domingo, 26 de abril de 2009

O Controle do Prazer

Por Regina Navarro Lins
Psicanalista e escritora, autora do best seller “A Cama na Varanda”

Duvido muito que as pessoas realmente procurem o prazer. Quando numa palestra falo da importância de sempre se buscá-lo, muita gente protesta com ar de censura: “Mas a vida não é só prazer!”. Segundo Freud, existem duas formas de o ser humano buscar a felicidade: visando evitar a dor e o desprazer ou experimentar fortes sensações de prazer. Numa cultura em que sofrimento é virtude, não é de se estranhar a falta de ousadia de se tentar viver de forma prazerosa.

A felicidade e a alegria são vistas como alienação, ao contrário da angústia existencial, que é respeitada. Mas como ninguém escapa do desprazer, não há motivo de desânimo para os que desejam algum sofrimento. Viver com medo de assalto, ficar preso em engarrafamento, entrar em fila de banco, procurar emprego...Não é suficiente?

Saber descobrir e sentir prazer pode ser um talento e uma arte que precisa ser cultivada. E não é tão simples. Os controles políticos, sociais e religiosos sobre o prazer continuam existindo em todas as partes do mundo. Controlar os prazeres das pessoas é controlá-las.

O prazer sexual, por pertencer à natureza humana e atingir a todos sem exceção, sempre foi visto como o mais perigoso de todos. É, portanto, o mais controlado. Na Idade Média, chegaram ao ponto de afirmar que o ato sexual no casamento só estava isento de pecado se não houvesse prazer entre o casal, e o homem que sentisse muito desejo pela esposa estaria cometendo um verdadeiro adultério.

Mas o que haverá de errado com o prazer, se as pessoas chegarem ao trabalho na hora, obedecerem aos sinais de trânsito, aproveitarem as latas de cerveja para reciclagem e não abusarem do bem-estar da dignidade alheia? A censura ao prazer não se limita somente à vida privada, mas também a arte da literatura.

Ao contrário dos artistas gregos e romanos, que consideravam o nu masculino como exemplo de perfeição humana, durante muito tempo, antes de serem exibidas para o público, as estátuas tiveram os órgãos genitais tapados ou o pênis quebrado com um martelinho especial. O Davi, de Michelangelo, antes de ser exibido em Florença, em 1504, recebeu uma folha de figueira, só retirada em 1912.

Como resultado do fato de não se desenvolver o prazer, a grande maioria das pessoas acaba fazendo sexo em menor quantidade e de pior qualidade do que gostaria.

Não é a toa que Reich fala da miséria sexual das pessoas, porque, segundo ele, elas se desempenham sexualmente de tal modo, que se frustram durante a própria realização com uma habilidade espantosa.