quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O AMOR QUE VEJO NO MUNDO

Toda mensagem tem que no mínimo ter um contexto. Uma frase ou citação solta sempre leva a interpretações diversas e diferentes daquilo que o autor disse. Isso vale para a Bíblia, O UCEM, Osho e tudo mais. É o que penso. Mas muitas vezes a gente não tem tempo e espaço aqui na Net para expor isso e fica na frase solta mesmo.

Estive uma temporada com os irmãos da Seicho-No-Ie em 2004/2005 e verifiquei que há muito em comum entre os ensinamentos do mestre Masaharu Taniguchi e os ensinamentos de Jesus no UCEM, que na época já conhecia. Li uma dúzia de livros da SEI e ratifiquei isso, livros ótimos como o Volume 8 - "A Verdade" de Masaharu Taniguchi. Não fiquei mais tempo por que sou como uma abelha como diz mestre Osho, não fico nas plantas, tiro o néctar e sigo para outra planta. Não fixo residência. Não sou um seguidor. Outra questão é que na Seicho-No-Ie (SEI) tem muito ritual, muita cerimônia e já sabia naquela época (devido ao UCEM) que tudo se passa na mente e não no físico. O ser humano se apaixona muito por aquilo que os olhos percebem, mas "o essencial é invisível aos olhos". Um ritual, uma cerimônia é muito atrativo para os adeptos, que o diga os católicos. O ego é esperto.

Como conheço o ensinamento dos dois (UCEM e SEI) não vi o "mundo" UCEM nem o "mundo do Jisso" de Taniguchi, colocado como "fácil de ser amado"... Muito pelo contrário, ambos falam que em primeiro lugar em amar a si mesmo, que aliás é o que fala todo mestre, inclusive o teu mestre Osho. E amar a si mesmo é mais difícil ainda, embora as pessoas não admitam isso. Ah! O inconsciente.

Desse modo, amar a Deus, amar a perfeição, amar o cósmico, amar a natureza, a humanidade é uma fuga, sem dúvidas, uma fuga para não fazer o trabalho em si mesmo. Uma fuga de si mesmo. Aliás, essa palavra "fuga' é muito abrangente e profunda e significativa para explicar o comportamento humando. Fugir de si mesmo é tudo que as pessoas fazem e para isso inventam todos os artifícios possíveis e imaginários. Quem explica muito bem esse mecanismo de fuga de si mesmo é outro mestre George Ivanovich Gurdjieff.

Nesse sentido, ou seja, fugir de si mesmo, fugir de amar a si mesmo, é que entendo, compreendo e percebo a citação de Osho que iniciou essa saudável conversa: "É muito fácil pensar sobre o amor,... é muito difícil amar. É muito fácil amar o mundo inteiro, a verdadeira dificuldade é amar um único ser humano. É muito fácil amar a Deus ou à humanidade, o verdadeiro problema surge quando você se encontra com uma pessoa real e a encara. Para encará-la é preciso passar por uma grande mudança e um grande desafio."

Esse "grande desafio, grande mudança" é você, sou eu, somos nós. É a nossa individualidade. Quem sou eu?

É difícil amar um ser humano porque é difícil amar a si mesmo. A quem você vai amar? Começa por aí. A sua essência ("pessoa real","imagem verdadeira") ou a seu ego? Quase sempre as pessoas amam ao seu próprio ego e o ego das pessoas. E acabam amando as criações do ego também, o mundo, o cosmo, etc... FUGA!

Na síntese das sinteses entendo que amar a si mesmo, amar o outro e amar a Deus é a mesma coisa. Só que amar a Deus torna-se mais fácil, pois Deus não te cobra nada. Por isso é fácil amar a Deus. Agora nós e os demais cobramos esse amor. A sua esposa, namorada, amante, filhos, etc cobram o teu amor. Você se cobra. E se cobrando e sendo cobrado, se sente CULPADO. Aí, dá licença, fudeu!.

Eu já disse algumas vezes que não acredito no amor. Voltando ao início da mensagem, colocado fora do contexto, essa afirmação parece inaceitável e paradoxal, porém, não acredito nesse amor que diz que ama as pessoas, que diz que ama a Deus, que ama a natureza, que ama as estrelas, que ama o cosmo, que faz "caridade", mas não ama a si mesmo.

Nesse caso, estou com meu poeta Pessoa:

"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar..." Fernando Pessoa

A minha mãe, uma senhora de 77 anos, gosta muito de ouvir o Padre Marcelo, todos os dias às 9 hs da manhã na Rádio Globo. É comovente como ela presta atenção e se envolve emocionalmente com aquilo. Quando estou com ela nesse horário eu tenho que me esforçar para aguentar aquela "conversa mole" desse senhor. Sabe por quê? Quase metade do tempo dele nessa rádio, nesse programa, ele fala do livro dele e do CD dele, ele faz propaganda do seu livro e do seu CD, que ela, inclusive, já tem. O nome do livro? "Amor Ágape". Mas, o amor que vejo ali é o amor pelo dinheiro.

O amor que vejo nesse mundo, na ilusão desse mundo, é o amor pelo dinheiro, é o desejo.

(Paulo Cesar de Oliveria, 09.02.2012)