quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Cristianismo Sem Cristo

Para até mesmo o mais casual dos observadores, fica claro e evidente que, ao longo dos dois mil anos da história ocidental, o elemento mais dominante tem sido o cristianismo, e essa influência encontrou seu caminho em cada aspecto importante de nossa sociedade.
Nossos anos são numerados a partir do presumido nascimento de Jesus, e não de uma pessoa, sem levar em conta sua religião, falhou em ser influenciada por Jesus, e pela religião que tomou seu nome. também é aparente que o cristianismo não tem sido muito cristão. Nietzsche assinalou que “em verdade, houve apenas um cristão e ele morreu na cruz,” enquanto que Chesterton[1] registrou que “o ideal cristão ‘não foi tentado e encontrado falho;’ foi encontrado difícil e deixado de lado sem nem ser tentado.”

Não é indispensável ser um estudante atilado de história, portanto, para compreender que os dons do cristianismo para o mundo foram de dois gumes. Para começar, ele preservou por séculos a memória e o exemplo de Jesus – a expressão mais pura que conhecemos do Amor de Deus – inclusive seu evangelho de perdão, bem como beneficiando o mundo com suas muitas contribuições culturais e artísticas. Ao mesmo tempo, entretanto, o cristianismo se mostrou uma religião de sacrifício, culpa, perseguição, assassinato e elitismo, com Jesus como seu símbolo maior – ele cujo evangelho era só amor, perdão, paz e unidade. Como afirma Um Curso em Milagres "Alguns ídolos amargos foram feitos dele que apenas queria ser um irmão para o mundo." (ET-5.5:7)

O desenvolvimento do cristianismo consegue ser visto, em parte, como a história de um povo que, apesar de crer em Jesus e em sua mensagem, muitas vezes involuntariamente trazia conflito, guerra, e separação para o mundo, em vez de paz, unidade e salvação. Em vez de ver todas as pessoas como uma só família sob Deus, ela dividiu e subdividiu sua família. Antes que consigamos aceitar completamente essa mensagem radical de perdão e unicidade de todas as pessoas como a família de Deus, os erros do passado têm de ser corrigidos, curados e desfeitos.

Como Um Curso em Milagres torna claro, os erros do cristianismo meramente refletem os erros básicos de qualquer pessoa ou grupo que creia que a separação de Deus de fato ocorreu. Assim, o cristianismo nos abre a oportunidade de não só curar os erros do passado, mas entender melhor a dinâmica de nossos próprios egos através de vê-los refletidos na história das religiões cristãs.

Os que começam a estudar Um Curso em Milagres esperando encontrar – para o melhor ou para o pior – o cristianismo que aprenderam e praticaram, ou o cristianismo que parece tolerar intolerância e perseguição, ficará muito surpreso. Encontrarão muitas das mesmas palavras com as quais estavam familiarizados – crucificação, expiação, salvação, milagre, perdão de pecados, Cristo, Filho de Deus, etc. – mas com significados e conotações bem diferentes.

A crucificação permanece o evento central da vida de Jesus, porém a interpretação do Curso fica a 180 graus do ensinamento tradicional de que ele haja sofrido e morrido por nossos pecados.[2] Além do mais, a crucificação é explicada como um modelo de perdão por nosso próprio comportamento quando somos tentados a nos perceber, a nós mesmos, injustamente tratados pelo mundo.

Enquanto que Freud geralmente recebe críticas ferozes tanto nos círculos populares como profissionais – em parte por causa de sua forte atitude anti religiosa – não deixa de ser verdade que sem o seu trabalho o registro de Um Curso em Milagres no mundo poderia ter sido muito retardado. A dinâmica do ego, como apresentada pelo Curso, é amplamente psicanalítica, e a disseminada aceitação e entendimento da ‘projeção’ certamente são diretamente atribuídas a seu trabalho e aos que seguiram seus passos. De forma paradoxal, então, conseguimos observar que as conclusões interiores do homem que lutou tão apaixonadamente para negar a existência da espiritualidade consegue ser revertida para nos ajudar a desfazer as barreiras que nos mantiveram impedidos de reconhecer nossas verdadeiras identidades como crianças – criações – de Deus.

É importante notar que Um Curso em Milagres veio para o mundo num lugar pouco provável – um grande centro médico no coração da Cidade de Nova York. Não se conseguiria pedir um lugar mais dramático para simbolizar o materialismo e o uso inadequado do poder em nosso mundo. Como já observamos em relação ao cristianismo, os erros pedem correção nas formas em que são expressados. Para os que ficassem tentados a “praticar” ou “aprender” o Curso em isolamento, o nascimento do Curso serve como um memento simbólico da necessidade de aprender suas lições exatamente onde nos encontramos, nas próprias situações dos relacionamentos problemáticos diários de nossas vidas.
Um Curso em Milagres afirma: "Há aqueles que são chamados a mudar sua situação de vida quase que imediatamente, mas esses são geralmente casos especiais. Para a grande maioria é dado um programa de treinamento de evolução lenta, durante o qual é corrigido o maior número possível de equívocos anteriores. Relacionamentos em particular têm de ser percebidos de modo correto e todas as pedras angulares da incapacidade de perdoar têm de ser removidas." (M-9.1:6-8)



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Um Curso em Milagres é publicado pela Fundação para a Paz Interior e sua primeira edição foi em 1976, e ao tempo da edição deste livro (1995) já vendeu mais de um milhão de cópias em todo o mundo, sem qualquer campanha promocional na mídia, senão o boca-a-boca. Traduções até essa data (1995) foram feitas em espanhol, português e alemão, com outras línguas em breve se seguindo.[3]

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Fonte: DESPERTO DO SONHO
O Mito Cosmogônico em Um Curso em Milagres
Gloria Wapnick
Kenneth Wapnick, Ph. D.
Tradução
M. Thereza de Barros Camargo
Ibis Libris2009

[1] N.T. – Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton, (Londres, 29 de maio de 1874Beaconsfield, 14 de junho de 1936) foi um renomado escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, filósofo, desenhista e conferencista britânico.
[2] N.T. – ou que seu corpo e seu sangue lavem os pecados
[3] N.T. – Hoje (2009) já está traduzido e publicado em papel: 14 novas + 3 existentes + 1eletrônica = 18 línguas e foram vendidos mais de dois milhões de cópias, só do original em inglês, sempre anunciados pelo boca-a-boca.