sábado, 30 de agosto de 2014




Eu compreendo, admiro a coragem e respeito todas as pessoas que se suicidaram por não suportarem mais esse mundo escroto cheio de gente hipócrita, iludida, mentirosa e ignorantes que vivem como robos mergulhadas no consumismo e numa vida vazia de cultura de corpos e idolatria.

Quem fala mal de vocês e os julgam é porque querem apenas justificar seus medos e suas hipocrisias.

"Vivos" desse planeta, não me venham agora falar nesse deus que vocês inventaram para justificar e perdoar seus atos e julgamentos. A tua igreja e teu templo começa quando você sai dele para a rua e para a vida lá fora. Lá dentro todo mundo é santinho e filho de Deus. Hipócritas! Disse uma vez o Mestre.



Eu perdoo vocês suicidas por terem tido a coragem de acabar com essa vida medíocre e esse mundo sem esperanças onde ninguém sabe de nada e todo mundo se sente poderoso. Eu sou um covarde, nunca tive a coragem de vocês.

Suicidas, onde vocês estiverem, em algum lugar como almas ou espíritos, vivam sem culpas e medos. 

Eu amo vocês.

pco/.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

SOU APENAS UM CAMINHANTE


Sou apenas um caminhante que perdeu o medo de se perder
Se escolho um caminho e ele está fechado existem bilhões de outros caminhos
Se cortarem minhas asas eu aprendi a voar sem asas

Se me jogam pedras eu me elevo nas alturas onde as pedras não podem me alcançar

Não há destino, há só o caminho


pco/.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014




GUINADA DE 180 GRAUS

PAULO CESAR DE OLIVEIRA paulocesaroliveira1954@gmail.com






Mais uma vez a vida (ou eu mesmo) me coloca numa "sinuca de bico" (você já jogou sinuca?)

Isso exige uma guinada de 180 graus

Não adianta 90 graus nem 179 graus

tem que ser 180 mesmo

que coisa a vida, 

só há paz quando se é suficientemente ignorante 

uma vez eu disse que, 
ao contrário do que dizem, 
eu acredito que o tempo passa muito devagar

mas, vocês sabem por quê? O tempo passa devagar?

o tempo só passa depressa para quem acredita na ilusão do mundo

quando eu acreditava que existia mundo eu era feliz (eu acho que era)
de todos os animais que conheço, o pior é  homem

o homem é muito estranho, suas atitudes e comportamento são incompreensíveis 

só há uma saída para mim

uma guinada de exatos 180 graus 

mas eu sou feliz

eu é que não consigo entender a minha felicidade

é um problema meu de falta de gratidão e perdão

vocês já tiveram a impressão de não serem daqui desse lugar?

se pelo menos eu pudesse tocar em Deus

se eu pudesse tocar no Amor

acho que meus pensamentos e minha alma ficariam satisfeitos e eu não precisaria mais escrever nada

eu seria realmente livre

e vocês se livrariam de mim

se eu pudesse tocar em Deus

ou no Amor 

mas, o meu coração dói, da ausência de um sentimento do meu Ser

por quê eu fui obrigado a vim para cá acompanhado de todo esse Universo?


ASSUNTOS GERAIS:

1.    É melhor ser pessimista do que otimista, pois sendo um pessimista, as coisas só podem melhorar. Para o otimista já está bom como está;

2.    No final do ano de 2012 quando só se falava no fim do mundo, eu tinha uma esperança, dessa m* acabar logo, mas agora me sinto sem esperanças de novo;

3.    Não é bom ficar julgando as pessoas, no entanto, não resisto a simplificar os seres humanos em dois tipos apenas: a) os com conteúdos e o 2) vazios;

4.    Qualquer um dos três candidatos a Presidente desse país nessas eleições de 2014, que estão liderando as pesquisas ganhar, o país vai acelerar o seu mergulho no caos total que se transformou depois que os socialistas/comunistas chegaram ao poder;

5.    Se a Dilma ganhar continua a m* que já estamos vendo. As duas outras candidaturas são as opções B e C dos socialistas/comunistas. Ambos (Marina e Aécio) vão governar com o PT;

6.    Essa semana eu li uma citação da escritora inglesa Rebecca West, que pela primeira vez eu li ou ouvi alguém concordar com uma idéia, impressão, sentimento que tenho sobre as mães. E foi perfeito ter vindo de uma mulher, inteligente e bonita. Eis a afirmação de Rebecca:

“A maternidade é coisa estranha, podemos ser o próprio Cavalo de Tróia.”

Entenderam? Querem entender? Melhor deixar para lá. Profunda demais.

7.    Outra frase que li essa semana e achei ótima:
“Fayga Ostrower disse:

"Só os poetas podem condensar a experiência humana, e isso não passa pelo intelectual."

Mas não passa mesmo. O intelectual até atrapalha.

Por enquanto é isso, se me lembrar mais de alguma coisa digo depois.


28.08.2014

Paulo Cesar de Oliveira

INQUIETAÇÕES METAFÓRICAS DA ALMA


Há uma inquietação na minha alma muito grande
Como se ela soubesse algo sobre mim que desconheço
Em meus silêncios e meditações eu busco saber de que se trata
Há uma solidão e uma melancolia em mim como se eu soubesse de algo que não sei
Sou feito de metáforas e mistério
E entre palavras,  poemas e poetas, eu busco esquecer
A poesia é esquecimento
Oscilo na dualidade desse mundo entre amor e desamor
Quente e frio
Fé e descrença
Entre Deus e a humanidade
O Céu e o inferno
Vivo no mundo que o ego criou
Onde nada é real
Entre o ser e o não - ser
Nas horas mais difíceis busco ajuda do Divino Espírito Santo
Então eu peço a ele que me dê a certeza do Caminho
Estou presente
Mas alguma coisa do passado ainda sobrevive em mim
E o futuro não me interessa
Não há futuro nem passado no tempo
Há uma vontade imensa de fugir para um lugar que não sei se existe
Mas, me sinto cumprindo uma missão kármica aqui e agora
Quem sabe depois disso
Eu vá de encontro ao meu sonho e ao mistério do meu destino e do que chamam simplesmente amor
Será isso também uma nova ilusão
O que minha alma imortal sabe que eu ainda busco saber?
Tudo,  talvez
Quanto tempo ainda tenho dentro da inexistência do tdmpo?
E pensar que eu apenas queria fazer um poeminha romântico
Nada muito existencial
Há metáforas em mim

pco/.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014



Às vezes me pergunto
Se eu fosse rico
Seria mais feliz do que sou
Às vezes me pergunto
Se eu seria mais feliz
Se fosse o teu grande amor
Entre palavras, poemas e poetas
Eu sobrevivo das minhas próprias dúvidas
Se minha vida tem altos e baixos
É sinal que ainda estou vivo


pco/.



VOU-ME EMBORA DE MIM

Atreve-te a julgar.
Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza.
Respira-te, despe-te,

faz amor com as tuas convicções,
não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer.
Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis
mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Procura encontrar-te antes que
te agarre a voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão.
Uma paixão irrequieta que não te dê descanso
e te faça doer a respiração.
Aspira o ar, bebe-o com força, é teu,
nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo.
Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência
com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos,
e cada amigo
como um astro que desponta
no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria.
A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados
e os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou.
Canta!
Se sentires medo, canta.
Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta.
Constrói o teu amor, vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem,
o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual,
nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança.
E canta quando a esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e
porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso.
Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.


JOAQUIM PESSOA

O GRANDE CANSAÇO

Eu tenho uma doença desconhecida da medicina e das pessoas comuns
Uma doença rara
Essa doença eu e denominei de “O Grande Cansaço
O Grande Cansaço é o somatório de pequenos cansaços
Os pequenos cansaços são pequenos mais são muito venenosos
Quando somados, imagina!
Acredito que ela tenha cura sim, mais ainda busco essa cura
Um dos sintomas do GC (como a chamo) é escrever
A dor de escrever para não chorar
Escrevendo e lendo poemas a dor diminui muito, fica suportável
Talvez vocês já tenham ouvido falar do falecido poeta português Fernando Pessoa?
Ele morreu com essa doença, inclusive, ele fez dois poemas sobre isso, que falava do cansaço
Algumas condições ambientais agravam essa doença
Deve-se evitar: televisão, multidões, barulhos, bebedeiras, fumantes, políticos, hipocrisias, medos, vaidades, orgulhos, avareza, ignorância, etc
Tudo isso agrava a minha doença
Essa doença se agrava também em épocas de eleição no Brasil, onde encontra um ambiente ideal para se desenvolver, ou seja, a ignorância do povo aliada a hipocrisia dos políticos
Essa combinação é mortal

O GC é mais mental e espiritual do que físico, embora acabe (como toda doença) refletindo no físico
Eu isolei em laboratório próprio e interno e vírus dessa doença
O vírus dessa doença chama-se ilusão
A cura para essa minha doença é uma planta natural encontrada em quantidade muito pequena e rara nesse planeta
Há várias alternativas genéricas, criadas artificialmente, sintéticas, criadas em laboratórios
Mas, não curam e em muitos casos até pioram o quadro clínico da pessoa
Bem, o nome desse remédio, que praticamente não existe aqui, é Amor
Quando estou em crise dessa doença eu escrevo muito, tenho insônias e escrevo até de madrugada, quando as dores são maiores
Então, eu sonho com o Amor (só em sonhos mesmo)
Mas, não se preocupem, nem tenham medo de mim, pois não é uma doença contagiosa, é kármica
É muito rara e não pega em pessoas ignorantes, por exemplo
Eu trouxe essa doença de outras vidas e ela se manifesta somente aqui nesse planeta


(Paulo Cesar de Oliveira)

terça-feira, 26 de agosto de 2014


Ah, perante esta única realidade

Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível – a de haver uma realidade.
Perante este horrível ser que é haver ser.
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
- Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles,
Se empequena!
Não, não se empequena… se transforma em outra coisa -
Numa só coisa tremenda e negra e impossível.
Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino -
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino,
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas,
De todas as vidas, abstratas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo,
Por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa, por que há
qualquer coisa!
Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas idéias que tremo, com a minha consciência de mim.
Com a substância essencial do meu ser abstrato
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!
Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Ah, não, nenhuma – nem morte, nem vida, nem Deus!
Nós, irmãos gêmeos do Destino em ambos existirmos,
Nós, irmãos gêmeos dos Deuses todos, de toda a espécie,
Em sermos o mesmo abismo, em sermos a mesma sombra,
Sombra sejamos, ou sejamos luz, sempre a mesma noite.
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte,
Sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males,
Inconsciente do mistério de todas as coisas e de todos os gestos,
Por que não afrontarei sorridente, inconsciente, a Morte?
Ignoro-a? Mas que é que eu não ignoro?
A pena em que pego, a letra que escrevo, o papel em que escrevo,
São mistérios menores que a Morte? Como, se tudo é o mesmo mistério?
E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.
Ah, afronte eu como um bicho a morte que ele não sabe que existe!
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais,
Pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência,
Porque é preciso existir para se criar tudo,
E existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser,
E ser possível haver ser é maior que todos os Deuses.
( Álvaro de Campos ) heterônimo de Fernando Pessoa

SEDENTO DE SONHOS


Sedento de sonhos
abro os olhos para mais um dia de caos
como fugir da violência e ignorância que me rodeia
lá fora, em todos os meios de comunicação
tudo é engano, mistério e incertezas
tudo é oculto
tudo é solidão
agora eu leio a moça falar em  energia
energia boa, energia ruim
luz branca, luz escura
verdade, uma ilusão
quem voltou da morte para te contar a verdade?
todo mundo é especial, todo mundo é campeão
só eu fracassei em tudo
por que não sabia o motivo, a razão
por que lutas, por que choras, por que trabalhas, meu irmão?
por você, pelos teus filhos, pelos teus netos, pelo futuro, por essa nação?
você já avisou o tempo para ele te esperar?
por que ninguém voltou do além para te contar?
Sabe o que Fayga Ostrower me disse?
"Só os poetas podem condensar a experiência humana, e isso não passa pelo intelectual."


pco/.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

PRECISO URGENTEMENTE PARAR DE ESCREVER

Tenho buscado algumas respostas e como não as encontro eu ainda escrevo. Mas, dentro desse meu Grande Cansaço, escrever também já está me cansando.

Vou listar as perguntas onde não há respostas:

11)   Quem é Deus?
22)   O que é amor?
33)   Quem sou eu?
44)   De onde vim?
55)   Para onde vou?
66)   O que é isso?

Não há respostas para essas perguntas, seja na ciência, na antropologia, na filosofia, na teologia, nas religiões, etc. Onde quer que você busque, não há respostas para essas perguntas. Para todas as outras perguntas há pelo menos uma resposta.

Eu escrevi umas palavras, que juntas formaram frases, que juntas formaram orações, que juntas formaram uma sentença, que juntas formaram um pequeno texto.

Então, depois que a moça leu, ela me perguntou: “O que é isso?”

Eu não sabia responder. Fiquei ali em pé (não eu estava sentado), perplexo, paralisado. E me dei conta que tudo que eu escrevi até agora, que até chamo de poemas, eu não sei o que é. É como você perguntar para mim quem sou eu? De onde vim? Quem é Deus? O que é o amor?

Não tenho respostas.

Preciso urgentemente parar de escrever.


(Paulo Cesar de Oliveira)

domingo, 24 de agosto de 2014


Em teus beijos eu espero encontrar o sentido da vida
O mistério do amor
Mas se você apenas me dá a tua mão
Para atravessarmos essa rua da vida
Isso também é amor
O sonho faz e desfaz
Não existem certezas, nenhuma garantia
Eu acho muita graça quando você diz que não quer nenhuma aventura
Meu Deus! A vida é a mais pura aventura
É um caminho de ida apenas
Sem retorno certo
Eu sou um homem descrente
Mas te ofereço minha última esperança
Ainda há brasas na minha alma
Basta um sopro

pco/.

  •  

Vamos dizer que você anda afastada

No poço do esquecimento, se você preferir

Mas a melhor parte de você

A única que realmente me interessa

Permanecerá sempre em mim

Você estará sempre no meu coração

Silenciosa, inerte, imaterial

Você pode viver acompanhada

Mas em mim que estou totalmente sozinho

Mas só em mim, sobrevivente desses amores que andam por aí  
       
Agora não me importo mais com a sua ausência insuportável

Minhas palavras são ecos inevitáveis


pco/.



AMOR E MEDO

Você mente tão doce e ingenuamente
que prefiro acreditar que tudo que me diz é verdade
só para não contrariar e deixar triste meu coração
já tão cansado e desiludido
Há somente duas energias em todo universo e nesse mundo:
Amor e medo
Não, não existe outra,  são apenas essas duas
Ou você está numa ou em outra
Foi exatamente isso que o Irmão Maior disse quando falou que não podemos seguir dois senhores ao mesmo tempo
As tuas mentiras são apenas medo
Mas também sei o quanto é difícil a compreensão disso
No entanto,  nunca se esqueça: ou você está no Amor ou está no medo
Não se preocupe. Eu nada direi das tuas mentiras para o meu coração

pco/.

GRANDES SÃO OS DESERTOS, E TUDO É DESERTO.



Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.

Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

Mais vale arrumar a mala.
Fim.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

FEITO OS DEVIDOS ESCLARECIMENTOS, VAMOS BEBER ENTÃO


5 coisas que você precisa saber sobre vinho

VOCÊ NÃO PRECISA SER ESPECIALISTA PARA APRECIAR UM BOM VINHO, MAS ESSAS DICAS VÃO MELHORAR SUA EXPERIÊNCIA. SAIBA AQUI OS CINCO PONTOS BÁSICOS


Taças de vinho (Foto: Getty Images)

1. Não confunda mais: enólogo, enófilo, sommelier?
Morro de vergonha se algum conhecido desavisado me chama de enólogo. Normalmente, quando respondo que não sou enólogo, de pronto escuto que devo ser um sommelier. Não. Também não. Aceito ser tratado, se muito, de enófilo, para evitar o menos atraente “bebum”. Então, vamos esclarecer a cadeia de profissionais do vinho.

Viticultor é quem planta e cuida do vinhedo. Muitas vezes o viticultor é o proprietário da vinícola e também enólogo. Este ser duplo seria o vitivinicultor.

Enólogo é o profissional responsável por produzir o vinho na bodega. Recebe as uvas e toma as decisões técnicas cabíveis, tempos de fermentação, armazenamento ou não em barricas, etc. Este cargo exige formação complexa, que inclui estudo de agronomia e química. Existem cursos especializados (técnico e superior), mas nem todo enólogo é formado na escola.

Sommelier é o termo francês para denominar o responsável pelo serviço do vinho. Esse profissional cuida da seleção à compra dos vinhos de uma adega, seja de restaurante, hotel ou de um particular, e faz o serviço à mesa, por meio do qual ajuda o cliente a escolher o vinho apropriado ao paladar e ao bolso. Tudo pode ser feito com salamaleque ou não, a depender da ocasião.

Enófilo é o apreciador do vinho. Um amador que muitas vezes se interessa pelo assunto a ponto de tornar-se um especialista nele. Escreve livros, dá palestras, frequenta confrarias, degustações e feiras. Ele cumpre a função mais divertida da cadeia: ele bebe. Em geral, de maneira moderada e com um grau de apreciação mais elevado do que a média, graças a seus conhecimentos adquiridos e à prática. O único problema do enófilo é que ele corre o risco de se transformar no enochato.

Enochato é o mala que fala mais do que bebe, pontifica mais do que sabe e está em vias de se tornar um cervejochato (ou zitochato, para os eruditos), porque  as cervejas especiais entraram na moda...

2. Café, morango, mel, asfalto…Tá no meu vinho?!
Fique tranquilo. Não colocaram frutas vermelhas, tabaco, asfalto, mel ou café no seu vinho. Quando alguém, seja um crítico ou um enochato, usa algum deste chamados “descritores aromáticos”, muitas vezes considerados esquisitos, está citando aromas que podem ser encontrados nos vinhos porque estes compartilham moléculas com várias outras substâncias presentes na natureza. Pense assim: a vitamina C existe em várias frutas e não só na laranja, certo? Muitas outras moléculas presentes no vinho também podem estar no café, no chocolate, na cereja, etc. É tudo baseado em cadeias de carbono que  se repetem e se transformam. Um assunto árido para quem fugiu das aulas de química orgânica da escola... Recomendo o  livro Taste Bud and Molecules, de François Chartier, que trata deste assunto de maneira clara.
uva (Foto: Getty Images)

3. Equilibrado
É comum designar um vinho como “equilibrado”. O vinho nada mais é que suco de uva fermentado, ou seja, que sofreu ataque de microorganismos (as leveduras) e com isso transformou parte do seu açúcar em álcool. Mas o suco resultante ainda possui água, ácidos e outros componentes, entre os quais se destacam os taninos. O tanino é o componente adstringente, que "amarra a língua", mais comum nos tintos. Ao colocarmos o vinho na boca, sentimos estes sabores todos (álcool, açúcar e taninos). Se em uma degustação um deles se destaca demais, dizemos que o vinho está desequilibrado. Pode estar muito alcoólico, muito tânico ou muito ácido, por exemplo. Estes excessos são sempre o motivo do desagrado ao paladar. Quando há uma integração equilibrada entre acidez, álcool, taninos e açúcar, o vinho tende a ser percebido como mais agradável. As exceções seriam os vinhos de sobremesa, nos quais se espera predominância de açúcar. Vinhos leves e frescos também puxam mais para a acidez.
 
4. Brancos, tintos e rosados
O líquido do vinho se origina da polpa da uva. A cor, assim como outros inúmeros aromas e sabores, vem da casca. Ou seja, em geral, uva branca faz vinho branco e uva tinta faz vinho tinto. Não dá pra produzir um vinho tinto somente com uva branca. Parece óbvio, mas, tradicionalmente, em algumas regiões da França e da Itália, usa-se uma pequena quantidade de uva branca na produção de vinho tinto. Ironicamente, alguns enólogos afirmam que a uva branca ajuda a fixar a cor da tinta!
 
Um vinho branco, pelo contrário, pode ser feito com uva tinta. Não é comum, mas há um interessante merlot vinificado em branco produzido pela Dunamis na Campanha Gaúcha, por exemplo. Para isso ocorrer, basta que a fermentação não seja feita em contato com as cascas, que liberam os pigmentos. Nos cortes mais tradicionais de Champagne, entram, além da chardonnay (uma uva branca), a pinot meunier e a pinot noir, ambas tintas.

O vinho rosado (ou rosé) pode ser feito basicamente de duas maneiras. Pela cuidadosa mistura de um vinho tinto e um branco ou pelo método de sangria, no qual se retira o mosto do contato com as cascas tintas após leve maceração, antes de liberar muito pigmento. A partir daí, vinifica-se como um branco.

Existem aproximadamente 9 mil castas de uva entre as vitis viniferas, apropriadas à produção de vinho, e as de mesa. Mas pode-se dizer que das quase 2 mil cepas adotadas no mundo vitivinícola, contam-se nos dedos as variedades utilizadas na enorme maioria dos vinhos produzidos hoje no mundo.

Rolhas de vinho (Foto: Getty Images)

5. Guardar ou beber?
A enorme maioria dos vinhos produzidos atualmente pode e deve ser bebida em um prazo de até três anos. A enologia moderna evoluiu de modo a permitir que vinhos jovens não sejam mais "imbebíveis". Antigamente guardavam-se os vinhos jovens que tinham muito tanino e "amarravam" a boca com sua adstrigência. Os Bordeaux levavam 20 anos para "amaciar" os taninos.Técnicas como microoxigenação e uso de barricas, entre outras, aceleram este processo. Mas isto não quer dizer que alguns não melhorem muito se você aguardar mais uns anos. Algumas pessoas - e eu me incluo neste rol -  preferem vinhos mais evoluídos. Mesmo aqueles de que não se espera muito surpreendem. Para evoluir bem, um vinho precisa ter uma quantidade interessante de um dos seguintes componentes conservantes: álcool, açúcar, taninos ou acidez (exemplo: o Vinho do Porto, que tem mais açúcar e álcool do que um vinho tranquilo).
 
Um vinho seco, seja branco ou tinto, jovem, leve, macio, sem muita acidez ou tanino, não vai ter estrutura para evoluir com os anos. Por outro lado um vinho jovem com muito tanino, álcool e acidez não é necessariamente desequilibrado. É muito tudo! É um exagero ao paladar. Sabe aquela pessoa jovem, saudável, mas meio desmiolada, sem estilo ou classe, tímida?  Então. Você a reencontra 20 anos depois e ela está mudada, elegante, comunicativa. Isto porque tinha estrutura para evoluir. Mas, claro, depende daquilo por que passou e daquilo que aprendeu. No caso do vinho, depende muito do armazenamento e da conservação. Importante saber que na maioria das vezes os brancos secos são menos longevos do que os tintos.
 
Se o vinho estiver bem armazenado, protegido da luz, do excesso de calor e das mudanças bruscas de temperatura, abra quando der vontade. Dica: para saber se o precioso líquido passou do ponto, o principal sinal é a quantidade de líquido no recipiente. Ponha a garrafa contra a luz e observe o nível do vinho. Se estiver abaixo do “ombro” da garrafa, houve vazamento ou evaporação. Este contato com o ar é fatal. Leva à oxidação e o vinho perde o brilho, o vigor. Serve para cozinhar e olhe lá. Mas prove antes para ter certeza.