Não existem mocinhos num mundo governado pelo ego. Nem nos EUA, nem no Brasil ou no Vaticano.
O primeiro mestre que comecei a estudar foi Gurdjieff no finalzinho do século passado.
G. dizia que o homem comum, que são quase todos, possuem 98% de ego e 2% de Essência. A primeira vista pode parecer um número exagerado, uma proporcionalidade exagerada, mas à medida que fui entrando cada vez mais nesse caminho solitário do auto conhecimento, observei que G. não tinha exagerado nessa proporcionalidade.
Nessa ocasião, ou seja, apenas há 14 anos atrás (1997) eu tomei contato pela primeira vez com a palavra “ego” e seu significado, fora da definição da psicologia e popular.
As leituras posteriores, ou seja, Osho, Yogananda, e tudo mais que caía em minhas mãos, assim como, experiências e vivências, ratificaram a importância de entender a questão do ego. Até conhecer o ensinamento que me deu a melhor e mais didática compreensão do ego e do seu sistema de pensamento – Um Curso Em Milagres (UCEM).
Mas, saber da existência do ego, defini-lo, é apenas o primeiro passo, na melhor das hipóteses, talvez, o segundo passo.
A pessoa pode ouvir, ler sobre ele e não acreditar na sua ação destruidora, muitos preferem dar outro nome ao mesmo personagem, satanás, diabo, inferno, etc...Osho diz: “O ego é um sacrifício, é o único inferno que conheço”.
Mas vamos voltar aos 98%. Todos os mestres, seres iluminados, disseram a mesma coisa, a necessidade de reduzir a ação do ego até a sua anulação. Esse é o caminho ensinado por todos que “chegaram lá”, ou seja, romperam com a Samsara, a Roda de Nascimentos e Mortes.
Embora não tenha lido ninguém dizer, me parece óbvio que essa redução dos 98% de ego é gradual no tempo e no espaço e a intensidade, totalmente individual. Acredito que essa redução inicia-se quando a pessoa, a alma, o espírito, busca o auto conhecimento.
O conhecimento de si mesmo, que ao contrário do que quase todo mundo pensa, nada tem a ver com as crenças religiosas, e a teologia até atrapalha, mas, no fundo é um início também. Por analogia, você conhece o amor na medida em que vai conhecendo tudo que o amor não é. É a mesma coisa aqui. É um processo de desfazer. Você vai desfazendo a cortina do ego para que a luz, o Espírito Santo comece a se manifestar em tua vida.
Quando Jesus disse que não podemos ter dois senhores, eu compreendo e aceito que não podemos ouvir a voz do ego e do Espírito Santo ao mesmo tempo. Não podemos manifestar ego e Essência, ego e Amor. Ou um ou outro. E também não é possível “subir no muro”, ou seja, não escolher nenhum dos dois. Há somente essas duas escolhas. Não escolher um é escolher outro.
Mas o bom nisso tudo é que não precisamos nos desesperar, pois sempre podemos escolher outra vez. Não existem pecado e castigo de Deus. Isso é mais uma historinha do ego, mais uma armadilha. Se você percebeu que fez a escolha errada, escolha outra vez.
Mas o que isso tem a ver com mocinhos e bandidos?
1. Todos somos bandidos até o momento que escolhemos ser mocinhos. Todos temos ego e Essência em proporções diferentes. Mas quase toda a humanidade é 98% ego, como disse G.;
2. É mais fácil ser bandido do que mocinho;
3. Têm muito bandido se passando por mocinho;
4. Não conheço políticos e governantes mocinhos. O próprio nome “governantes” é uma usurpação;
5. Não seja bandido nem mocinho. Seja natural e desprendido sempre. Não “force a barra” para ser um ou outro.
6. Pratique o perdão tanto com os bandidos quanto com os mocinhos.
7. E se nada disso funcionar. Foda-se! Celebre a vida, pois na verdade, o mudo é uma ilusão e eu nem deveria estar aqui.
(© Paulo Cesar de Oliveira – 15.08.2011)