O
meu único sonho tem sido pensar nos meus sonhos, folheio-os então, como a um
livro que se folheia e se torna a folhear sem ter mais que palavras. É então que me interrogo sobre você, figura que atravessas
os meus sonhos e as minhas visões demoradas.
Em
quase todos os meus sonhos tu apareces, sonho, ou, realidade falsa, me
acompanhas. Corpos teus de ausência, o teu corpo essencial.
Talvez
eu não tenha outro sonho senão tu, talvez seja nos teus olhos, encostando a
minha face à tua, que eu terei essas paisagens impossíveis, esses tédios
falsos, esses sentimentos que habitam a sombra dos meus cansaços e as grutas
dos meus desassossegos.
Foi
te amando que conheci a solidão. E essa solidão nunca me abandonou, companheira
inseparável dos meus sonhos. Quem sabe se as paisagens dos meus sonhos não são
o meu modo de te sonhar? Eu não sei quem tu és, mas também não sei quem sou? Sonho ou sonhador.
Que
espécie de vida tens depois que me deixaste? Teu corpo? Vejo-o nu o mesmo que
vestido. Me lembro que adormecida e cansada deitavas sobre meu corpo, num só
corpo. Que significa isto, que hoje não significa nada, mas que mesmo assim
sonho.
É
quando penso em ti que me torno terno e amoroso. Porque ocupas o intervalo dos meus
pensamentos e os interstícios das minhas sensações. Por isso eu não penso nem
te sinto, mas os meus pensamentos são ogivais de te sentir, e os meus
sentimentos evocam-te.
A
minha vida é tão triste, e eu nem penso em chorá-la; as minhas horas tão
falsas, e eu nem sonho o gesto de parti-las.
Como
não te sonhar? Como não te desejar?
Esse
meu amor tornou-se minha oração, mas nem te concebo como amada, posto que se
tornaste apenas sonhos. Quem sabe se sonhando-te eu não te crio, real noutra
realidade? Quem sabe mesmo se já não te criei, num outro e perfeito mundo?
Senhora,
que o teu silêncio me embale, que a tua ausência me adormeça e que o teu mero
ser me acaricie, me amacie e me conforte.
Como um anjo que ainda permaneces ao meu lado.
(©
12.11.2012 – Paulo Cesar de Oliveira)