"Poesia é um texto em que o significante não existe meramente à serviço do significado; onde significante e significado funcionam juntos; e onde é este conjunto (e não apenas o significado) que provoca sentimentos, impressões, emoções ou reflexões." "Na poesia, cada palavra tem seu papel não apenas por seu significado, mas por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma como se relaciona com as outras palavras, e, modernamente, até mesmo pelo seu aspecto visual..." Essa definição tem o mérito de deixar bem claro que poesia não é só significado. Aliás, esse talvez seja o único ponto sobre o qual eu nunca vi discordância por parte de poetas ou apreciadores de poesia. Não importa o quão "poético" seja o conteúdo de um texto, se o autor o escreveu preocupado apenas com o significado – tendo apenas a sintaxe como guia – não é poesia! Se alguém tem essa idéia de que o que realmente importa na poesia é o significado e de que o resto – o ritmo, a métrica, a rima – são detalhes, esta pessoa provavelmente teve pouco contato com poesia, e a encara como se ela fosse uma espécie rebuscada ou enfeitada de prosa. De vez em quando aparece alguém para dizer algo como: "De poesia, eu gosto do significado." Isso é mais ou menos como aquele americano que certa vez declarou que "gostava ser goleiro porque adorava desarmar o adversário, limpar a jogada e passar, e se possível sair driblando e marcar o gol." O goleiro pode até fazer tudo isso, principalmente se for o Highita da Colômbia, mas nós sabemos que a função dele não é essa. A lógica de um texto não-poesia está na estrutura sintática e no significado. A lógica da poesia vai além da estrutura sintática e do significado."
(Copyright © 2002 by André Carlos Salzano Masini)
Texto registrado na Biblioteca Nacional,