segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA

DEIXEI-A ALI QUANDO VIM SER QUEM SOU,

MAS HOJE, VENDO O QUE SOU É NADA,

QUERO IR BUSCAR QUEM FUI ONDE FICOU.

AH, COMO HEI DE ENCONTRÁ-LO?

QUEM ERROU A VIDA TEM A REGRESSÃO ERRADA.

JÁ NÃO SEI DE ONDE VIM NEM ONDE ESTOU.

DE O NÃO SABER, MINHA ALMA ESTÁ PARADA.

SE AO MENOS ATINGIR NESTE LUGAR UM ALTO MONTE,

DE ONDE POSSA ENFIM O QUE ESQUECI,

OLHANDO-O, RELEMBRAR,

NA AUSÊNCIA,

AO MENOS,

SABEREI DE MIM,

E, AO VER-ME TAL QUAL FUI AO LONGE,

ACHAR EM MIM UM POUCO DE QUANDO ERA ASSIM.


DIA A DIA MUDAMOS PARA QUEM AMANHÃ NÃO VEREMOS.

HORA A HORA NOSSO DIVERSO E SUCESSIVO ALGUÉM DESCE UMA VASTA ESCADARIA AGORA.

E uma multidão que desce, sem

Que um saiba de outros.

Vejo-os meus e fora.

Ah, que horrorosa semelhança têm!

São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os.

Nenhum sou eu, a todos sendo.

E a multidão engrossa, alheia a ver-me,

Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,

E, inúmero, prolixo, vou descendo

Até passar por todos e perder-me.


Meu Deus! Meu Deus!

Quem sou, que desconheço

O que sinto que sou?

Quem quero ser Mora, distante, onde meu ser esqueço,

Parte, remoto, para me não ter.

UM CONSELHO A MIM MESMO


Ouve, então, velho Patrul: Tu mesmo, indulgente distraído, que já por eras tens sido traído, hipnotizado e enganado pelas aparências. Estás ciente disto? Estás? Agora, neste mesmo instante, enquanto estás sob o feitiço da percepção equivocada tens que prestar atenção. Não permita deixar-te levar por esta vida falsa e vazia. Tua mente está apenas girando por aí, levando em frente vários projetos inúteis: Um desperdício! Desiste! Pensar sobre as centenas de planos que desejas realizar, sem tempo suficiente para terminá-los, só aumenta o peso em tua mente. Estás completamente distraído por todos estes projetos que nunca chegam a um final, apenas permanecem aumentando, como círculos na água. Não sê tolo: por agora, apenas sente direito. Ouvindo ensinamentos - já ouvistes centenas de ensinamentos, mas quando não compreendestes o significado de um deles sequer, qual a finalidade de ouvir mais? Refletindo sobre ensinamentos - mesmo apesar de tê-los ouvido, se eles não surgem à mente quando necessários, qual é a finalidade de mais reflexão? Nenhuma. Meditando de acordo com os ensinamentos - se tua prática de meditação ainda não está curando os estados obscurecidos da mente - esqueça-a! Tu contastes quantos mantras já fizestes - mas não estás realizando a visualização "kyerim". Podes conseguir as formas das deidades boas e claras - mas não estás colocando um fim à sujeito e objeto. Podes domar o que parecem ser espíritos do mal e fantasmas, mas não estás treinando o fluxo da tua própria mente. Tuas belas quatro sessões de prática de sadhana, tão meticulosamente distribuídas - Esqueça-as. Quando estás de bom humor, tua prática parece ter muita clareza - mas simplesmente não consegues relaxar nela. Quando estás deprimido, tua prática é estável o suficiente, mas não há brilho algum nela. Quanto à atenção, tentas forçar a ti mesmo num estado semelhante a Rigpa, como se enfiando um dardo no alvo! Quando posições ióguicas e olhares mantém tua mente estável apenas por mantê-la amarrada - Esqueça-as! Dando palestras grandilhoqüentes, não faz nenhum bem ao teu fluxo mental. O caminho do racionalismo analítico é preciso e afiado... Mas é apenas mais ilusão, perfeita como o estrume, sem utilidade alguma. As instruções orais são muito profundas mas apenas se as colocares em prática. Lendo várias vezes estes textos do dharma que apenas ocupam tua mente e fazem teus olhos arder - Esqueça-os! Tu bates teu pequeno "damaru" - ting, ting - E a platéia acha muito bonitinho o que ouve.Estás recitando palavras sobre oferecer teu corpo, mas ainda não parastes de considerá-lo muito querido. Fazes teus pequenos címbalos soarem cling, cling - Sem manter a finalidade definitiva em mente. Todo este equipamento de prática do dharma, que parece tão atraente - Esqueça-o! Agora mesmo, aqueles estudantes todos estão estudando muito... Mas ao final, não conseguem se manter. Hoje, parecem entender, mas pouco depois, não sobra nada. Mesmo se um deles consegue aprender um pouco, raramente aplica seu "aprendizado" a sua própria conduta. Estas disciplinas elegantes do dharma - Esqueça-as! Este ano ele realmente gosta de você, no outro ano não é mais assim. A princípio, ele parece modesto, então ele fica pomposo e metido. E quanto mais tu o ajudas e pajeias, mais distante ele fica. Estes caros amigos que mostram sorrisos no começo - Esqueça-os! Seu sorriso parecia tão cheio de alegria... Mas quem sabe se seria realmente o caso? Uma vez, é puro prazer, então são nove meses de aflição mental. Pode ser ótimo por um mês, mas cedo ou tarde, surgem problemas. As pessoas fazem provocações, tua mente em conflito -Tua namorada - Esqueça-a! Estas infindáveis rodas de conversação são apenas apego e aversão -É apenas mais estrume... Não serve para nada. Na hora parece maravilhosamente divertido, mas na verdade estás apenas espalhando histórias sobre os erros de outras pessoas. Tua platéia parece estar ouvido atenta, mas então ficam com vergonha de ti. Fala inútil que apenas dá sede - Esqueça-a! Dar ensinamentos sobre textos de meditação sem tu mesmo teres atingido a experiência de fato através da prática, é como recitar um manual de dança em voz alta e pensar que é o mesmo que dançar de fato. As pessoas podem estar te ouvindo como devoção, mas simplesmente não é a coisa de fato. Cedo ou tarde, quando tuas próprias ações contradizerem os ensinamentos, sentirás vergonha. Apenas jogando palavras pela boca, dando explicações do dharma que parecem tão eloqüentes - Esqueça-as! Quando tu não tens um texto, anseias por ele... Então quando finalmente o consegue, dificilmente o examinas de fato. O número de páginas parece adequadamente pequeno, mas é um pouco difícil encontrar um tempo para copiá-las todas. Assim... Mesmo que tu copiastes todos os textos de dharma do mundo, não estarias satisfeito. Copiar textos é uma perda de tempo (A não ser que sejas pago). Então, esqueça isto! Hoje, estão felizes como ostras - Amanhã, estão furiosas. Com todos seus humores negros e brancos, as pessoas nunca estão satisfeitas. Mesmo se são realmente boas, podem não aparecer quando tu realmente precisa delas, te desapontando ainda mais. Toda essa polidez, mantendo um tratamento cortês - Esqueça-a! O trabalho mundano e religioso é a providência dos homens de bem. Patrul, velho garoto - isto não é para ti. Não percebestes o que sempre acontece? Como um velho touro, assim que tu te dás o trabalho de aborrecê-lo pelos seus serviços, parece não ter nenhum desejo restante (Exceto voltar a dormir). Sê assim - sem desejos. Apenas durma, coma, mije, cague. Não há nada além disso a ser feito na vida. Não te envolvas com outras coisas: elas não são o ponto. Mantenha-te discreto! Durma. No universo tríplice quando és menor que teu companheiro deves tomar o assento mais baixo. Caso aconteça de seres o superior ali, não te tornes arrogante. Não há necessidade alguma de ter amigos íntimos... Está melhor apenas manter-se consigo mesmo. Quando não tens nenhuma obrigação religiosa ou mundana, não permaneça ansiando adquirir alguma! Se abandonares tudo - tudo, tudo... Este é o ponto!

(Patrul Rinpoche (1808-1887) foi o mestre Dzogchen errante da virada do século, amado por seu povo. Ele era famoso como o vagabundo iluminado.)

SEDE DO INFINITO


Tenho sede...
Mas tudo que a normose me oferece para beber
é um copo d´água salgada, com o propósito
de deixar-me ainda mais sedento.
Somente o Infinito
pode saciar minha infinta sede de Infinito.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

ALUCINAÇÃO



Adaptei essa letra de uma canção de Belchior chamada "Alucinação", para torná-la pessoal.

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Em nenhuma religião
Em nenhum dogma
Em nenhuma crença

Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Para tornar minha máscara mais satisfatória
Para agradar a multidão

Não estou interessado em
Em política, tv
Ou oba oba, ou o que dizem os jornais
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais...

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais

A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...

Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais

Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...
Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais

A violência da noite
O movimento do tráfego

Me interesso pelos meus filhos
Um é Policial Civil
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida

Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...

Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nenhuma religião
Nenhum dogma
Nenhuma crença
Nem no algo mais

Longe o profeta do terror
Longe o pecado e sua culpa
O medo
Que os religiosos anunciam

Amar e mudar as coisas

Me interessa mais
Amar e mudar as coisas

Amar e mudar as coisas

Me interessa mais...
Combater a ignorância
E a hipocrisia

Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite

Políticos: cheiram a cachorros sujos
Hipócritas: que jogam pedras e escondem as mãos
Ou dinheiros na cueca

Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Mudara mim mesmo











segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

TRIBALISTAS

Não quero ter certeza
Não quero ter juízo nem religião
já não entro em questão
Não entro em doutrina, em fofoca ou discussão

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Tríade, trinômio, trindade, trímero, triângulo, trio
Trinca, três, terno, triplo, tríplice, tripé, tribo

Os tribalistas já não querem ter razão
Não querem ter certeza
Não querem ter juízo nem religião

Os tribalistas já não entram em questão
Não entram em doutrina, em fofoca ou discussão
Chegou o tribalismo no pilar da construção

Pé em Deus e na Taba
Pé em Deus e Fé na Taba

Um dia já foi chimpanzé
Agora eu ando sob um pé
Dois homens e uma mulher
Arnaldo, Carlinhos e Zé

Os tribalistas saudosistas do futuro
Abusam do colírio e dos óculos escuros
São turistas assim como você e seu vizinho
Dentro da placenta do planeta azulzinho

Pé em Deus e Fé na Taba
Pé em Deus e Fé na Taba

Um dia já foi chimpanzé
Agora eu ando sob um pé
Dois homens e uma mulher
Arnaldo, Carlinhos e Zé
Dois homens e uma mulher
Arnaldo, Carlinhos e Zé
Um dia já foi chimpanzé
Agora eu ando sob um pé

Pé em Deus e Fé na Taba
Pé em Deus e Fé na Taba

O tribalismo é um anti-movimento
Que vai se desintegrar no próximo momento
O tribalismo pode ser e deve ser o que você quiser
Não tem que fazer nada basta ser o que se é
Chegou o tribalismo, mão no teto e chão no pé

(Tribalistas Música: Tribalistas Álbum: Outros...)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Don Juan


"Quanto mais peso as pessoas acumulam, mais importantes elas se sentem, e menos ações elas executam."

CASTANEDA - Eu cumpro minhas tarefas tão fluidamente que elas não me afetam em termos de auto-importância, mas sim em termos de como vivo minha vida. Conheço dúzias de "professores" que se colocam numa torre de marfim de conhecimento: eles sabem tudo, e comandam o espetáculo para as galerias; quanto mais aclamados, ou quanto mais reconhecimento eles recebem, mais auto-importantes se sentem, mas esta mesma auto-importância se torna peso, a cruz a ser carregada, e eles como pessoas não são nada. O trabalho as afeta em termos de auto-importãncia, mas não em termos de vida pessoal. A mim o trabalho afeta em termos de vida pessoal, mas não de auto-importância. Don Juan me alertou e aconselhou que nunca me tornasse um pavão, "pavo real", que é o resultado à ênfase da importância pessoal. Quanto menos a pessoa pensa e "pseudo-age" em termos de auto-importância ela se torna mais completa. E quanto mais auto-importante se sente, mais incompleta se torna. O ser incompleto nasce da incessante procura por reconhecimento social.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

TRANQUILO



Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo
Não tenho medo do mundo
Não vou me preocupar
Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo
Não tenho medo da morte
Não vou me preocupar
Que passe por mim a doença
Que passe por mim a pobreza
Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença
Que passe por mim olho grande
Que passe por mim a má sorte
Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância
Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo
Que me passe
A doença que me passe
A pobreza que me passe
A maldade que me passe
Olho grande que me passe
A má sorte que me passe
A inveja que me passe
A tristeza da guerra
Tranqüilo


(Thalma de Freitas - Composição: Kassin)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


PORQUE É SEMPRE DE NÓS QUE NOS SEPARAMOS QUANDO DEIXAMOS ALGUÉM.


(Esse é meu pai junto a mim e minha irmã, no seu aniversário de 89 anos no dia 11 de Outubro de 2009. Dezoito dias depois ele faleceu. Obrigado pai.)

TENHO PASSADO POR MUITOS CANSAÇOS...


Tenho passado por muitos cansaços
Cheios de vagas esperanças de um futuro qualquer
Tenho dormido muitas vezes
Ao relento de todos os sonhos...
Tenho sido inútil, fruste, incongruente
Como isso que está aí fora e é a vida
Tenho sido estes nadas fúteis.

Eras tu, eras tu, aquela que sempre amei!
Mas não sabia o teu nome - sei-o agora.
Mas não sabia como eras - sei-o agora...

Já te conheço melhor, mas não estou mais perto de ti.

Perco-te mais porque te conheci.

DE REALMENTE MEU SÓ TENHO EU.

"Outrora eu, que era anônimo e prolixo
(Dois adjetivos que há muito sigo)
Amei por ter um coração amigo.
Amo hoje o que amo só porque o persigo."

(Álvaro de Campos)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Escolha uma alternativa

Há vidas que busco conhecer. Medi todas as religiões e todas as filosofias. E então cheguei a seguinte conclusão sobre tudo:

"Neste mundo só temos duas alternativas: oferecemos nosso amor ou projetamos nosso medo".

Eu disse que são só DUAS alternativas.

(Paulo Cesar de Oliveira)
Você conhece tanta coisa.
A tua biblioteca pessoal tem mais de três mil livros.
Você fez tantos cursos, estudou tanto...

Você só não conhece a si mesmo.


(Paulo Cesar de Oliveira)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Nas igrejas, nas sinagogas e nas mesquitas buscam refugio os que temem o inferno. Mas o homem que conhece os segredos de Deus não cultiva no seu coração as sementes do medo e da súplica".

(Omar Kháyyám)