Três grupos de formas-pensamento opacas pareceram estar emergindo:
1 – o ‘grupo-de-Luz,’ que continha a manifestação clara e definida do Espírito Santo de Deus; composto pelos que recusaram a separação;
2 – o ‘grupo-escuro’ que continha o pensamento original de separação composto pelos que se identificavam com a separação;
e finalmente
3 – o ‘grupo-do-meio’, que não continha nenhum pensamento definido, pró ou contra a separação, mas que de alguma forma, pela indefinição, se viu apanhado entre os dois outros.
Por alguma razão, os componentes agora separados ou componentes individuais da Filiação, pareciam estar quase que atraídos eletromagneticamente por um dos três grupos, o ‘grupo-escuro’. Eu me vi integrando o ‘grupo-do-meio.’
Eu havia sido infectado pela ignorância, e em minha total perda de conhecimento acreditei que esse pensamento de separação era passível de realização. O choque da travessia de saída do Céu para um vazio, produziu essa intensidade de dor, medo e esquecimento.
“Quem é o responsável por esses pensamentos de insanidade?” gritei alto. “Como foi que vim parar aqui?”
Em resposta ouvi bem alto, uma gargalhada sarcástica e desdenhosa, e reconheci o grupo-escuro imediatamente. Aquele pensamento original, aparecendo agora em forma opacificada, se uniu a outros componentes-Filhos. Essas formas-pensamento apenas pareciam estar pensando o seguinte:
“Alcançamos o impossível e o inconcebível: a auto-criação! Demos nascimento a alguma coisa que é totalmente separada da Realidade. Usurpamos e pervertemos o poder de Deus, e nos fizemos à nossa própria imagem. Agora nós somos Deuses: auto-criadores e auto-criados. Nosso experimento foi conseguido, parecia ter dado resultado. E tem mais, nós sabemos que nossa Fonte não tem como nos fazer parar porque Ela compartilha todo o poder conosco, em termos de igualdade. Nós atingimos o que queríamos por nos desatrelarmos do Reino. Deus não consegue ser Todas as Coisas porque Ele não consegue fazer parar, impedir, que parte Dele se separe Dele. Nós negamos à Causa seus Efeitos, e assim negamos a Ele Sua própria existência. Nós obliteramos Deus!”
Um terror a pino me engolfou e eu gritei alto para eles:
“Vocês estão todos loucos. É impossível negar a nossa Fonte!”
Mas eles contrapuseram:
“Por certo que conseguimos. Nossa Fonte não nos pára. Atenção! Nosso experimento está realizado!”
Eu estava confuso e perplexo:
“Como consegue um componente-Filho chegar ao conhecimento de que consegue negar sua Fonte? Estão eles querendo desafiar a Deus para que Ele os faça parar?”
Meu terror fez com que sua jactância parecesse ser verdade para mim, mas em alguma outra região de minha mente eu sabia ser isso impossível. Eu estava experienciando como real em minha mente o que não conseguia ser real, e eu não entendia o que se passava comigo. Era bem óbvio que eles não se importavam com o Reino, porque a sua única consciência estava totalmente em oposição à verdade, e sua intenção era existir numa dimensão oposta ao Céu e a Deus.
Completamente desesperado e perturbado, olhei ao meu redor por ajuda e percebi uma grande Luz emanando do que parecia ser algumas outras formas-pensamento.
Fui ao encontro desse ‘grupo-de-Luz’ e pedi ajuda e entendimento. Na presença de Amor me rodeando, senti uma tranquila segurança emanando desses grandes Seres que, mesmo cientes dessa ínfima idéia insana e tola, não se deixaram ficar contaminados por ela, por jamais haver perdido a memória – a lembrança, o conhecimento – de sua Fonte amorosa. Era como se uma linha de Luz do Céu intacta decolasse com eles, permitindo a eles se manterem em uma contínua presença de Amor.
Uma Voz gentil disse a mim estas resplandecentes formas-pensamento:
“Não tenha medo. Lembre-se de onde você veio e você quem é. Essas idéias tolas de usurpação, rebelião e limitação que abalaram sua paz e alegria não conseguem tocar você, se você se mantiver ciente da pureza de sua Fonte. O que você está experienciando é unicamente uma delusão da mente e, em Realidade, isso não consegue realmente afetar você.”
Mas eu disse a eles:
“Por que me sinto tão perdido: desolado, desnorteado, em dor e confuso?”
A Voz disse:
“Lembre-se, pense lá atrás em sua primeira resposta a essa ínfima idéia insana de que talvez houvesse um oposto ao Céu.”
Eu não conseguia lutar contra minha resistência a essa memória, e reconheci, para meu horror, o que minha verdadeira primeira resposta havia sido:
“Isso parece interessante; como isso poderia ser? imagino eu”
Eu me sentia doente só pela idéia de que, tendo considerado a possibilidade de algo outro que o Céu – mesmo por uma fração de segundo – eu tivesse permitido que aquele pensamento contaminasse parte de mim. A amorosa Voz da Luz me explicou:
“A razão para sua dor e confusão é esta: a parte de sua mente que considerou aquele pensamento que você pensou está agora experienciando seus efeitos de tê-lo pensado. Isso é tudo o que aconteceu. Nada mais. Aquele pensamento e seus efeitos parecem muito reais para você, mas seu verdadeiro estado de ser – espírito, uno a Deus – é sua única Realidade. Uma parte de sua mente crê estar experienciando essa não-realidade, um estado chamado consciência que percebe opostos e dualidade, em contraste com a unidade do Céu.”
Exclamei:
“Mas como isso consegue acontecer?”.
Eles explicaram:
“Na verdade isso não acontece. Focalize sua mente na lembrança da verdade, agora. Mantenha-se no pensamento de sua Fonte.”
Mas, com impaciência, eu disse a eles:
“Temos de fazer algo a respeito disso. Nós simplesmente não podemos permitir que isso continue. Nós temos de parar e erradicar esse pensamento de separação e todas as suas consequências.”
Eu estava aterrado. Dolorosamente comecei um inventário mental e entendi que através do nascimento do que chamamos consciência eu percebi a dualidade, e isso se tornou o estado mental – a mentalidade – do grupo-do-meio, inclusive a minha. O medo, que eu havia experienciado como um ruído áudio boom, por causa de minha primeira emoção que senti ao crer que eu havia me separado de minha Fonte e negado o Amor, a emoção do Céu.
Isso foi seguido pela percepção do aparente abalo da unidade, fragmentada de muitas formas. Eu me tornei ainda mais assustado e não consegui aceitar as reafirmações do grupo-de-Luz. A experiência de culpa e terror era forte demais. De repente, em minha mente torturada outra vez ouvi o gargalhar de desacato do grupo-escuro. Virei minha atenção para eles ao me dizerem:
“Como você consegue ouvir o que lhe dizem? Você sabe o que está experienciando. Eles não entendem isso. Atenção! Vamos mostrar a você que poder temos.”
Virei-me de volta para o grupo-de-Luz e, sentindo-me escorregar para a escuridão, berrei para eles em desespero:
“Vocês não sabem o que eles vão fazer? Como conseguem ficar aí postados sem fazer coisa alguma? Vocês nem ao menos se importam? O que estão fazendo é imperdoável, assim como é a sua permissão para que isso aconteça.”
Com a calma do Céu, os Seres de Luz do grupo-de-Luz me disseram:
“Não se oponha a nada. Não os responsabilize e também não creia no que você esteja ou venha a ouvir e ver. O Amor, nosso estado verdadeiro, nunca consegue se opor a coisa alguma, você sabe disso. O Amor simplesmente é, e não consegue abrigar opostos. O que se apresenta como oposto ao Amor é irreal e, portanto, insano. Não creia no que não existe.”
Desvairado, olhei em torno e vi que havia outros que, como eu mesmo, se sentiam aterrados e perdidos. Meus pensamentos voaram até eles à medida que sua luta dolorosa reforçava a minha. Virei-me de novo para o grupo-de-Luz, implorando-lhes:
“Por favor unam-se a nós. Vamos todos juntos parar os escuros para conseguirmos fugir desse estado de separação e retornar à nossa Fonte e Criador. Em Seu Santo Nome, eu insisto que se mobilizem junto conosco contra os escuros.”
Sua Voz amorosa e autorizada respondeu:
“Considere isto: opondo-se a esses pensamentos você está se separando a si mesmo da Filiação e fará então a separação real em sua mente, sem mencionar sua própria culpa, por ter primeiro se interessado nesses pensamentos. Por dar-lhes esse poder, você crerá que sua insanidade seja agora possível de realização. Se esses pensamentos verdadeiramente não tivessem realidade para você, você não se incomodaria em opor-se a eles. Tornando-os reais em sua mente, você não será capaz de evitar tornar-se parte do que, inevitavelmente, se seguirá. Lembre-se que você é um com sua Fonte, e tudo que Ele tem é seu.”
Eu ponderei esses pensamentos e busquei conseguir clareza interior enquanto o caos me rodeava e me engolfava, puxando-me forte por um vórtice descendente de terror e auto ódio. Eu tinha conhecimento de que outros estavam mergulhando verticalmente nessa mesma espiral de medo e culpa comigo, e nessa escuridão vazia eu freneticamente clamei para esses que estavam tão desnorteados como eu:
“Juntemo-nos e vamos. Agora sabemos que o grupo-de-Luz não nos ajudará, por razões que não ficaram claras para mim. Temos de agir por nossa conta. Juntos nos oporemos os componentes escuros e impediremos suas más ações contra o Reino e nosso Criador e conseguiremos vencer os escuros de nossa própria maneira.”
E assim as linhas de batalha foram formadas e montadas. Eu me uni a outros componentes e juntos lideramos as forças desse grupo-do-meio que queriam retornar à quietude prístina do Céu. Eu ainda não sabia que havendo virado as costas à mensagem dos Seres de Luz eu havia me aprisionado a mim mesmo, e aos que me seguiram também, para uma realidade que era a total negação do Deus verdadeiro e, mais adiante, uma descida obrigatória quase vertical ao inferno.