terça-feira, 30 de junho de 2015


Quem sou eu?

Juro que quando eu descobrir

Você será a segunda pessoa a saber

Logo depois de mim

/pco

UMA OBSERVAÇÃO SOBRE VERSOS

. Verso branco: é aquele que não rima com nenhum outro da estrofe, entretanto, como os demais, sua metrificação é perfeita; obedece rigorosamente as regras do metro. O verso branco também é conhecido como verso de rima branca.

Quando uma estrofe tem todos os seus versos com a mesma quantidade de sílabas poéticas, dizemos que é uma estrofe de versos regulares ou isométricos.

Vejamos a bela estrofe do poema “Maria”, do poeta Elói Firmino de Melo. Excelente exemplo de versos brancos:

Maria era tão bonita
Mas tinha um choro escondido;
Por ter plantado no peito
Um mar repleto de ausências.
Primeiro, o pai que se foi
deixando um fruto no ventre;
depois a mãe que partiu
quando o fruto fez-se luz.
  
Analisando, verificamos que a estrofe é composta de 8 (oito) versos. À estrofe de oito versos, chamamos de oitava. Observamos que todos os versos têm a mesma quantidade de sílabas poéticas, que, no caso, são sete. Além disso, não existe correspondência de rima entre os seus versos. Lembramos que na língua portuguesa contamos as sílabas poéticas a partir do início de cada verso até a sílaba tônica da sua última palavra. Lendo, recitando ou cantando, pronunciamos assim:

  1  / 2 / 3 / 4 /   5  /  6  / 7  /  8
1      Ma / ri / e / ra / tão / bo / ni / ta                 A
  1   / 2 /   3     /    4  /  5  /  6   /  7  /  8
2      Mas / ti / nhum / cho / res / con / di / do;     B
          1  /  2  /    3   /  4 /  5  / 6  /  7   /  8             
3      Por / ter / plan / ta / do / no / pei / to          C
          1  /   2   /  3 /   4  /  5 /    6   /  7   /   8
4      Um / mar / re / ple / to / deau / sên / cias.  D
          1 /   2  /  3  /  4  /   5   / 6  /  7
5      Pri / mei / ro / pai / que / se / foi                E
          1  /  2   /   3   /  4  / 5  /  6  /   7   /  8
6      dei / xan / dum / fru / to / no / ven / tre;     F
          1 /   2   / 3 /   4   /   5   /   6  /  7
7      de / pois / a / mãe / que / par / tiu              G
           1   /  2  /  3  /  4 /  5  /  6  /  7
8      quan / do / fru / to / fez / se / luz.               H

A reprodução acima serve para melhor entendimento daqueles que ainda não dominam a técnica da escansão/metrificação ou contagem de sílabas poéticas. Veja que na terceira sílaba do primeiro verso, há uma elisão, ou seja, a segunda letra “a” do nome “Maria” foi elidida ou suprimida pela letra “e” da palavra “era”, porque é assim que lemos normalmente: “Mariera tão bonita.”
O processo de elisão também aparece naturalmente na 3ª sílaba do 2º verso, na 6ª sílaba do 4º verso, na 3ª sílaba do 5º verso, na 3ª sílaba do 6º verso e na 2ª sílaba do 8º verso.

Observamos também que as acentuações mais fortes (ictos) do 1º ao 7º  versos, ocorrem na 2ª e 7ª sílabas, determinando o rítmo de toda a estrofe, inclusive do 8º verso, que tem seus ictos na 3ª e 7ª sílabas. Neste caso, recitando ou cantando é natural que o último verso obedeça o rítmo dos demais.

Chamamos de ictos as sílabas mais fortes do verso. São elas que determinam o seu rítmo (do verso) e, consequentemente, do poema. 

Versos isométricos ou regulares: característica trazida  pela poesia clássica, que preferencialmente produzia poemas com a mesma quantidade de sílabas poéticas nos versos, tornando-os isométricos ou regulares, ou seja, versos com a mesma metrificação, com a mesma medida. A isometria é uma das características basilares da nossa poesia popular nordestina, herdada da matriz poético-popular dos árabes. Na poesia moderna, porém, é constante o uso de versos livres ou irregulares, também chamados de heterométricos.

Versos irregulares ou heterométricos: característicos da poesia moderna, que chegou quebrando padrões, substituindo a metrificação  pelo versos livres, aqueles que não obedecem a mesma medida de sílabas poéticas.

. Verso livre: é o verso que não tem rima, nem obedece às regras da metrificação ou medida de estrofe (estrofação); tem unidade semântica, mas não obedece a formas fixas. É o sujeito poético quem determina-lhe o ritmo, de acordo com o fluxo sentimento-emocional de cada um.

Para exemplificar, reproduzimos abaixo, o excelente poema “Irmãos do Mangue”, de Alfredo Moraes.

IRMÃOS DO MANGUE

Abençoados são vocês

Que alimentam seus filhos

Com esperança

E à noite

Ensinam-lhes a dormir

Com fome.

 Analisando a estética:

        1 /   2    /  3  / 5 /  6   /   7  /  8  /  9

1      A / bem / co / a / dos / são / vo / cês          A

          1   / 2 / 3 /   4   /   5   /   6    / 7 /  8

2      Que / a / li / men / tam / seus / fi / lhos       B

           1   /  2  /  3 /  4   /  5

3      Com / es / pe / ran / ça                              C

         1 / 2 /  3  / 4

4      E / à / noi / te                                           D

         1  / 2 /    3   /   4    / 5 /  6   /  7        

5      En / si / nam / -lhes / a / dor / mir               E

           1   /  2  /  3

6      Com / Fo / me.                                          F

Observe que o poeta não se preocupa com metrificação ou rima, ele dá uma estética moderna ao seu poema, o que permite uma evolução rítmica de acordo com o que a imagem poética possa despertar no sentimento, na emoção do leitor.  Na poesia moderna também não existe obrigatoriedade quanto à quantidade de versos numa mesma estrofe.

Por Meca Moreno
pesquisador, poeta e compositor.


domingo, 28 de junho de 2015


“POR QUE ESCREVE?” 

Por Marcos Siscar 

Para explicar por que escrevo ou por que se escreve usando “de 2.000 a 4.000 palavras”, seria necessário mais do que clareza sobre desejos e estratégias, recalques e políticas. Veríamos se insinuar algo como o gosto pela exposição pública, este espetáculo de autor que, segundo as más línguas, acompanha hoje a experiência da literatura, mais do que a própria leitura – um “excesso” de sujeito no lugar em que o sujeito parece estar em “falta”. 

A resposta ao “por que escreve?”, no fundo, deveria envolver considerações que vão da psicanálise ao marxismo, da filosofia à teoria da literatura, expondo-se a elas, ao mesmo tempo; a não ser que se aceitasse com simplicidade o acréscimo de um suplemento de biografia, de anedotas e incidentes pessoais mais imediatamente narcísicos que teriam gerado a obra, tomada agora como objeto de memória ou de testemunho. Ou, então, nos restaria inverter o voyerismo de leitor pressuposto pela pergunta – pois de fato não é da conta do leitor a razão pela qual um escritor escreve. 

Privado da escrita literária como “ceia” a ser degustada (como dizia um romancista famoso), que o leitor tome seu café e saia.

Se ocupo as primeiras linhas de meu texto com uma tergiversação que tem aparência de subterfúgio, não é para fugir à questão. Apenas para colocá-la numa situação que me permita começar a interagir com ela. Ninguém está isento das gesticulações narcisistas, a tal ponto que responder a questões desse tipo pode ser intimidante e mesmo criar uma real imobilidade, inevitáveis abstenções. 

Do mesmo modo, nenhum escritor, ainda que declaradamente narcisista, aceitaria ocupar o lugar repugnante que lhe é designado pelo interrogatório, ainda que de aparência singelo. Então, o que parece desvio pode ser decisivo para o destino da questão. 

Se pensarmos muito nas razões da pergunta “por quê?”, nas motivações que a guiam, quando enunciada, se em suma colocarmos a pergunta entre aspas, talvez consigamos dar a entender o drama da situação. Um dos modos de entender a pergunta é vê-la como a enunciação de um falso problema, de um “ardil”. Por que não perguntamos aos críticos ou aos jornalistas por que escrevem? Por que não temos o hábito de perguntar aos filósofos por que duvidam, ou aos padres por que professam? Ainda que a proposta fosse apenas a de desarmar a empostação dos saberes e das práticas gastas do campo literário, pela evocação crua de uma necessidade íntima ou política, responder à questão, na sua sintaxe alienígena (em “por que escreve?”, a ausência de sujeito torna a frase ambígua), já é cair na sua armadilha, por assim dizer. 

A pergunta direciona de antemão aquilo que se pode (e aquilo que não se pode) dizer; a enunciação decide quais são as possibilidades da resposta. Ou então nada disso importa ao leitor desarmado, ao pobre leitor desamado – e seria preciso admitir que minha resposta começa mal. 

Então, recomeço. Haveria respostas interessantes para a pergunta “por que escreve?” Por exemplo, aquelas que usam a retórica da não resposta, ou seja, que mobilizam o espírito de colaboração do leitor, para poderem ser lidas como resposta. Por exemplo: “escrever não é preciso”, escreve Alcir Pécora: o leitor não pediu para que o escritor escrevesse (mas teria pedido a opinião do crítico?). A provocação me parece boa, porque ela diz respeito à minha decisão de escrever (ou à decisão de escrever, em geral). 

Na medida em que escrevo e que acho importante pensar sobre a razão de escrever (fico imaginando se intelectuais, filósofos, jornalistas pensam a mesma coisa), a ideia de que “escrever não é preciso” me diz respeito. Ela mantém em tensão o horizonte complexo e fértil da pergunta “por que escreve?”. No fundo, a tradição aberta por Bartleby, de Melville, com sua célebre resposta “I would prefer no to” (preferiria não, preferiria que não), acabaria dando um viés bastante estimulante para interagir com o “por quê?” alienígena: preferiria não responder. 

Mas, antes dos protestos, esclareço que não acho ruim a pergunta “por que escreve?”. Pelo contrário, a pergunta me soa convincente, sedutora, na sua apóstrofe, na posição que assume não apenas de quem aceita que o escritor escreva, possa escrever, mas de quem vai na direção dessa curiosa (e, dizem, anacrônica) disposição de espírito. Por isso, para não ser totalmente avaro de diversão, e antes que me arrependa, copio aqui um fragmento, na verdade uma anotação que fiz recentemente, na perspectiva longínqua de um projeto de livro, ainda não delineado. 

Aspas: “Quando falei de retorno ia falar de volta. Ensaio impôs-se “sobre” e retorno soou melhor. (“Ensaio sobre o retorno”, dizia o título). Penso agora que volta parecia mais coloquial, menos pensativo. Por que, no fundo, o pensativo? Talvez esta seja a questão, e não o retorno. Peso cada palavra que uso. Cada palavra é pesada, deve ser carregada, formulada até que mostre algo do que nela me move. O que no fundo procuro, se no fundo a palavra parece sempre gasta? Talvez procure por que escrevo, ou porque escrevo, enquanto escrevo; talvez a escrita seja o mapa da procura: a razão de buscar escrever, aquilo que no ato me faz escrever, a cada momento. Poderia não escrever? Por que negá-lo? Por que não o não? Sim, poderia. “Eu” poderia dizer isso. Eu é um carroceiro tosco, com sua frágil lanterna. E mesmo que pudesse não escrever, mesmo assim, quereria poder escrever a delícia de não escrever, essa alegria infinda, maior que o sentido de uma vida. E portanto escreveria. 

Mas por quê?” Devo deixar anotado que “Carroceiro tosco” é uma imagem de um poema que escrevi em meu último livro. Na verdade, aqui, precisaria dizer carroceiros, pois há muitos em mim que resolveriam a questão de “por que escreve?” com a violência enfadada de “é mais isso do que aquilo”. E o que me interessa na poesia, agora que me defronto com a pergunta, talvez seja justamente a possibilidade de não fazer isso. De não precisar abrir mão de todas as razões (que são aporéticas, contraditórias), de poder, ao contrário, expandir as dificuldades advindas dessas aporias para outros campos discursivos nos quais parecem estar abafadas, subestimadas, silenciadas. Claro, quem responde, mesmo que responda como Bartleby, acaba resolvendo a dificuldade, dá uma forma àquilo que é difícil (não apenas porque múltiplo, mas porque contrariante). De certo modo, o autor de um texto é sempre o carroceiro. Em ocasiões como esta, por exemplo, sempre aparece em mim um carroceiro. Não para defender-me, para poupar-me. Ao colocá-lo sob a luz e dar-lhe espaço para avançar, ao deixá-lo ranger as rodas de sua máquina de explicação, ele vai ganhando corpo, perspectiva, estratégia. Aquilo que carrega em sua carroça, o modo como ignora o que há em torno, como mastiga a areia e a pedra do caminho – tudo isso me expõe, tudo isso me trai. 

Então, por estranha que pareça a conclusão, posso dizer que, diante do leitor blasé, ainda não familiarizado com a profunda contradição do olhar que me dirige, dramatizo nosso conflito e “solto o carroceiro”. Não como quem “solta o cachorro”. Mas às vezes um carroceiro deve preparar o terreno. Para muitos, certamente, a quem o susto já não passa de cócegas, de hábito cansado de retóricas e astúcias literárias, seja por experiência própria ou pelo aprendizado indireto do cansaço, apresentar o carroceiro no lugar do poeta é a mesma coisa que incorporar o mau poeta, aquele que explica as razões do escrever, que inflaciona a experiência direta e comum, esta que supostamente nos une a todos, indistintamente. Já ouvi muita gente dizendo que o carroceiro é aquele que estraga o poema. É uma opinião corrente. Mas se alguém “solta o carroceiro” ainda daria para pensar o que é melhor ou pior para o “poema”? A resposta não me parece óbvia. Depois que escrevo um poema, muitas vezes durante a escrita de um poema, e certamente enquanto estou organizando um livro de poemas, o carroceiro mostra-se fundamental, imprime a marca de sua necessidade. É ele que dá tensão e estrutura para aquilo que parece ter sido dado “espontaneamente”, ainda sem sentido, com o afeto da salvação de algo que estaria à beira da perda. É um momento tão excitante e tão duradouro – pois continua depois do livro publicado – que dou de ombros quando um leitor de má vontade acredita que pode ler o livro sem reconstituir o percurso. 

O estilo carroceiro, aqui extremado, ao mesmo tempo que dá profundidade ao “vivido”, já não está longe de se constituir como momento de uma sintomatologia geral, e se comunica com o risco deliberado do autismo. Não digo isso apenas a meu respeito, para dar razão ao leitor eventualmente contrariado. O “autismo” da relação com o texto nunca é apenas pessoal: assim como não nos faltam leitores surdos, a surdez não é um atributo que nos distingue. Nem digo isso apenas a meu favor, entenda-me. 

Em meu último livro, passou um carroceiro e andou trocando algumas coisas de que não me orgulho. Trocou uma palavrinha justamente no poema que dá título ao livro, com o qual me emociono a cada leitura, e que por isso mesmo para mim ainda não está totalmente escrito. Claro, não vou contar o que ele mudou naquele poema. Isso faz parte da minha escrita, não das nossas confidências. Por outro lado, esse mesmo carroceiro deixou coisas de igual teor, onde teria sido muito mais simples rasurar. Coisas que já antevejo, na pluma do comentador justiceiro, como prova de uma inequívoca cegueira de classe ou de um equivocado projeto estético. 

Moral da história: antes dos caprichos sociais, antes das neuroses, dos imbroglios de pensamento, há a negociação, a cena de um conflito que a poesia é capaz de assumir, sem envergonhar-se. A poesia é para mim o nome deste lugar onde uma resposta atravessada se permite. Ao contrário do que supõem os proprietários intelectuais da pergunta, e todos aqueles que registram patentes antigas com cara de novas. Tenho minhas razões, públicas e privadas, para preferir que a resposta esteja sempre atravessada, muitas vezes na garganta. Seria pretensão esperar que as razões do leitor estivessem mais próximas das minhas? Não creio. Há muitos tipos de leitores. Inclusive aqueles para quem ler/escrever poesia é colocar tudo em jogo. E tudo quer dizer algo mais geral que o gênero “poesia”, que a disciplina “estética”, que a produção editorial, que a “vida literária”, que as peripécias sociais e históricas da “cultura”. Não se trata de querer que a poesia “mude” a vida. Por outro lado, se ela já não tiver mudado a vida, qual seria seu interesse? Seria dispensável, como qualquer outra coisa: como a medicina, como a agricultura, como a religião. 

A quem interessam minhas razões senão aqueles para os quais essas razões já fazem parte, de modo mais ou menos sabido, mais ou menos formulado, da sua própria “resposta”? Se é que se permitem esta resposta, como a poesia se permite, ou me permite. Quero dizer que aceitar as razões de poesia é aceitar colocar tudo em jogo, e não apenas parte da experiência (lazer, conhecimento, educação). E que isso se aprende, é claro, mas se aprende não simplesmente na forma da consagração ou da denúncia das razões espirituais ou materiais do poeta. Talvez constatar o já-estar-ali do sentido seja uma maneira de levar adiante um tal aprendizado. Este não deixa de ser um modo propício de entender o que acontece quando passamos da poesia para outros regimes de relação com o sentido. Depois de 1.898 palavras, percebo que já levei a discussão a um nível insuportavelmente carroceiro. Devo cumprir o contrato das 2.000 palavras mínimas? A partir daqui, certamente, já não teríamos muito o que nos dizer um ao outro, caro leitor desamado. Eu, pelo menos. Sinto que não. Viro a página e lá estamos, de novo sós. Pergunto-me por quê.


A MOÇA ME DISSE
QUE NÃO DORME DE CAMISOLA
TUDO BEM
A MOÇA ME DISSE
TAMBÉM
QUE SÓ DORME NUA
MAS, NESSE FRIO
É MELHOR DORMIR COMIGO

/pco

PLAGIANDO BELCHIOR

NÃO ME PEÇA QUE EU LHE FAÇA
UM POEMA COMO SE DEVE
CORRETO, BRANCO, SUAVE
MUITO LIMPO, MUITO LEVE
PALAVRAS SÃO NAVALHAS
E EU NÃO POSSO POETIZAR
POEMAS DE AMOR COMO CONVÉM
SEM QUERER FERIR NINGUÉM
MAS NÃO SE PREOCUPE
COM OS HORRORES QUE EU LHE DIGO
ISSO É SOMENTE UM POEMA
A VIDA É REALMENTE DIFERENTE
QUER DIZER
A VIDA É MUITO PIOR
POR ISSO CUIDADO MEU BEM
HÁ PERIGO NA ESQUINA

/Belchior - pco

sexta-feira, 26 de junho de 2015


HOJE EU ACORDEI COM UMA DOR NO CORAÇÃO


HOJE EU ACORDEI COM UMA DOR NO CORAÇÃO
NÃO É CARDÍACO
NÃO É FÍSICO
TAMBÉM NÃO É METAFÍSICO
É UM VAZIO
UM VÁCUO
UM ABISMO
NÃO TEM EXPLICAÇÃO
É COMO SE NADA EXISTISSE
NEM PASSADO, PRESENTE OU FUTURO
POR UMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS
O TEU ROSTO ME APARECE NA MENTE
COMO SE FOSSE ALGO MEU
QUE ESTÁ AUSENTE
PARECE QUE CARREGO VOCÊ NO MEU CORAÇÂO
NÃO SEI SE ISSO É RUIM OU BOM
NESSE MEU SILÊNCIO E RECOLHIMENTO
DEIXO ESSAS PALAVRAS SEREM LEVADAS PELO VENTO
PARA QUE SEJAM DEIXADAS
EM ALGUM LUGAR ONDE TENHO GUARDADO E ESCONDIDO TODOS OS OUTROS MEUS SENTIMENTOS
HOJE EU ACORDEI E TROPECEI
NO VAZIO DA TUA AUSÊNCIA
E NA SAUDADE DA MINHA CASA
DE ONDE PARTI
JÁ FAZ TANTO TEMPO
HOJE, EU E TUDO AO MEU REDOR
ESTÃO MAIS EXTERIOR
MAIS OCO
VAZIO POR DENTRO
MAS COM ALGUMA FORMA POR FORA

/pco
26.06.2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015


Abismo

Fernando Pessoa

Olho o Tejo, e de tal arte 
Que me esquece olhar olhando, 
E súbito isto me bate 
De encontro ao devaneando — O que é sério, e correr? 
O que é está-lo eu a ver? 
Sinto de repente pouco, 
Vácuo, o momento, o lugar. 
Tudo de repente é oco — Mesmo o meu estar a pensar. 
Tudo — eu e o mundo em redor — Fica mais que exterior. 
Perde tudo o ser, ficar, 
E do pensar se me some. 
Fico sem poder ligar Ser, 
idéia, alma de nome 
A mim, à terra e aos céus... 
E súbito encontro Deus.


RIVOTRIL E PROZAC





'Os sentimentos têm sido calados com Rivotril e Prozac', 
diz psiquiatra. 


ENQUANTO OS TEUS SENTIMENTOS
TEM SIDO CALADOS
COM PROZAC
OU RIVOTRIL
OS MEUS
EU TENHO GRITADO
COM MINHA POESIA
E MUITO "PUTA QUE PARIU"!

MAS O TEU SILÊNCIO CHEGOU
SOBERANO E SUPERIOR
TENTANDO CALAR
MINHA DOR
VOCÊ DIZ QUE
NÃO GOSTA E
NÃO COMPREENDE
MEUS POEMAS
QUE EU ESCREVO MUITO
E COISA E TAL
QUE ISSO NÃO É NORMAL


ENQUANTO VOCÊ FICA
DIZENDO ESSAS ASNEIRAS
VENDO AS NOVELAS
E AS VITRINES NA RUA
EU FICO TE OLHANDO
E IMAGINANDO
VOCÊ NUA

SEQUER SEI
SE ISSO É UM POEMA,
UMA BESTEIRA
OU UM DILEMA
VOCÊ GOSTA DE DINHEIRO
E DE SE EXIBIR
OU GOSTO DE VOCÊ
SÓ PARA MIM

/pco

terça-feira, 23 de junho de 2015


DESCOBRI SEM QUERER A VIDA

POSSO LER COMO UM LIVRO  O TEU SILÊNCIO

EU SEI O QUE TU SONHAS
E ATÉ SEI QUANDO SONHAS
SÃO OS MESMOS SONHOS QUE SONHO
DESCOBRI SEM QUERER A VIDA
DESCOBRI SEM MESMO TER RAZÃO
HOJE EU TE VI PELA PRIMEIRA VEZ NESSA VIDA
MAS TE RECONHECI DE OUTRAS
QUANDO PARTI
LEVEI COMIGO AQUELE GOSTINHO SEMI-DOCE DOS TEUS BEIJOS
UMA PEQUENA LEMBRANÇA SOMENTE
OS VÃOS MISTÉRIOS DA TUA ALMA ME FASCINAM 
FICO EM DUVIDA SE ÉS REALMENTE REAL 
OU SE FAZES PARTE TAMBÉM DAQUELES SONHOS 
QUE NUNCA DEIXEI DE SONHAR-TE

pco/.

A SÍNTESE DO MUNDO OU TENTANDO FUGIR DA MATRIX

VOCÊS QUE NÃO ME CONHECEM A TANTO TEMPO SABEM COMO A PALAVRA É IMPORTANTE PARA MIM E PARA OS POETAS TAMBÉM. O SILÊNCIO, ENTRE OUTRAS COISAS, É CONSTRANGEDOR.


APESAR DE ESCREVER MUITO, EU BUSCO A FRASE CURTA, QUE POSSA RESUMIR E SINTETIZAR O MÁXIMO POSSÍVEL, EMBORA A GRANDE MAIORIA DAS PESSOAS NECESSITEM DE MUITAS PALAVRAS PARA COMPREENDER POUCO. MAS,  EU ESCREVO PARA MUITO POUCAS PESSOAS.


(APESAR DE SEMELHANTE ATRAIR SEMELHANTE NÓS BUSCAMOS O NOSSO OPOSTO, AQUILO OU AQUELA PESSOA QUE NOS COMPLETA,  NO SENTIDO QUE NOS SUPRE DO QUE ACHAMOS QUE NÃO TEMOS)


A FRASE QUE SINTETIZA, RESUME E EXPLICA ESSE MUNDO É ESSA:


"O INFERNO É AQUI".


É UMA FRASE ANTI-RELIGIOSA, PORÉM DIVINA.


POLÊMICA.


QUANDO SAIO NA RUA OU TENHO CONTATO REAL OU MESMO VIRTUAL COM OUTRO POSSÍVEL SER HUMANO DÁ UMA INCONTROLÁVEL VONTADE DE VOLTAR PARA O CÉU.


NO ENTANTO,  NINGUÉM ESTÁ NO INFERNO POR ACASO. AFINAL,  EXISTE A LEI DE CAUSA E EFEITO.


pco/.

terça-feira, 16 de junho de 2015


PRECISO DE TI

Eu ouvi quase todas as músicas
Li os principais poemas dos poetas mais famosos
Busquei Deus em todas as religiões que encontrei
Visitei as igrejas e os templos
Realizei alguns rituais
Amei algumas mulheres. 
Não, talvez não tenha realmente amado.
Busquei o prazer, o conforto e a segurança
Além do "amor" que todos buscam
Também li muitos livros de filosofia, ciência e outros mais
Sonhei e ainda sonho
Fiz planos de ser feliz
Acreditei e até cri
Mas hoje eu sei
Que é apenas Eu e meu Guia
De tudo isso, restou apenas nós dois
"Vinde Espírito Santo, sede minha Força 
e meu Entendimento. Una-se mim e me dê 
a certeza de onde vou"
Eu preciso de Ti
Me ensina a Perdoar
Me ensina a ser Grato
Me ajuda a viver
Preciso de Ti
A cada dia que vivo aqui
Eu preciso mais de Ti
Pois a cada dia aumenta em mim
A vontade de partir
De voltar para Casa
É única oração e pedido que Lhe faço
Me dê a Tua Força e o Teu Entendimento
Una-se a mim
Que eu possa vencer o meu ego
E compreender e aceitar o ego do meu irmão
A dor da Separação 
Está consumindo meu coração
Há só um Deus
Há só uma Filiação
Há um só Amor

/pco
14.06.2015

domingo, 14 de junho de 2015


Vocês gostam de rima pobre. Então segura essa:

BATERIA

DEIXAREI A MINHA VIDA ACABAR
IGUAL A BATERIA DO MEU CELULAR
MAS NÃO VOU CARREGAR
CHEGA DE FALAR
E CONVERSAR
SOMENTE SEUS BEIJOS 
PODERÃO ME RESSUSCITAR

/pco

"Nunc est bibendum"


Sim, meus amigos

O vinho é o leite dos velhos

Como disse Bossuet:

“O vinho tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e filosofia”

Quintana, o poeta, diz que o vinho deve ser bebido com seu mais antigo e silencioso amigo.

Mas meus amigos são como meus amores
Os que não morreram moram longe demais
Vinho combina com música, poesia e romance
Ouço dizer que os amantes do vinho serão castigados no inferno
Se os que amam o vinho e o amor vão para o inferno o céu deve estar vazio
O vinho foi dado ao homem para curar seus cansaços
Ontem meu mais velho amigo após receber o meu mais recente poema me disse:
Você é o “Poeta de Vida Inexplicável”
Sim, ele acompanhou parte da minha vida

/pco

sexta-feira, 12 de junho de 2015


UM PRETENSO POETA TENTA FAZER UM POEMA NO DIA DOS NAMORADOS


UM PRETENSO POETA
ANGUSTIADO E IGNORADO
NÃO PODERIA DEIXAR PASSAR EM BRANCO
O DIA MAIS IMPORTANTE
PARA A GRANDE MAIORIA DAS PESSOAS
O DIA DA MENTIRA
DESCULPE-ME!
"O DIA DOS NAMORADOS"
ENTÃO,  EU FIZ UM POEMA
QUE É MAIS OU MENOS ASSIM:

Agradeço hoje meu amor
Estar sozinho nesse dia
Pois só assim pude refletir 

Sobre você e eu
Sobre eu e você
Estando com você eu nunca poderia pensar em você
Agradeço a Deus por ter te amado sozinho
E por você ter me abandonado definitivamente 

quando meu amor por ti 
já tinha se tornado uma doença
Você pode ver o que a cegueira do meu amor por ti me impediu de ver
Você foi verdadeira e realista com teus sentimentos e comigo
E destruiu essa minha tola ilusão
Nesse dia, quando vejo esses casais se beijando
Eu tenho inveja e orgulho de mim
E gratidão por ti
Agradeço ao Grande Espírito
por ter me libertado
E mostrado que amei a mulher errada
Mas que não me sentisse culpado por isso
Pois o Grande Poeta disse que "O amor é bom, mas o sono é melhor"
E "quem ama nunca sabe o que é o amor"
Hoje eu durmo em paz
e meu coração,
que já era bom,
hoje é justo e sábio
Além disso, em época de crise financeira e econômica,
Hoje eu fiz uma tremenda economia em presentes, almoços, jantares, motel e flores
Eu sempre vou te amar,  meu amor
Mesmo sabendo que seu grande amor é o dinheiro, o  conforto e a segurança
Há várias formas de amar,  mas só um Amor
O amor mais bonito e nobre é também o que mais dói
É o amor que liberta a pessoa amada
E dessa forma eu cumpri minha missão de poeta
e fiz esse suposto poema, nesse dia tão importante
Vocês podem até dizer que isso não é um poema e que eu nunca fui um poeta
Mas não podem dizer que eu sou um ingrato
e mal amado
Ou que tenha esquecido do "Dia dos namorados"

/pco
12.06.2015

quinta-feira, 11 de junho de 2015


EU ÀS VEZES SAIO DE MIM


Com canções e poesia procuro transformar
a dureza da vida em leveza
As derrotas em vitórias
O desamor em amor
Mas hoje nesse mundo não tenho mais para onde ir
Estive em todos os lugares e em todas as pessoas
E encontrei a mesma coisa, ilusão e dor
Agora que dobrei a curva do tempo e converso mais com minha alma
Deixei o tempo se apoderar dos meus sonhos
Com o tempo aprendi a amar o que sou
Aprendiz de mim
E como doeu
Não falo em Deus
Mas sei que Somos Um
Não falo em amor
Porque sei que ele é do outro mundo
Não busco o amor
Quero encontrar a mim mesmo
Em algum tempo em alguma galáxia
Eu realmente existi
Eu às vezes saio de mim
É quando melhor me vejo
Sangrar os velhos sonhos, os velhos paradigmas
Esvaziar-se sem morrer
Morrer sem sangrar
Lendo os poetas famosos e seus poemas
eu vi os seus dilemas

 /pco
11.06.2015

terça-feira, 9 de junho de 2015


ANDO ASSUSTADO

ANDO ASSUSTADO COM A RAPIDEZ DA DEGRADAÇÃO HUMANA,  
PRINCIPALMENTE NO BRASIL QUE SEMPRE FOI UM POVO FRACO E MUITO IGNORANTE.
POR MAIS QUE EU SEJA PESSIMISTA E SAIBA DO EGO E DA ILUSÃO DO MUNDO, 
MESMO ASSIM, É ASSUSTADOR. 
O SER HUMANO É INVIÁVEL.
CHEGO A SENTIR UMA COMPAIXÃO DIVINA POR ESSA RAÇA HUMANA.
NÃO ME SINTO REALMENTE NA MINHA CASA E MUITO MENOS FAZENDO PARTE DISSO. 
ESTRANHO MINHA PRÓPRIA ALMA.

/pco

quarta-feira, 3 de junho de 2015


A INUTILIDADE DE SER

ANDO CANSADO DE PROCURAS INÚTEIS E CERTEZAS MAIS INÚTEIS AINDA. 
ANDO CANSADO DESSE DEUS TÃO HUMANO CRIADO PELOS NOSSOS DESEJOS TÃO EGOÍSTAS.
ME LEMBRO QUE QUANDO ESTAVA COM VOCÊ O TEMPO PASSAVA MUITO RÁPIDO. 
E O MESMO TEMPO NÃO PASSAVA NUNCA QUANDO VOCÊ ESTAVA AUSENTE.
ISSO PROVA O QUÊ? 
QUE O TEMPO E VOCÊ SÃO ILUSÕES QUE EU MESMO CRIEI. 
OS POETAS JÁ ESCREVERAM
TODOS OS POEMAS DE AMOR.
MAS SÓ OS FALSOS POETAS
FAZEM POEMAS DE AMOR. 
ANDO CANSADO DE ACORDAR TODAS AS MANHÃS E ASSISTIR A NOITE CHEGAR
E TODAS AS MANHÃS E TODAS AS NOITES EU SÓ TENHO A ESPERANÇA COMO COMPANHIA.
TODOS OS DIAS EU FLERTO COM A MORTE.
MAS A VIDA É MINHA AMANTE. 
DESDE QUE VOCÊ SE FOI EU ACORDO CEDO 
SÓ PARA TIRAR A POEIRA QUE FICOU ACUMULADA
NA PALAVRA AMOR
EU NÃO FAÇO A MENOR QUESTÃO DE SER OU NÃO SER FELIZ
PORQUE CONHEÇO A ILUSÃO DOS MEUS DESEJOS
MAS SER FELIZ É TÃO IMPORTANTE PARA VOCÊ
QUE SE EU PUDESSE EU ROUBARIA A FELICIDADE DOS DEUSES
SÓ PARA VER VOCÊ SORRIR
INÚTIL ESCREVER 
A DOR NÃO PASSA
E A INCOMPREENSÃO AUMENTA
A VERDADE É QUE O HOMEM RICO NÃO TEM TEMPO PARA SER POETA


/pco