quinta-feira, 29 de maio de 2014

DEIXA-ME DESAFIAR OS TEUS PUDORES


Deixa-me tocar teu corpo
beijar teus seios
teu ventre
saborear o mel da tua boca
deixa-me lamber a tua fonte de prazer
deslizar minha boca por todo o teu corpo
me afogar nas tuas águas
sentir o calor das tuas coxas
deixa-me desafiar os teus pudores
deixa o aroma gostoso
desse teu líquido viscoso
invadir minhas narinas
e alimentar esse meu desejo tão carnal
me cavalgue
me cavalgue a madrugada inteira se quiseres
pois sou teu cavalo domado
deixa-me sentir o fundo
dessa tua gruta tão gostosa
que é como melhor te possuo
deixa-me desafiar todos os teus puderes

pco/.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

POEMAS DA MADRUGADA


I
Enquanto você dormia
Nessa madrugada chuvosa e fria
Eu fazia poesia
Para quando você acordar
Ter algo para ler
Que não seja as desgraças de todos os dias

II
Descobri tem menos de dez anos
Na verdade não sou um poeta                                                    
A minha essência é que é poética
A minha vida hoje é poética
O meu amor é poético
                (e o meu tesão também)
Minhas palavras muitas vezes são poéticas
Tenho transformado dramas em poesia
                (mas não tenho modificado as comédias)
Teu corpo é poesia
Que leio todos os dias
De noite e de dia
Só um poeta pode extrair a essência
 do teu corpo e das tuas águas
Mergulhar nas profundezas do mar
E não se importar
Se vai viver ou se afogar
Ou se há um porto seguro para atracar

III
Sei que és noiva do meu irmão Jesus
E que tua mãe Maria te proibiu de sair comigo
Pois não sou digno que entreis em minha casa
E por isso me misturei com as prostitutas
Como fez teu noivo

IV
Acariciar teus cabelos
beijar  tua boca
e teus seios                                                      
salvaria a minha vida
o resto
me tornaria imortal


pco/.

terça-feira, 27 de maio de 2014


Melisa,
o dia que meus olhos te verem
e meu corpo não te desejar
peça para me enterrarem
pois estarei morto

Melisa,
tua pele é lisa
o teu corpo é labirinto 
sem saídas


pco/.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

domingo, 25 de maio de 2014


"Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco.
Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reação contra mim desce-me da inteligência… Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores, assisto-me com sono; olho, sobre o papel meio escrito, a vida vã sem beleza e o cigarro barato que a expender estendo sobre o mata-borrão velho. Aqui eu, neste quarto andar, a interpelar a vida!, a dizer o que as almas sentem!, a fazer prosa como os gênios e os célebres! Aqui, eu, assim!…"

BOM DOMINGO!


Acoólatra é quem acorda de manhã e bebe
mesmo num domingo
Fumante é quem acorda de manhã e fuma
mesmo num domingo
Poeta é quem acorda de manhã e faz um poema
mesmo num domingo
Cristão é quem acorda no domingo de manhã 
e vai a missa, ao culto
Ninguém está errado, ninguém está certo
Cada um cumpre o destino que escolheu para si
Se o plantio é diferente
A colheita é diferente

pco/.

Escrevo como quem planta 

Escrevo como quem planta,
não como quem canta.
Jogo na terra de mim mesmo 
uma semente e rego:
às vezes nasce um verso,
uma flor, uma rima.
Outras vezes nego.
Escrevo como quem janta:
busco o alimento,
não o sentimento.
Escrevo como quem lavra:
poesia não é declaração de amor.
Sua matéria-prima
não é a intenção,
nem a emoção,
nem a dor:
é a palavra
.

- Luciano Trigo

sábado, 24 de maio de 2014



SÁBADO A NOITE

É noite de sábado
para quem não vê televisão
não bebe
e já se cansou das palavras do ego
é sempre um dia de tédio
ser poeta é ser sozinho
eu queria fazer um “amor” gostoso
mas minha amante está longe
eu queria me aquecer no teu corpo
mas você não está aqui
a vida é assim
nunca é como sonhamos
pensei em fazer um poema
para passar o tempo
mas quem compreende o que escrevo?
é tudo uma paródia de mim mesmo
sempre pela manhã meu testosterona está alto
é quando você me faz mais falta
hoje eu pensei tanto em você
a vida é assim
ou estou sozinho
ou estou sem você
o que dá no mesmo
vou tentar fazer um poema
se conseguir
coloco numa garrafa vazia
e jogo no mar
talvez o oceano tenha mais sorte do que eu


pco/.

A EVOLUÇÃO (OU INVOLUÇÃO) DO HOMO SAPIENS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 60 ANOS



sexta-feira, 23 de maio de 2014

O QUE IMPORTA NO CAMINHO


Não sou misterioso
sou reservado
mesmo assim me exponho bastante
é que não sou importante
importante é o que digo
mas importante ainda é o que não digo
importante não é o meu ego

Não é o que faço que importa
mas sim a intenção que coloquei naquilo que fiz
o resultado das minhas ações normalmente é diferente da minha intenção
é que durante o caminho havia várias pedras
e muitas vezes tropecei, cai e levantei

Não é o caminho que importa
mas sim de que forma você caminhou no caminho
não é aonde você chegou
mas sim, com Quem você caminhou o caminho

Não é simplesmente chegar no destino
mas também buscar e ajudar aqueles que se feriram, tropeçaram e cairam nas pedras do caminho

Não é que eu seja misterioso
mas, é que tudo é oculto de mim
mesmo assim, ainda Te busco

pco/.



PERGUNTAS E RESPOSTAS

Perguntaram-me se eu era feliz
levei um tremendo susto
eu nunca havia pensado nisso
eu ia vivendo
muitas vezes preocupado
algumas vezes despreocupadamente
agora que alguém perguntou
eu descobri que também precisava ser feliz
antes eu não tinha essa ambição

Perguntaram-me se eu acreditava em Deus
só espero que os religiosos e crentes não fiquem
aborrecidos comigo
mas eu acho que Ele acredita mais em mim
do que eu Nele
foi o que eu disse, sem muita certeza

Fizeram então uma terceira pergunta
perguntaram-me se eu já tinha amado alguém
sim, eu disse, todos os dias da minha vida eu amei alguém
poucas vezes presente
mas, sempre na minha mente

Então, concluíram e me disseram:

“Você realmente acredita em Deus, mas nem sempre é feliz”.

E por quê? Eu quis saber

E então o perguntador disse: 

“Ao contrário do que algumas pessoas dizem, Deus e a felicidade ninguém sabe o que é, não pode ser visto, definido e explicado e apesar disso você desistiu de buscar a felicidade quando percebeu a ilusão do mundo, mas  nunca desistiu de buscar Deus.”

E o amor, perguntei. O amor existe?

E a resposta foi: 

“Poeta, no fim de todos os dias que você amou, principalmente quando não foi amado, no fim desses dias, você encontrará Deus e Ele te entregará o Amor embrulhado em papel de presente dourado.”

E quando será o fim de todos os dias que amei? Arrisquei.

“O fim de todos os dias é como o Amor pode ser a qualquer dia”.

Depois dessas palavras se fez um grande silêncio. Nada mais foi perguntado.

Ainda bem, pois, eu não tinha mais nenhuma resposta ou dúvida.



(©Paulo Cesar de Oliveira)

quarta-feira, 21 de maio de 2014


Acredito que algo se perdeu
não sei se você
mas é provável que seja eu
nesses tempos confusos, difusos
na insanidade desse mundo
que crucifica os poetas
em nome da razão e da lógica
nesse mundo onde o dinheiro dá as cartas

Mesmo assim você ainda me pede
que te escreva um poema romântico-sensual-erótico
como se o tempo não exercesse sua cruel ação corrosiva
em mim, no meu corpo, na minha alma, nos meus sonhos
no meu amor sem uso
você não sabe?
a ilusão também corroeu meu coração
e me mostrou que o amor é somente uma oportunidade
que voa mais rápido do que um avião
                                                                                                                 

pco/.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

60 ANOS É O MEU PRESENTE



Nos últimos 3 anos sempre no dia do meu aniversário tenho escrito alguma coisa. Esse  ano não me sinto com vontade escrever nada muito especial.  Não é que eu não me sinta bem, muito pelo contrário, me sinto melhor do que nos últimos anos. Então, para não quebrar a tradição segue umas palavrinhas.

Completar 60 anos e entrar oficialmente no seleto time dos “idosos" com saúde e cada vez mais consciente me soa como uma vitória e me sinto bem com esse sentimento. Uma vitória não só contra o tempo, mas também contra eu mesmo e meu ego, com quem travo uma batalha diária, horária, instante a instante.

Não espero nada desse mundo da ilusão e das pessoas, o que vier eu danço. A diferença agora é que hoje danço sem me importar muito com que música está tocando ou quem dança comigo. Não reclamo mais do baile da vida. A orquestra não é minha e não paguei nada para entrar, quando dei por mim, estava dentro sem direito a sair, a não ser quando o baile acabar.

E tem gente de todo tipo aqui. Nesse baile da vida. A maioria dança uma música que nem está tocando.

Nunca esqueço das palavras que li um dia de um místico que dizia que existem dois tipos de neuróticos, os que vivem do passado e os que vivem do futuro, só o presente existe.

Sessenta anos é o meu presente.


©19-05-2014 Paulo Cesar de Oliveira

sábado, 17 de maio de 2014

DE AMANTE A POETA


OS MEUS MELHORES VERSOS
ESCREVI SOBRE O TEU CORPO
E SOMENTE NA TUA AUSÊNCIA
ESCREVI NO PAPEL
MAS FOI SÓ POR LEMBRANÇAS
DE AMANTE A POETA
FOI APENAS UMA QUESTÃO
DE SAUDADES


pco

terça-feira, 13 de maio de 2014

EU TENHO ESPERANÇAS


Eu tenho a esperança que um dia
vou ler ou fazer um poema
que me levará daqui desse mundo caduco
uma poema transcendental
que me abra um portal
já tentei de tudo
para me livrar desse mundo
mas só um poema dessa magnitude
poderia
me levar a uma outra dimensão          
um poema que reabrisse meu coração
fechado pela mentira e pela ilusão
não vejo solução além da poesia
porque descobri, sem querer
por acaso
que Deus é poeta
ou talvez a própria poesia
eu tenho a esperança de um dia
ler ou fazer uma poesia
que lavasse minha alma
encardida de tantas vidas
levasse toda essa minha tristeza
e que devolvesse a minha alegria
e a minha fé nessa raça humana
que eu pudesse voltar a acreditar
em mim
eu ainda tenho a esperança que um dia
vou ler ou fazer um poema
que me explique em palavras esse amor
que você diz que tem por alguém


pco/.

Dezoito horas
vem caindo a tarde
a noite vem chegando
a temperatura vai caindo
penso em você
meu tesão aumenta
procuro o meu vinho tinto
espero por você
lavei nosso edredon
não demore tanto
vou acender o abajur
e também um incenso
essa madrugada vai fazer frio
menos pra gente

você já olhou para o céu
esta noite vai ter luar

pco/.

Nenhum homem pode esquivar-se às perguntas fundamentais: Quem sou eu? Qual a minha origem? Fui criado? Alguém me criou? Deus existe?

Independentemente de filosofias, religiões e crenças, em algum momento em suas milhares ou milhões de vida o homem terá que buscar a resposta a essas perguntas. Não poderá viver eternamente condenado a ignorância. Não poderá fugir eternamente a essa busca. Numa vida ele terá que buscar as respostas, quanto mais cedo melhor. Pois, a ascensão é em etapas.

Enquanto isso não acontece, o homem vive no circo e ganhando o pão em total ignorância daquilo que é essencial, fundamental em sua existência, nem digo mais vida.

A massa, o povão, a multidão sempre será ignorante. Eu sempre tive dificuldades de buscar essas respostas (quem sou eu? Deus existe?, etc) em grupo, independente do tamanho do grupo. Para mim isso sempre foi uma busca individual, pessoal. Grupos de gente para mim sempre foi união de egos. Embora, no início tenha me unido a pessoas com o mesmo objetivo.

O sentido da vida para mim não é ganhar dinheiro, obter sucesso ou ser feliz. Isso são conseqüências e talvez, até, destino (se bem que não sei definir bem o que seja destino).

Não importa quem seja, de que partido político seja o presidente do teu país, o governador do teu estado, o prefeito, o papa, o padre, o pastor da tua igreja, se você depende de outro ser humano para ser feliz, para melhorar tua vida, você está "fudido(a)". Desculpe-me, mas não existe outra palavra agora.


Paulo Cesar de Oliveira

domingo, 11 de maio de 2014


FELIZES SÃO AS MÃES POIS NÃO PENSAM E FAZEM FILHOS QUE NÃO
PENSAM

I

Penso que todos os seres humanos  são apenas um, uma Entidade, com basicamente os mesmos problemas, principalmente,  carência de algo que só conhecem de nome, e chamam de “amor”. Parece que são diversos problemas diferentes, mas, na verdade é apenas um único problema comum a todos, falta de amor.

Talvez eu pudesse explicar isso dando um exemplo, como se segue:

A raça humana, enquanto raça seria um enorme tronco de uma árvore e cada ser humano, um galho de tamanhos diversos. Mas, a raiz desse tronco é apenas uma, assim como o grande tronco dessa árvore chamada “ser humano”.  A “Árvore da Vida”, ou será a vida em árvore. 

O amor seria a água que alimenta a raiz dessa árvore e conseqüentemente seu tronco e seus galhos. Em sentido figurado seria isso.

Mas a água anda faltando e há longos períodos de seca. E algumas vezes as enchentes arrancam as árvores com raízes e tudo e as levam não sei para onde, talvez para um rio e para o mar.

E essa carência, essa falta, essa ausência, essa separação, essa necessidade, esse desejo de “amor”? Vem de onde? O UCEM diz que vem da Separação, pelo fato de termos nos separado de Deus. Faz sentido se Deus fizer sentido para você.

Mas, disse um dia um arcebispo sul-africano chamado Desmond Tutu: “Deus tem tão profunda reverência pela nossa liberdade que preferes deixar-nos livres para ir para o inferno do que nos obrigar a ir para o céu”.

II

A grande verdade é que eu deveria parar de pensar.

Porque pensar enlouquece a gente.

E agora, que eu pensei e além de pensar eu coloquei em palavras o que eu pensei, o que eu faço com isso?

Feliz é você meu amigo(a) que pensa em silêncio. E não escreve nem diz o que pensa. Feliz é você que não é poeta nem escritor. Você é superior. 

Mas Deus é poeta. E gosta de poesias.

O que eu faço comigo quando penso em você? Pensar não resolve nada. O destino tem seu próprio caminho que, independe de mim e do meu pensar. Do meu querer.

Nesse exato momento em que sinto a falta desse amor que falei lá em cima, eu tenho certeza que só penso quando estou longe do você, pois, quando você está comigo eu não tenho tempo para pensar.

Pense nisso! 

III

Eu sei que isso não faz nenhum sentido para vocês.


pco/.

ADÉLIA PRADO FALA DE POESIA


Quando eu falo de poesia, não é apenas da poesia que, eventualmente, nem sempre nós encontramos nos poemas. Falo do fenômeno poético de natureza epifânica, reveladora, do que confere uma obra de arte o estatuto de obra de arte pode ser musica, pode ser escultura, pintura, teatro, dança, cinema e literatura que é onde eu me coloco.

Tudo isso que foi nomeado, tudo aquilo que eu chamo de arte se justifica pela poesia que ela contém. Se não tiver poesia não é cinema, não é teatro, não é pintura, não é literatura. Não tendo, ela é tudo  menos obra de arte. A obra verdadeira é sempre nova. Não cansa o que traz de si mesma e apesar de si mesma, algo que não lhe pertence e nem pertence ao seu autor. Vem de um outro lugar, de uma instancia mais alta e através da única via possivel que é a via da beleza. Em arte quando eu falo “beleza” não estou falando de boniteza, mas de forma, a arte é forma, não é do bonito que nós estamos falando. A forma, a beleza, revela o ser das coisas. É muito estranho falar do ser das coisas, esse ser ele é inapriensível, eu não dou conta de pegar o “ser” de uma rosa, de um rio, de uma paisagem ou de um rosto, mas quando a arte ela faz isso, ela apreende a coisa mais alta que está atrás das coisas, ela nos revela, nos remete à beleza suprema se nós estivermos despidos do orgulho, da razão e da lógica.

Então para que esse fenômeno de revelação da arte possa acontecer temos que estar desnudos de todo o orgulho, a razão tem que abrir mão desse poder, a lógica tem que abrir mão desse poder para que a obra seja apreendida no único lugar para qual ela quer ir que é o centro da pessoa, aquilo que nós chamamos, o sentimento, os nossos afetos. 

Aquilo que nos constitui felizes ou infelizes, não é o que nós sabemos, mas é o que nós sentimos.Arte é para o sentimento, é para a sensibilidade, é para a inteligência do coração e não para a nossa inteligência lógica. 

São Tomás de Aquino que falou sobre tudo na sua Suma Teológica, ele disse: “Todo ser é belo”. Se alguma coisa é, ela é bela. E a arte revela. O ser e toda obra verdadeira é, necessáriamente, bela. Ela tem o jeito belo de mostrar até a feiura, é por isso que uma obra verdadeira retratando alguma coisa horrível e asquerosa pode nos mover a ter aquela obra na parede, ou ter em casa ou comprar um livro ou comprar o disco, porque a beleza do ser ela é irretocável seja de que forma esse ser se apresente. 

Porque a beleza na arte, sendo beleza na forma, ela não é assunto! A gente faz muito esse equívoco: “a arte é o assunto, o enredo da novela, o enredo do romance, aquilo que a poesia ta falando”… Não é isso que é a beleza! Não é o que está sendo dito, mas como está sendo ditoNão é a coisa, mas como ela se move através da mão do criador e é isso que nós chamamos forma. Não é o que está se mostrando, mas como se mostra. Se não fosse assim, guerras, execuções, moribundos, enchentes, todo tipo de catástofre não podia ser retratado pelo artista porque não é coisa bonita, não é coisa que se pode aparecer.

A arte fala de absolutamente tudo porque qualquer coisa é a casa da poesia. Ela não escolhe tema nem enredo, nem assunto. Ela pousa onde lhe apraz e é esse o momento que é apreendido pelo poeta ou pela cineasta, enfim.

(Adélia Prado, poetisa)

A VIDA NUNCA FOI JUSTA - JAIR RODRIGUES


Ao que se sabe o cantor Jair Rodrigues não tinha vícios, não fumava, não bebia, não era usuário de drogas. E além disso ainda tinha o melhor dos remédios, o riso e a alegria. Mesmo assim faleceu aos 75 anos sem doenças graves e repentinamente..

Ao que se sabe Jair Rodrigues era bom marido e bom pai. Era negro, e os negros fisicamente são mais fortes, diz a ciência. Mesmo assim faleceu aos 75 anos sem doenças graves e repentinamente.

Mas, o Sarney, Fidel Castro e Lula vivem.

A vida, para mim, será sempre inexplicável e injusta. A vida nunca foi justa. 

A vida tende a piorar na medida que morre mais gente boa do que ruim.

Deus sabe o que está fazendo. Mas eu estou achando tudo esquisito.

pco/.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

HÁ VIDA INTELIGENTE NO PLANETA TERRA?


Engraçado isso (se não fosse trágico). Algumas pessoas buscam vida inteligente lá fora. Eu não tenho nenhuma dúvida que existem humanoides inteligentes lá fora (conheço alguns). Mas, tenho buscado gente inteligente aqui nesse planeta mesmo (como é mesmo o nome? Terra). E não tenho achado.

Talvez, o meu conceito de "inteligente" seja diferente, muito abrangente, muito rigoroso, muito seletivo, muito preconceituoso, sei lá...

Acho que o meu conceito de "inteligente" é apenas poético. Somente poético. Nada mais.

Não tem a ver com intelectualidade, sucesso, dinheiro, status, posição social, Academia Brasileira de Letras, Maçonaria, Doutorado, etc. Se bem que essas qualificações não impedem ninguém de ser "inteligente". A meu ver, só dificultam.

O ego é um sacrifício, um verdadeiro inferno.

terça-feira, 6 de maio de 2014

AMIGA, NÃO USE MINHAS PALAVRAS CONTRA MIM


Amiga, não sei se deveria te contar isso
mas eu também já quis conquistar o mundo
e até mudá-lo (quanta pretensão!)
eu também já acreditei no amor
quando ele ainda não era comprado com a minha dor
mas hoje sou um homem quieto
gosto de ficar deitado na minha rede
calado, vendo a noite chegar
meio triste, lembrando umas coisas
que nem vale a pena lembrar

Amiga, eu queria um cantinho para descansar
um lugar de gente desconhecida
aqui na cidade grande eu não escuto o passarinho cantar, não ouço o vento assoviar
mas eu andei por aí e foi com muita tristeza
que vi que as pequenas cidades ficaram grandes também
que os passarinhos estão presos nas gaiolas
diante das coisas que vi pelas minhas andanças
não sei mais se ainda consigo manter minhas esperanças

Amiga, tenho buscado forças no invisível
no oculto, no mistério e no desconhecido
abandonei os livros
pois tem sido difícil ver o visível
já aconteceu na minha última vida
estou me lendo e me relendo novamente
mas é tudo verbalismo
só que agora, há alguma coisa meio virtual
não é mais apenas irreal

Amiga, obrigado por me ouvir
mas, não use essas minhas palavras contra mim
quem sabe como é por dentro uma pessoa?
quem sabe as razões que levam uma pessoa a ser exatamente o que é?

Amiga, o mais importante é a mansidão
pois os mansos herdarão sim, o Reino dos Céus

pco/.


Mulher
que interrompe a primavera de um exército
repartindo cartas suicidas e peixes solitários
que insinuas o desespero sem vigência
e os amoralismos cruciais do coração
fantasma de organdi e nuvens enigmas
viajando para os lados de um soluço
mulher fatal como o quadro instantâneo
que realeja na memória um céu especial
comício de poemas obscuros
ausente dos acampamentos da madrugada
carne dominical falsamente casta
intrusa das salas dos concertos sinfônicos
mulher cem vezes mulher
cem vezes mulher de meu poema
retórica dos madrigais de ternura precipitada
ladra sobretudo dos propósitos pacíficos
alto e sorridente eflúvio de repente
mulher
carta enlutada mentida de rosa
amargura corrosiva das raízes
Em ti me crucificara
como um pássaro
sem ti os jardins não são poemas
os hemisférios da alma não se entendem
em ti
mil vezes em ti eu remo para mais adiante
pesquisador vencido catedral abstrata
por ti perdi-me mendigo nos parques
e nos comboios irremediáveis
que fogem gotejando um tempo lento e venenoso
por ti os telefones floresciam
ou se cobriam de lutos e mistérios
por ti colecionando tardes e alvoradas
eu nadava para o delta dos sortilégios
e alevantava-se um clamor maior que a esperança 
dos lados de onde me chegam flores mortuárias
um sentimento de chamas
e um prelúdio infinito.

Madrigal 1942 - Paulo Mendes Campos