só tem olhos se for pintor, ouvidos se for músico, ou uma lira em todos os andares do coração se for poeta?" (Pablo Picasso);

6) "É tão fácil ser poeta, e tão difícil ser um homem." (Charles Bukowski);

7) "Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação." (Carlos Drummond);

8) "Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo." (Carlos Drummond);

terça-feira, 8 de maio de 2012


Tenho medo que a tristeza e a descrença me impeçam

De escrever

Não me restou muita coisa num mundo ilusório

Nem paixão, nem amor, nem felicidade nem infelicidade

Apenas uma frágil esperança de um dia romper definitivamente

Essa Roda de Nascimentos e Mortes

 

Escrever tornou-se para mim uma maneira de chorar

Chorar sem razão, chorar sem motivo algum

Chorar apenas para lubrificar os olhos

 

Há um imenso vazio em mim agora

Que me imunda de um sentimento estranho

Como se estivesse num planeta fora da minha própria órbita

 

Já procurei em todos os lugares os originais de mim mesmo

Mas só encontrei  cópias feitas pelo ego

Cópias manchadas em preto e branco

Mas meus originais são coloridos

 

Embora saiba que a compreensão esteja muito além das palavras

Mesmo assim ainda insisto em escrever

Na esperança que alguém possa me ouvir

Mesmo que seja um E.T.

Que fale a minha língua ou entenda meu código

 

Uns bebem, outros comem e dormem

Uns namoram, outros casam

E descasam

E namoram

E vão as compras

E cuidam dos filhos e dos netos

E consideram seus trabalhos muito importantes

Pensam no futuro, vivem do passado

 

Mas nada sabem da grande descoberta

Da grande tragédia humana

Da grande ilusão e engano de todas as coisas

 

Buscam Deus e deuses, santos e milagres

Buscam dinheiro, riquezas, amores e paixões

Buscam a salvação

E enchem as igrejas e os templos

Buscam respostas

 

Mas eu apenas busco a poesia perfeita

A música das Esferas

E onde coloquei minha taça de vinho

Que estava em minhas mãos cansadas

Quando iniciei esse poema

 

Eu ainda busco a paz e os meus originais

 


(©2012  5  -  Paulo Cesar de Oliveira)