terça-feira, 25 de agosto de 2009

Juliana Hollanda

Como uma foto daquele namoro que acabou sem arco-íris

rasgada na metade

o prenúncio da chuva

e você sem proteção


o chão coberto de cacos

e você descalça

sem escapatória a cortar os pés


uma foto rasgada

o namoro que acabou sem saída

o sangue que escorre dos pés


a dor de continuar caminhando

o medo sem raios de sol

as estrelas que gritam

o olhar perdido

a impossibilidade de juntar as metades da foto...


o saber que a fita Durex está lá

e você pode cortar um pedaço

e depois da raiva passada desejar colar o retrato

transformando novamente 2 em 1

só que você também sabe sobre as coisas quebradas

você sabe que elas nunca voltam ao normal depois do conserto

é tudo um paliativo ao seu apego,

mas na verdade,

nada adianta porque mesmo que alguma coisa mude

sempre existirá o remendo

aquele remendo bem no meio do retrato

os olhos percebem, o coração sente a mente pensa naquele pedaço de fita Durex no lugar certo para sua saudade no lugar errado para o seu orgulho, seu amor
velhos amores apagam-se em fotografias rasgadas novos amores acordam com a respiração ofegante e o coração acelerado antes do primeiro beijo. é a foto nova no porta-retrato a outra no fundo da gaveta uma taça de vinho na cabeceira novos cheiros, sorrisos e uma vontade louca de cruzar o horizonte com rodopios de balé.


(Juliana Hollanda é carioca de 30 anos. Poeta e jornalista. Faz parte do grupo carioca Ratos di Versos, que se apresenta em vários lugares no circuito underground de poesia no Rio de Janeiro. Publicou em 2008, Acordei num Iceberg, livro selecionado para a final do prêmio Portugal Telecom de 2009.)