sábado, 21 de abril de 2012

O PROBLEMA ESTÁ NO POVO

Os generais governantes da ditadura militar não serviam, Sarney não servia, Collor também não, Itamar Franco e seu topete não servia, FHC não servia, nem o Lula. Agora dizemos que a Dilma não serve. E o que vier depois Dilma não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que for o presidente desse país. O problema está em nós. Nós como povo.

Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro, o dólar ou lingote de ouro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. 

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. 

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um dvd ou cd falso, onde se suborna o guarda de trânsito por ter estacionado na calçada.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. 

Pertenço a um país onde as pessoas estão morrendo nas filas dos hospitais públicos.
Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as carteiras de habilitação e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, um idoso ou um inválido, fica em pé no ônibus, metrô e trem, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o ser humano. 

Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos do Lula e da Dilma, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto os políticos são os culpado, melhor sou eu como brasileiro. Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. 

Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escândalosos na política, em CPI's, essa falta de qualidade humana, essa mania de querer levar vantagens em tudo, mais do que FHC, Lula, Dilma, PSDB, PT, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Dilma fosse embora hoje mesmo, o próximo que a suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu os governantes militares, nem está servindo os civis. 

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? 

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados.... igualmente abusados!

É muito bom ser brasileiro, afinal Deus também o é. Mas quando essa brasilidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, para que nos mandem um messias, um salvador.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos brasileiros nada poderá fazer. Está muito claro para mim. Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Da hipocrisia e da mentira descarada.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

(Este artigo foi originalmente escrito pelo português Eduardo Prado Coelho falando de seu país Portugal. Devido a enorme semelhança com o Brasil fiz uma adaptação do mesmo, com inclusões e exclusões, inclusive mudando o título  -  Paulo Cesar de Oliveira)