quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

BRASIL TERRA HABITADA

O Brasil não é uma nação. O conceito de nação transcende o de país, que também acho que o Brasil ainda não é. Somos "uma terra habitada".

Se você é da minha geração (hoje entre 50 e 60 anos) é fácil entender o que digo agora. 

Apesar ou até por causa de sermos dessa geração, ou seja, de termos passado por algumas décadas renascentistas brasileira como a década de 60 e 70 do século passado, também vivemos as décadas perdidas de 80 até a os dias atuais. Isso nos deu um visão excelente para compreender essa "terra habitada".

O fato de possuirmos um nível educacional cultural superior a média brasileira também contribuiu para essa "tomada de consciência". Estudamos nos melhores colégios brasileiros na época, no meu caso, Colégio Pedro II e UFRJ. Hoje, nem sombra do que foi, principalmente o colégio federal Pedro II, mais uma consequência do abandono da educação nas décadas perdidas (como já disse 80 do século passado em diante).

A primeira vista isso pode parecer irrelevante, mas não é. E tenho certeza que aquelas pessoas dessa nossa geração entendem perfeitamente o que digo. Só como exemplo, costumo citar, no segmento musical, que acho importante, a Bossa Nova, e a Jovem Guarda. O que se criou após disso, nada. Só mediocridades, funk e outras anormalidades, degenerações. Há uma crise de criatividade, sensibilidade, humanidade, etc. O que assistimos é medíocre, idiota e ignorante, para dizer o mínimo.

As gerações anteriores e posteriores a essa nossa não possuem as condições necessárias para compreensão do que falo aqui, porque as coisas mais significativas que aprendemos, aprendemos por experiência, na vivência e não teóricamente nos livros ou por ouvir dizer.

Então, não se trata de ser ou não ser pessimista, talvez saudosista, na pior das hipóteses ou melhor, dependendo do ponto de vista.

Houve inegáveis progressos tecnológicos e materiais no período 1980 a 2012, mas não houve progresso humano, humanitário, de justiça social. Aliás, nem justiça social muito menos a outra.

Como economista vos digo que a avaliação do desenvolvimento de um país não pode ser medido, aferido, apenas pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Tem que haver principalmente a evolução de indicadores sociais e, hoje em dia, até ambientais e ecológicos, como já é consenso mundial. 

Tem que haver a distribuição da renda. O Brasil é um dos países onde a Renda Nacional se encontra mais concentrada, nas mãos de muito poucos. Há muita demagogia, mas pouquissímo progresso em relação a isso.

O progresso de um país nunca é absoluto e sim, sempre relativo, relativo a outros países, principalmente no mesmo continente. E quando comparamos nesse período, o desenvolvimento brasileiro vis-a-vis com nossos países vizinhos da América Latina, Chile e Argentina, basicamente, o nosso retrocesso relativo fica evidenciado. Se compararmos com ouros países então, fica pior. 

Somos um país subdesenvolvido, relativamente subdesenvolvido. Os políticos, tecnocratas e governantes impõem ao povão a idéia que somos desenvolvidos, mas quem conhece sabe que isso não é verdade.

Causas que provocaram essa situação a que chegamos temos muitas, mas as principais é a corrupção e a impunidade. A corrupção está em todos os níveis e em todos os três poderes e provavelmente no quarto poder (Ministério Público). Mas ela é mais grave no poder Judiciário, devido a sua importância moral, ética e corretiva.

O Brasil é um país estranho, muito estranho. De um povo estranho, muito estranho. Talvez uma junta reunindo os melhores economistas, cientistas sociais, psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos, etc, internacionais possa um dia, quem sabe, retratar essa "terra habitada".

Eu perdi a esperança nessa terra, "gosto da terra mas não gosto da gente". Mas mantenho a fé no Espírito Santo e o Amor que nasceu comigo e me foi dado pelo Criador. Eu não criei a mim mesmo. E o que tenho realmente de valor não me foi dado pelo Homem, portanto não me pode ser tirado. Entende?

Como meu homônimo, o apóstolo, também tenho "lutado o bom combate". Mas, estou cansado. Porque "viver" nessa terra cansa.

(Paulo Cesar de Oliveria, 01.03.2012)
2

O fim do mundo

0

É o fim da ilusão

1

É o fim do amor

2

É o fim do meu tesão

(Paulo Cesar de Oliveira)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Eu vivi momentos mágicos
Que ficaram eternizados na minha mente
Nas minhas lembranças, na minha memória

Nem mesmo a ilusão e o terror que assisto 
todos os dias
Foi capaz de apagar esses momentos

Mágicos, é a palavra que melhor define

Só lamento terem sido tão curtos
Eu diria até curtíssimos

Eu não acredito que a felicidade
seja um estado constante

E o que não é constante e eterno não existe
 
Ouvi alguém dizer que ela, a felicidade,
É apenas a soma dos momentos felizes

Eu gostaria de viver só do presente
Mas é da lembrança do meu passado
Que busco forças para acreditar
que ainda vale a pena viver

A vida aconteceu
Enquanto eu fazia planos

Tudo passa
O amor, a tristeza, a alegria...
Só eu fiquei aqui
Sozinho
Comigo mesmo

(Paulo Cesar de Oliveira)
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!

Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.

Cecília Meirelles

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O DIA QUE MINHA ALMA DESCEU A TERRA

Confusa com seu destino
Minha alma desce a Terra
E interroga-me sobre o que não vejo e não sinto
O que aconteceu com o Éden?
Como a Terra se tornou esse calabouço horrendo?
Por que as pessoas vivas estão morrendo?

Ao ouvir essas indagações
Chora a esperança e estremece a angústia
Os sinos tocam de repente
E acordam os espíritos sonolentos e vagabundos

Penso na obscena corrupção humana
E não sei o que dizer a minha alma

Como viajante do espanto
Chorei comigo a minha imensa tristeza
E nesse momento
A  minha condição absolutamente humana

(© 24.02.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MARESIA

Hoje eu acordei emputecido
Não sei bem o motivo

Acho que a cada dia fico mais empobrecido

Vou voar até o infinito
Sem dor e sem grito

Quero me encontrar com alguma coisa boa
Assim como um poema de Fernando Pessoa

Hoje eu acordei emputecido
Não é com vocês

É com Deus

Buscar sem esperanças e sentido,
Algo cuja existência é discutível

Tudo mente na minha mente

E essa maresia...
Me fugiu até o sentido da poesia



Paulo Cesar de Oliveira
O falso poeta que só escreve besteira

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"Poesia é um texto em que o significante não existe meramente à serviço do significado; onde significante e significado funcionam juntos; e onde é este conjunto (e não apenas o significado) que provoca sentimentos, impressões, emoções ou reflexões." "Na poesia, cada palavra tem seu papel não apenas por seu significado, mas por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma como se relaciona com as outras palavras, e, modernamente, até mesmo pelo seu aspecto visual..." Essa definição tem o mérito de deixar bem claro que poesia não é só significado. Aliás, esse talvez seja o único ponto sobre o qual eu nunca vi discordância por parte de poetas ou apreciadores de poesia. Não importa o quão "poético" seja o conteúdo de um texto, se o autor o escreveu preocupado apenas com o significado – tendo apenas a sintaxe como guia – não é poesia! Se alguém tem essa idéia de que o que realmente importa na poesia é o significado e de que o resto – o ritmo, a métrica, a rima – são detalhes, esta pessoa provavelmente teve pouco contato com poesia, e a encara como se ela fosse uma espécie rebuscada ou enfeitada de prosa. De vez em quando aparece alguém para dizer algo como: "De poesia, eu gosto do significado." Isso é mais ou menos como aquele americano que certa vez declarou que "gostava ser goleiro porque adorava desarmar o adversário, limpar a jogada e passar, e se possível sair driblando e marcar o gol." O goleiro pode até fazer tudo isso, principalmente se for o Highita da Colômbia, mas nós sabemos que a função dele não é essa. A lógica de um texto não-poesia está na estrutura sintática e no significado. A lógica da poesia vai além da estrutura sintática e do significado."

(Copyright © 2002 by André Carlos Salzano Masini)
Texto registrado na Biblioteca Nacional,

É CARNAVAL

Sim, minha amiga é carnaval,
e daí
Todo ano tem carnaval
Todo ano tem natal
Todo ano tem ano novo
Mas, e daí
O que muda esse ano?

Os palhaços são novos?
As máscaras são mais bonitas?
Não vejo mais as colombinas
E aquelas marchinhas inocentes
Ainda são cantadas nos salões?

E depois do carnaval
vem a semana santa
E as festas juninas, julinas...

E as chuvas
E a seca no sertão
E o futebol
Quem será o campeão?

Esse ano vai ter eleição?
Virão novos ladrões,
ou se renovarão?

Já é natal de novo
Como passou rápido esse ano

Em janeiro começa o BBB13

Meu Deus! Eu tinha esperança
que o mundo terminasse
antes do ano novo

E agora?
Vai começar tudo de novo
Em fevereiro tem carnaval
Tem carnaval

Mas sou botafoguense
e minha nega não se chama Teresa

Aliás, nem é nega
É branquela.

Paulo Cesar de Oliveira
O falso poeta que só escreve besteira

sábado, 18 de fevereiro de 2012

MEU AMIGO

Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.

Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.

Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.

Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.

Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.

Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.

Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.

Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.

Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:

Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

NA VELOCIDADE DA MINHA ILUSÃO

Dizem que eu poderia ser um homem feliz,
Se não tivesse esse terrível defeito de interrogar-me
Acerca da ilusão desse mundo

Na verdade, estou derrubado,
Como um balde derramado,
de esperanças e fé

Amanheço todos os dias dolorosamente,
E escrevo aquilo que posso e não o que sei

Meus leitores me exigem lógica e razão
Mas sequer escrevo com o coração
Vivo na velocidade da minha própria ilusão

© 17.02.2012 – Paulo Cesar de Oliveira
Às vezes passeio pelas ruas com o objetivo exclusivo de olhar para a cara dos homens e das mulheres que passam. A cara dos homens e das mulheres que passaram dos trinta anos, que coisa tão impressionante! Que concentração de mistérios minúsculos e obscuros, à medida do homem; de tristeza venenosa e impotente, de ilusões cadavéricas arrastadas durante anos e anos; de cortesia momentânea e automática; de vaidade secreta e diabólica; de abatimento e de resignação perante o Grande Animal da natureza e da vida!

Há dias em que invento qualquer pretexto para falar com as pessoas que vou encontrando. Olho-as nos olhos. É um pouco difícil. É a última coisa que as pessoas deixam ver. Estremeço ao notar a escassa quantidade de gente que conserva no olhar algum rasto de ilusão e de poesia – da ilusão e da poesia dos dezassete anos. Da maioria dos olhos apagou-se todo o brilho pelas coisas abstratas e engraçadas, gratuitas, fascinantes, incertas, apaixonantes. Os olhares são duros ou mórbidos ou falsos, mas totalmente arrasados. São olhares puramente mecânicos, desprovidos de surpresa, de aventura, de imponderável.

VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exato.

Ainda por cima os homens são homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de ditadores,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...


José Gomes Ferreira, in "A Poesia da «Presença»" cotovia, 200
li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então eu indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objetos à espera,
trémulos objetos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável, apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a paixão e eu me perdesse nela,
a paixão grega



Herberto Helder in, "a faca não corta o fogo" assírio & alvim, 2008
A inquietação de estar no mundo permeia minha vida. Me sinto perplexo diante do mistério da existência, da inutilidade de todas as coisas diante do tempo que passa, inexorável, em seu eterno fluir. A ironia com que mascaro a angústia de saber que o canto é tão inútil e tão necessário e que nesta festa de iludidos, somos grãos de areia na ampulheta, sozinhos, frente à eternidade das coisas tão perenes, quando a vida.

(Paulo Cesar de Oliveria, 17.02.2012)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Dá-me amor, me sorri e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil;
Não me firas a mim, porque te feres.

Pablo Neruda

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

VERDADES CRUÉIS - FLORBELA ESPANCA

Acreditar em mulheres

É coisa que ninguém faz;
Tudo quanto amor constrói
A inconstância desfaz.
Hoje amam, amanhã 'squecem,
Ora dores, ora alegrias;
E o seu eternamente
Dura sempre uns oito dias
...
Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.
Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado...
Digo pra mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

OSHO, UM POETA

A poesia precisa ser entendida de maneira diferente — você precisa amar a poesia, e não interpretá-la.

Você precisa repeti-la muitas vezes, de tal modo que ela se misture com o seu sangue, com os seus ossos, com a sua própria medula.

Você precisa recitar poesia muitas vezes, de tal modo que possa sentir todas as nuanças, as suas formas sutis.

Você precisa sentar-se simplesmente e deixar a poesia entrar em você, para que ela passe a ser uma força viva. Você a digere e depois se esquece dela; ela entra cada vez mais fundo e o transforma.

Deixe que eu seja lembrado como um poeta. É claro — não estou escrevendo poesias em palavras. Estou escrevendo num veículo mais vivo — em você. E é isso que toda a existência está fazendo.

Osho, em "A Harmonia Oculta: Discursos Sobre os Fragmentos de Heráclito"
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue brasileiro uma boa dosagem de lirismo. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

(Chico Buarque em "Fado Tropical)
"Alguém sentando
À beira do caminho
Jamais entenderá
O que é que eu sinto agora
Sou levado pelo movimento
Que tua falta faz..."

(Fagner em Retrovisor)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O POETA MALUCO

O poeta hoje em dia,
se esquece de fazer poesia.

Mas se aquece com a melodia,
que a vida lhe oferece.

Não sofre nem uma ansiedade,
enxerga o que outro não vê.

Ah, seu poeta maluco,
Escuta o que tem a dizer,
me diga o que há de ser.

A vida, minha amiga, quando parece escurecer,
é que tá chegando um dia pra tudo de novo ocorrer.

Já pensou como seria,
tão fria a ilusão
se o que a gente quisesse,
viesse na nossa mão?

Desculpe toda essa pressa,
perdoe o que acontece,
é que na igreja em que eu moro
não oro bem uma prece.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O AMOR QUE VEJO NO MUNDO

Toda mensagem tem que no mínimo ter um contexto. Uma frase ou citação solta sempre leva a interpretações diversas e diferentes daquilo que o autor disse. Isso vale para a Bíblia, O UCEM, Osho e tudo mais. É o que penso. Mas muitas vezes a gente não tem tempo e espaço aqui na Net para expor isso e fica na frase solta mesmo.

Estive uma temporada com os irmãos da Seicho-No-Ie em 2004/2005 e verifiquei que há muito em comum entre os ensinamentos do mestre Masaharu Taniguchi e os ensinamentos de Jesus no UCEM, que na época já conhecia. Li uma dúzia de livros da SEI e ratifiquei isso, livros ótimos como o Volume 8 - "A Verdade" de Masaharu Taniguchi. Não fiquei mais tempo por que sou como uma abelha como diz mestre Osho, não fico nas plantas, tiro o néctar e sigo para outra planta. Não fixo residência. Não sou um seguidor. Outra questão é que na Seicho-No-Ie (SEI) tem muito ritual, muita cerimônia e já sabia naquela época (devido ao UCEM) que tudo se passa na mente e não no físico. O ser humano se apaixona muito por aquilo que os olhos percebem, mas "o essencial é invisível aos olhos". Um ritual, uma cerimônia é muito atrativo para os adeptos, que o diga os católicos. O ego é esperto.

Como conheço o ensinamento dos dois (UCEM e SEI) não vi o "mundo" UCEM nem o "mundo do Jisso" de Taniguchi, colocado como "fácil de ser amado"... Muito pelo contrário, ambos falam que em primeiro lugar em amar a si mesmo, que aliás é o que fala todo mestre, inclusive o teu mestre Osho. E amar a si mesmo é mais difícil ainda, embora as pessoas não admitam isso. Ah! O inconsciente.

Desse modo, amar a Deus, amar a perfeição, amar o cósmico, amar a natureza, a humanidade é uma fuga, sem dúvidas, uma fuga para não fazer o trabalho em si mesmo. Uma fuga de si mesmo. Aliás, essa palavra "fuga' é muito abrangente e profunda e significativa para explicar o comportamento humando. Fugir de si mesmo é tudo que as pessoas fazem e para isso inventam todos os artifícios possíveis e imaginários. Quem explica muito bem esse mecanismo de fuga de si mesmo é outro mestre George Ivanovich Gurdjieff.

Nesse sentido, ou seja, fugir de si mesmo, fugir de amar a si mesmo, é que entendo, compreendo e percebo a citação de Osho que iniciou essa saudável conversa: "É muito fácil pensar sobre o amor,... é muito difícil amar. É muito fácil amar o mundo inteiro, a verdadeira dificuldade é amar um único ser humano. É muito fácil amar a Deus ou à humanidade, o verdadeiro problema surge quando você se encontra com uma pessoa real e a encara. Para encará-la é preciso passar por uma grande mudança e um grande desafio."

Esse "grande desafio, grande mudança" é você, sou eu, somos nós. É a nossa individualidade. Quem sou eu?

É difícil amar um ser humano porque é difícil amar a si mesmo. A quem você vai amar? Começa por aí. A sua essência ("pessoa real","imagem verdadeira") ou a seu ego? Quase sempre as pessoas amam ao seu próprio ego e o ego das pessoas. E acabam amando as criações do ego também, o mundo, o cosmo, etc... FUGA!

Na síntese das sinteses entendo que amar a si mesmo, amar o outro e amar a Deus é a mesma coisa. Só que amar a Deus torna-se mais fácil, pois Deus não te cobra nada. Por isso é fácil amar a Deus. Agora nós e os demais cobramos esse amor. A sua esposa, namorada, amante, filhos, etc cobram o teu amor. Você se cobra. E se cobrando e sendo cobrado, se sente CULPADO. Aí, dá licença, fudeu!.

Eu já disse algumas vezes que não acredito no amor. Voltando ao início da mensagem, colocado fora do contexto, essa afirmação parece inaceitável e paradoxal, porém, não acredito nesse amor que diz que ama as pessoas, que diz que ama a Deus, que ama a natureza, que ama as estrelas, que ama o cosmo, que faz "caridade", mas não ama a si mesmo.

Nesse caso, estou com meu poeta Pessoa:

"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar..." Fernando Pessoa

A minha mãe, uma senhora de 77 anos, gosta muito de ouvir o Padre Marcelo, todos os dias às 9 hs da manhã na Rádio Globo. É comovente como ela presta atenção e se envolve emocionalmente com aquilo. Quando estou com ela nesse horário eu tenho que me esforçar para aguentar aquela "conversa mole" desse senhor. Sabe por quê? Quase metade do tempo dele nessa rádio, nesse programa, ele fala do livro dele e do CD dele, ele faz propaganda do seu livro e do seu CD, que ela, inclusive, já tem. O nome do livro? "Amor Ágape". Mas, o amor que vejo ali é o amor pelo dinheiro.

O amor que vejo nesse mundo, na ilusão desse mundo, é o amor pelo dinheiro, é o desejo.

(Paulo Cesar de Oliveria, 09.02.2012)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O PODER DA OLIGARQUIA SARNEY

Se, na esfera federal, o clã Sarney faz o papel de defensor da democracia, na província exerce o poder total, avassalador

Um caso exemplar de oligarquia com destacada presença nacional é o da família Sarney, no Estado do Maranhão. Neste mês, completam-se 40 anos da eleição de José Sarney para o governo estadual. O jovem governador, então com 35 anos de idade, representava a modernidade; contudo acabou criando uma máquina política tão eficaz que permitiu se manter por quatro decênios no poder do seu Estado -no sentido mais lato da expressão. Desde então, nenhum governador foi eleito sem que tivesse o "nihil obstat" de José Ribamar Costa. E se, no exercício do cargo, o governador eleito rompe com o padrinho, na próxima eleição a família Sarney retoma o controle político.

Domínio tão longevo é caso único na história brasileira. Diversamente de outros oligarcas, os Sarneys são politicamente plurais. O pai é peemedebista, a filha é pefelista e o filho é verde. Se os filhos são eleitos pelo Maranhão, o pai é representante do Amapá, apesar de não ter domicílio naquele Estado. Se, na esfera federal, o clã representa o papel de defensor das instituições democráticas, na província exerce o poder total, avassalador, sem ceder o menor espaço à oposição, no estilo dos mandões locais. Na definição de Euclides da Cunha, são "os senhores do baraço e cutelo".

O historiador francês Lucien Febvre escreveu o clássico "O Problema da Descrença no Século 16: a Religião de Rabelais". Analisou cuidadosamente o domínio ideológico da Igreja Católica na Europa Ocidental: "O nascimento, a morte. Entre esses dois limites, tudo o que o homem realiza, vivendo normalmente, fica com a marca da religião". Se Febvre vivesse no Maranhão, substituiria a religião pela família Sarney.

O maranhense, desde o nascimento, toma conhecimento da existência deles. Em São Luís, a capital, há a maternidade Marly Sarney. Para residir, pode escolher os bairros Sarney, Roseana Sarney, Dona Kiola (mãe de Sarney) ou Sarney Filho. Quando for entrar na escola, pode escolher os colégios Roseana Sarney, Marly Sarney, José Sarney, Sarney Neto ou Fernando Sarney. Para realizar um trabalho escolar, irá procurar a biblioteca José Sarney e, se quiser alguma informação sobre as contas públicas, pode se dirigir à sede do Tribunal de Contas Roseana Sarney Murad. Nas férias, caso queira conhecer outra cidade do Estado, pode se encaminhar à rodoviária Kiola Sarney, seguindo, é claro, pela avenida José Sarney. Ao tomar um ônibus para sair da bela ilha de São Luís, tem de atravessar a ponte José Sarney.

Ele pode visitar, no interior do Estado, o município de Presidente Sarney, de pouco mais de 13 mil habitantes, segundo o IBGE. A cidade é um bom e triste exemplo do domínio oligárquico: 5% dos domicílios têm esgoto sanitário e 0,6%, água encanada; 38% dos habitantes acima de 15 anos são analfabetos (no Brasil, são 13%). O rendimento médio da população é de R$ 159. No ranking do IDH dos municípios brasileiros, a cidade está em 5.268º lugar.

Nestes 40 anos, o Maranhão, que já era um Estado pobre em 1965, transformou-se na vanguarda do atraso. Dos Estados brasileiros, é o que tem os piores indicadores sociais. Vivem abaixo da linha da pobreza dois terços da população. Todavia, se os recursos são escassos para a educação, saúde ou o saneamento básico, são fartos quando pagam obras não realizadas, como a estrada ligando os municípios de Arame a Paulo Ramos. Os 133 quilômetros nunca saíram do papel, mas o pagamento foi efetuado. As "construtoras" receberam US$ 33 milhões, apesar dos insistentes protestos da oposição local. Com certeza, a estrada mereceria um romance que poderia ser escrito por algum acadêmico local, seguindo o realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez.

Romper o poder coronelístico por dentro, ou seja, na própria província, é tarefa quase impossível. Os coronéis controlam o Estado e seus braços repressivos. As apurações das eleições são, no mínimo, duvidosas. Apelar para o Poder Judiciário? Parentes dominam a Justiça. Optar pelos meios de comunicação? No Maranhão, os Sarneys têm a concessão -direta ou indireta- de mais de duas dúzias de emissoras de rádio e TV, além de vários jornais.
A única saída é destruir a fonte do seu poder: as relações privilegiadas que o clã mantém com a União. É de lá que emanam os recursos e o poder que permitem segregar da cidadania milhões de brasileiros. O fim do coronelismo é uma espécie de etapa necessária da nossa revolução burguesa, pois poderemos ter um Congresso Nacional mais representativo e relações efetivamente republicanas entre o governo da União e os Estados federados.

REPÚBLICA DESTROÇADA

Por Marco Antonio Villa - O Estado de S.Paulo

Em 1899 um velho militante, desiludido com os rumos do regime, escreveu que a República não tinha sido proclamada naquele mesmo ano, mas somente anunciada. Dez anos depois continuava aguardando a materialização do seu sonho. Era um otimista. Mais de cem anos depois, o que temos é uma República em frangalhos, destroçada.

Constituições, códigos, leis, decretos, um emaranhado legal caótico. Mas nada consegue regular o bom funcionamento da democracia brasileira. Ética, moralidade, competência, eficiência, compromisso público simplesmente desapareceram. Temos um amontoado de políticos vorazes, saqueadores do erário. A impunidade acabou transformando alguns deles em referências morais, por mais estranho que pareça. Um conhecido político, símbolo da corrupção, do roubo de dinheiro público, do desvio de milhões e milhões de reais, chegou a comemorar recentemente, com muita pompa, o seu aniversário cercado pelas mais altas autoridades da República.

Vivemos uma época do vale-tudo. Desapareceram os homens públicos. Foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem enriquecer a qualquer preço. E rapidamente. Não importam os meios. Garantidos pela impunidade, sabem que se forem apanhados têm sempre uma banca de advogados, regiamente pagos, para livrá-los de alguma condenação.

São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disso. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido. Pois os poderosos exercem o controle do Estado - controle no sentido mais amplo e autocrático possível. Feio não é violar a lei, mas perder uma eleição, estar distante do governo.

O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação, por mínima que seja. Não há mais distinção. O panorama político foi ficando cinzento, dificultando identificar as diferenças. Partidos, ações administrativas, programas partidários são meras fantasias, sem significados e facilmente substituíveis. O prazo de validade de uma aliança política, de um projeto de governo, é sempre muito curto. O aliado de hoje é facilmente transformado no adversário de amanhã, tudo porque o que os unia era meramente o espólio do poder.

Neste universo sombrio, somente os áulicos - e são tantos - é que podem estar satisfeitos. São os modernos bobos da corte. Devem sempre alegrar e divertir os poderosos, ser servis, educados e gentis. E não é de bom tom dizer que o rei está nu. Sobrevivem sempre elogiando e encontrando qualidades onde só há o vazio.

Mas a realidade acaba se impondo. Nenhum dos três Poderes consegue funcionar com um mínimo de eficiência. E republicanismo. Todos estão marcados pelo filhotismo, pela corrupção e incompetência. E nas três esferas: municipal, estadual e federal. O País conseguiu desmoralizar até novidades como as formas alternativas de trabalho social, as organizações não governamentais (ONGs). E mais: os Tribunais de Contas, que deveriam vigiar a aplicação do dinheiro público, são instrumentos de corrupção. E não faltam exemplos nos Estados, até mesmo nos mais importantes. A lista dos desmazelos é enorme e faltariam linhas e mais linhas para descrevê-los.

A política nacional tem a seriedade das chanchadas da Atlântida. Com a diferença de que ninguém tem o talento de um Oscarito ou de um Grande Otelo. Os nossos políticos, em sua maioria, são canastrões, representam mal, muito mal, o papel de estadistas. Seriam, no máximo, meros figurantes em Nem Sansão nem Dalila. Grande parte deles não tem ideias próprias. Porém se acham em alta conta.

Um deles anunciou, com muita antecedência, que faria um importante pronunciamento no Senado. Seria o seu primeiro discurso. Pelo apresentado, é bom que seja o último. Deu a entender que era uma espécie de Winston Churchill das montanhas. Não era, nunca foi. Estava mais para ator de comédia pastelão. Agora prometeu ficar em silêncio. Fez bem, é mais prudente. Como diziam os antigos, quem não tem nada a dizer deve ficar calado.

Resta rir. Quem acompanha pela televisão as sessões do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e as entrevistas dos membros do Poder Executivo sabe o que estou dizendo. O quadro é desolador. Alguns mal sabem falar. É difícil - muito difícil mesmo, sem exagero - entender do que estão tratando. Em certos momentos parecem fazer parte de alguma sociedade secreta, pois nós - pobres cidadãos - temos dificuldade de compreender algumas decisões. Mas não se esquecem do ritualismo. Se não há seriedade no trato dos assuntos públicos, eles tentam manter as aparências, mesmo que nada republicanas. O STF tem funcionários somente para colocar as capas nos ministros (são chamados de "capinhas") e outros para puxar a cadeira, nas sessões públicas, quando alguma excelência tem de se sentar para trabalhar.

Vivemos numa República bufa. A constatação não é feita com satisfação, muito pelo contrário. Basta ler o Estadão todo santo dia. As notícias são desesperadoras. A falta de compostura virou grife. Com o perdão da expressão, mas parece que quanto mais canalha, melhor. Os corruptos já não ficam envergonhados. Buscam até justificativa histórica para privilégios. O leitor deve se lembrar do símbolo maior da oligarquia nacional - e que exerce o domínio absoluto do seu Estado, uma verdadeira capitania familiar - proclamando aos quatro ventos seu "direito" de se deslocar em veículos aéreos mesmo em atividade privada.

Certa vez, Gregório de Matos Guerra iniciou um poema com o conhecido "Triste Bahia". Bem, como ninguém lê mais o Boca do Inferno, posso escrever (como se fosse meu): triste Brasil. Pouco depois, o grande poeta baiano continuou: "Pobre te vejo a ti". É a melhor síntese do nosso país.


HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS(UFSCAR)

Corrupção no Brasil custa US$ 146 bi por ano

Notícia publicada na edição de 04/02/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 008 do caderno B
A corrupção custa todos os anos aos brasileiros entre 1,4% e 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), uma porcentagem que pode alcançar os US$ 146 bilhões, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apresentou em dezembro um dos poucos estudos que tenta quantificar o problema. "A percepção da corrupção no Brasil se manteve nos últimos anos de forma constante e bastante alta", disse Fernando Filgueiras, coautor do estudo "Corrupção e Controles Democráticos no Brasil", publicado em 2011.
Como ele, são vários os especialistas que acreditam que os controles públicos aumentaram nos últimos anos de democracia, mas a impunidade continua sendo muito alta e o sistema político em todos os níveis deixa um amplo espaço à corrupção. "Apenas o governo federal dispõe por lei de 90 mil cargos de confiança (de livre nomeação), enquanto nos Estados Unidos são apenas 9.051 e na Grã-Bretanha 300", disse à AFP Claudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil.

Permutas de cargos

O contraste do Brasil como um país rico, mas do Terceiro Mundo na questão da transparência, emergiu com o caso inédito da renúncia forçada de sete ministros por supostas irregularidades em pouco mais de um ano de governo de Dilma Rousseff. O mais recente caso foi o do ministro das Cidades, Mario Negromonte, que renunciou na quinta-feira, perseguido por denúncias de irregularidades.
A queda em série de ministros é apenas a ponta do iceberg da corrupção que corrói o Brasil de forma endêmica, atravessa a política e representa um de seus maiores desafios para se consolidar como potência econômica mundial, segundo especialistas. "Somos um país rico, mas com costumes de países pobres", declarou à AFP Gil Castello Branco, presidente da Contas Abertas, uma ONG especializada na luta contra a corrupção.
No entanto, Dilma goza de uma popularidade recorde de 72% graças ao bom momento da economia e porque a opinião pública relaciona as renúncias com seu combate à corrupção, e na prática conserva a tradição de assegurar o apoio do Congresso em troca de quotas de poder.
Dilma governa com uma coalizão integrada por 10 partidos, já que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem apenas 85 dos 581 assentos na Câmara dos Deputados.
Assim, os ministros perderam os cargos, mas seus partidos conservam os ministérios.
Incorporada à história brasileira, a corrupção é uma das maiores preocupações das classes alta e média em tempos de bonança, e potencial ameaça para os milionários investimentos realizados pelo Brasil para acolher o Mundial de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, segundo analistas. O Brasil, como sexta economia mundial é a pior classificada depois da China entre os países mais ricos em relação à corrupção, segundo o índice de Transparência Internacional.

O MEU PAÍS


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país


Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país


Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país


Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio - x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo


Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o brasil em mil brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

(Zé Ramalho - Meu País)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OS SETE PASSOS PARA A SUPERAÇÃO DO CONTROLE DO EGO

Por Wayne W. Dyer

Aqui estão sete sugestões para ajudá-lo a transcender os conceitos enraizados do orgulho. Foi escrito com o intuito de preveni-lo contra a falsa identificação com o ego orgulhoso.

1. Pare de se sentir ofendido.


§ O comportamento de outras pessoas não é motivo para se sentir imobilizado.

§ Existe a ofensa apenas quando você se enfraquece.

§ Se procurar por situações que o aborreça, as encontrará em cada esquina.

§ É o ego no controle convencendo você que o mundo não deveria ser do jeito que é.

§ Mas é possível tornar-se um observador da vida e alinhar-se com o Espírito da Criação universal.

§ Não se alcança o poder da intenção sentindo-se ofendido.

§ Procure erradicar, de todas as formas possíveis, os horrores do mundo que emanam da identificação maciça do ego, e esteja em paz.

§ Assim como nos lembra o Curso em Milagres: O Ser está em Deus e você que é parte Dele só retorna ao lar em Sua paz.

§ Ficar ofendido cria o mesmo tipo de energia destrutiva que a princípio o feriu, e leva a agressão, ao contra-ataque e a guerra.

2. Abandone o querer vencer.


§ O ego adora nos dividir entre ganhadores e perdedores.

§ A busca pela vitória é a forma infalível de evitar o contato consciente com a intenção.

§ Por quê? Porque basicamente é impossível vencer sempre. Algumas pessoas serão mais rápidas, mais sortudas, mais jovens, mais fortes e mais espertas que você e acabará se sentindo insignificante e sem valor diante delas.

§ Você não se resume as suas conquistas e vitórias. Uma coisa é gostar de competir e se divertir num mundo onde vencer é tudo, mas não precisa ser assim em seus pensamentos.

§ Não há perdedores num mundo onde todos compartilham da mesma fonte de energia.

§ Só se pode afirmar que, em determinado dia, sua atuação esteve num certo nível comparada a outras.

§ Mas cada dia é diferente, com outros competidores e novas situações a serem consideradas.

§ Você continua sendo a infinita presença num corpo que está a cada dia ou a cada década, mais velho.

§ Pare com essa necessidade de vencer, não aceite o conceito de que o contrário de vencer é perder. Esse é o medo do ego.

§ Se seu corpo não está respondendo de forma vencedora, não importa, significa que você não está se identificando unicamente com seu ego.

§ Seja um observador, perceba e aprecie tudo sem a necessidade de ganhar um troféu.

§ Esteja em paz e alinhe-se com a energia da intenção.

§ De forma inusitada, as vitórias aparecerão mais em seu caminho quanto menos as desejar.

3. Abandone o querer estar certo.


§ O ego é a raiz de muitos conflitos e desavenças porque o impulsiona julgar as pessoas como erradas.

§ Quando a pessoa é hostil, houve uma desconexão com o poder da intenção.

§ O Espírito de Criação é generoso, amoroso e receptivo; e livre de raiva, ressentimento ou amargura.

§ Cessar a necessidade de ter razão nas discussões e nos relacionamentos é como dizer ao ego; "Não sou seu escravo. Quero me tornar generoso. Quero rejeitar a necessidade de ter razão".

§ Dê a oportunidade de se sentir bem dizendo a outra pessoa que ela está certa, e agradeça-a por lhe direcionar ao caminho da verdade".

§ Ao deixar de querer ter razão, você fortalece a conexão com o poder da intenção.

§ Mas fique atento, pois o ego é um combatente determinado. Tenho visto pessoas terminarem lindos relacionamentos por apego a necessidade de estarem certas.

§ Preste atenção à vontade controlada pelo ego.

§ Quando estiver no meio de uma discussão, pergunte a si mesmo; "Quero estar certo ou ser feliz?"

§ Ao optar por ser feliz, amoroso e predisposto espiritualmente, a conexão com a intenção se fortalecerá.

§ Esses momentos expandem novas conexões com o poder da intenção.

§ A Fonte universal começará a colaborar com você para uma vida criativa ao qual foi predestinado a viver.

4. Abandone o querer ser superior.


§ A verdadeira nobreza não é uma questão de ser melhor que os outros. É uma questão de ser melhor ao que você era.

§ Concentre-se em seu crescimento, consciente de que ninguém neste planeta é melhor que ninguém. Todos nós emanamos da mesma força de vida criadora. Todos temos a missão de realizar nossa pretendida essência, tudo que precisamos para cumprir nosso destino está ao nosso alcance. Mas nada é possível quando nos sentimos superiores aos outros.

§ É um velho ditado e, todavia, verdadeiro: somos todos iguais aos olhos de Deus.

§ Abandone a necessidade de sentir-se superior, perceba a expansão de Deus em cada um.

§ Não julgue as pessoas pelas aparências, conquistas, posses e outros índices do ego.

§ Ao projetar sentimentos de superioridade retorna a você sentimentos de ressentimentos e até hostilidade.

§ Esses sentimentos são veículos que os levam para longe da intenção.

§ O Curso em Milagres aborda essa necessidade de se sentir especial e superior.

§ A distinção sempre leva a comparações.

§ Baseia-se na falta de vista no outro, e se mantém pela procura e ostentação das falhas percebidas.

5. Deixe de querer ter mais.


§ O mantra do ego é "mais".

§ Ele nunca está satisfeito.

§ Não importa o quanto conquistou ou conseguiu, o ego insiste que ainda não é o suficiente.

§ Ele põe você num estado perpétuo de busca e elimina a possibilidade de chegada.

§ Na realidade, você já está lá e a forma que opta para usar esse momento presente da vida é uma escolha.

§ Ao cessar essa necessidade por mais, as coisas que mais deseja começam a chegar até você.

§ Sem o apego da posse, fica mais fácil compartilhar com os outros. Você percebe o pouco que precisa para estar satisfeito e em paz.

§ A Fonte universal é feliz nela mesma, expande-se e cria vida nova constantemente.

§ Nunca obstrui suas criações por razões egoístas.

§ Cria e deixa ir.

§ Ao cessar a necessidade do ego de ter mais, você se unifica com a Fonte.

§ Como um apreciador de tudo que aparece, aprende a lição poderosa de São Francisco de Assis: "É dando que se recebe".

§ Ao permitir que a abundância lhe banhe, você se alinha com a Fonte e deixa essa energia fluir.


6. Abandone a idéia de você baseado em seus feitos.


§ É um conceito difícil quando se acredita que a pessoa é o que ela realiza.

§ Deus compõe todas as músicas.

§ Deus constrói todos os prédios.

§ Deus é a fonte de todas as realizações.

§ Posso ouvir os egos protestando em alto e bom som.

§ Mas, vá se afinizando com essa idéia.

§ Tudo emana da Fonte!

§ Você e a Fonte são um só!

§ Você não é esse corpo ou os seus feitos.

§ Você é um observador.

§ Veja tudo ao seu redor e seja grato pelas habilidades acumuladas.

§ Todo crédito pertence ao poder da intenção, o qual lhe fez existir e do qual você é uma parte materializada.

§ Quanto menos atribuir a si mesmo suas realizações, mais conectado estará com as sete faces da intenção, mais livre será para realizar e muito aparecerá em seu caminho.

§ Quando nos apegamos às realizações e acreditamos que as conseguimos sozinhos abandonamos a paz e a gratidão à Fonte.


7. Deixe sua reputação de lado.


§ Sua reputação não está localizada em você.

§ Ela reside na mente dos outros.

§ Você não tem controle algum sobre isso.

§ Ao falar para 30 pessoas, terá 30 imagens.

§ Conectar-se com a intenção significa ouvir o coração e direcionar sua vida baseado no que a voz interior lhe diz.

§ Esse é o seu propósito aqui.

§ Ao preocupar-se demasiadamente em como está sendo visto pelos outros, mostra que seu eu está desconectado com a intenção e está sendo guiado pelas opiniões alheias.

§ É o seu ego no controle.

§ É uma ilusão que se levanta entre você e o poder da intenção.

§ Não há nada a fazer, a não ser que você se desconecte da fonte de poder convencido de que seu propósito é provar o quão poderoso e superior é, desperdiçando sua energia na tentativa de obter uma reputação maior entre outros egos.

§ Faça o que fizer, guie-se sempre pela voz interior conectada e seja grato à Fonte.

§ Atenha-se ao propósito, desapegue-se dos resultados e assuma a responsabilidade do que reside dentro de você: seu caráter.

§ Deixe os outros discutirem sobre a sua reputação, isso não interessa.

§ Ou como o título de um livro diz:

§ O que você pensa não me diz respeito!